«A crise do Estado é geral. Não há nada que escape e ninguém que não se queixe e se lamente. O país não chegou aqui por acaso ou por distracção de um ou dois governos. Foi precisa uma longa persistência no erro e um desprezo perverso pelos problemas que se iam acumulando, ou agravando, de ano para ano, como se tudo estivesse bem e no bom caminho. Não existe um partido, um político, um ministro, um autarca que se possa considerar inocente do que se passa hoje. O défice e a dívida são um sintoma, não são uma causa. O regime fabricou um Estado inviável, com o dinheiro que não tinha, ou esperança de vir a ter, para cumprir promessas que sabia de ciência certa pura fantasia ou puro cinismo. O momento do ajuste de contas, no sentido metafórico e literal, devia ser, fatalmente, duro.
(…)
O vácuo ideológico e programático do poder, quase absoluto, impede evidentemente qualquer reforma substancial e durável. Se por muita sorte escaparmos desta, ficamos prontos para a próxima. Embora espremido, e dorido, Portugal não mudou. Uma óptima oportunidade que se perdeu.»
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