domingo, 29 de outubro de 2006

PROPONHO UM EXERCÍCIO TEÓRICO


Vamos supor uma estrada a que atribuo um valor de cem mil contos, apenas para poder atribuir, proporcionalmente, valores a outras operações relacionadas. E tudo num quadro sem inflações, para não ter de entrar com grandes cálculos financeiros e económicos de que não sou mestre.
Posto isto passemos ao exercício.
Uma estrada de custo de cem mil contos. Necessitaria de uma manutenção anual de dois mil contos e, em cada dez anos, uma manutenção extraordinária de vinte mil contos. O que daria que, se não houvesse aumento de tráfego rodoviário que justificasse uma expansão, a estrada se mantivesse sempre operacional nas devidas condições.
Mas a realidade em Portugal daria outras contas. Primeiro não custaria cem mil contos,mas sim uns 130 mil contos, porque há as comissões a que as construtoras estão sujeitas pela benesse da adjudicação, que já subiu de 3% para 5%, e por isso se defendem na “derrapagem” dos custos, onde incluem as moras nos pagamentos das tranches.
Depois nunca se orçamenta e se gasta dinheiro nas pequenas manutenções. Há que aplicar noutros foclores, porque para o “povo”. Logo a estrada começaria a deteriorar-se em progressão geométrica, o que levaria a que no sexto ano de vida tivesse de ter uma intervenção de manutenção de 50 mil contos. Se tivesse tido uma manutenção normal o custo no décimo ano seria de 40 mil contos. Mas há que contar também com os prejuízos que todas as viaturas que por lá circulariam iam sofrendo por utilizar a estrada. E também contar com o prejuízo sofrido pelo que ficaria por fazer, porque como não orçamentavam nada para a manutenção, quando fosse inevitável fazê-lo, iriam tirar dinheiro que estava orçamentado para outra função qualquer, prejudicando esses objectivos.
Tudo isto resultaria numa conjugação de prejuízos que, normalmente, não vejo contabilizados.
Isto não passa de um mero exercício teórico, mas com certeza reflecte como em Portugal se gere mal a res publica, ou seja, a coisa pública.

1 comentário:

PAH, nã sei! disse...

Boas noites!! (desde ontem ;)

Ao ler o seu "post", não pude deixar de me reportar a um texto escrito por um aluno meu... (espero que se divirta tanto, quanto me diverti a ler esta pequena pérola...)

"A verdade é que Portugal é o país do desenrasca e isso nunca irá mudar…
- É automóveis sem inspecção, porque o motor é complicado… é pessoas sem carta de condução, porque ainda dá trabalho saber o mínimo do código da estrada… e para ir de casa ao fundo da rua, é um desenrasca…. É o pessoal das confeitarias a apagar as datas das amêndoas… só para desenrascar mais um stock… é registadoras sem factura, porque é difícil meter o rolo de papel dentro da máquina… e o pior é que ninguém é multado por isto! … E para quê? perguntam vocês! Para desenrascar…
Multas… pensam que é fácil para um polícia português anotar um segmento de 2 pares de números e 1 de letras… ainda por cima esses números estão sempre a mudar… agora até as letras passam para o início da matrícula… È complicado…
Por acaso verifiquei isso à pouco tempo…
Há dias um polícia ia multar um cidadão ucraniano, então chega ao pé dele pergunta-lhe o nome. E ele disse Sebrevsky Ibrasmonobsky.
Pergunta 2ª vez e ele diz Sebrevsky Ibrasmonobsky e aí o polícia diz… bem por esta vez passa, mas para a próxima
Tenha cuidado, porque um colega meu pode ter dicionário e vai ser complicado…

Um dos problemas é que se tornou um vicio… tipo fumar, a maioria das pessoas hoje em dia, recorre ao desenrasque.
Porque tudo que não seja feito às três pancadas… demora muito tempo e parece um bocado mal ou é aborrecido … O teatro é feito às 3 pancadas… Molière era um visionário! …

-Não sei se reparam, mas até nas obras que são feitas… normalmente agora estas passam por três fases… Principalmente no que toca a construção de estradas… ou até mesmo no caso das obras do metro… eu sei porque eu tive lá na primeira fila a assistir… moro na avenida… se é desenhado por engenheiros tem todo o perfil de um plano científico…

- Chegam os operários, reúnem-se uns sete ou oito a olhar para
a obra e dizem… “bem, temos que esburacar isto tudo”.

Começam, e está na hora do almoço depois passado uma semana como a obra está no mesmo sítio e já devia estar acabada, toca a desenrascar umas horas extra e assentar
Tudo à pressa para ficar pronto a tempo.

E é aqui que começa a 2ª fase… que é a fase em que os electricistas chegam e perguntam… onde é que está a entrada para os cabos eléctricos e para as caixas de alta tensão? Não estão… toca a levantar a obra toda outra vez para fazer instalações em condições… os prédios a tremer… os semáforos a abanar… é uma festa!!!

-E é este pequeno acontecimento que cria a 3ª fase ou “pancada” como lhe queiram chamar…

-Os electricistas tiram todos os objectos metálicos antes de mexer com alta tensão… tiram os brincos… tiram as alianças… os Africanos tiram os dentes de ouro … e pousam nos onde calha… e depois com a pressa de acabar a obra vemos a 3ª fase que é a fase em que os electricistas se queixam aos operários… depois da obra já estar novamente pronta… “Onde é que está a minha aliança? … E aí depois de estar tudo pronto começam a trabalhar de noite e em conjunto para levantar a obra toda de novo e deixa-la como nova passado mais 15 dias …
Isto fora o tempo que demoram a encontrar os objectos…
Pronto é mesmo assim… o que é que se há-de fazer?..."
( "Aboute Portugale")