terça-feira, 31 de outubro de 2006

UM PAÍS MENOS ALEGRE

No "SOL", de 14.10.2006, por josé António Saraiva

«A atracção pela morte é um dos sinais da decadência. Portugal deveria estar, neste momento, a discutir o quê? Seguramente, o modo de combater o envelhecimento da população. Um país velho é um país mais doente. Um país mais pessimista. Um país menos alegre. Um país menos produtivo. Um país menos viável - porque aquilo que paga as pensões dos idosos sãoos impostos dos que trabalham. Era esta, portanto, uma das questões que Portugal deveria estar adebater. E a tentar resolver. Como? Obviamente, promovendo os nascimentos
Isto é estratégico. Mas como eu venho dizendo, em Portugal nenhum governante tem uma visão de estratégia, nem sequer uma ideiazinha do que isso é.
E o meu amigo Pedro "N" diria que isso é um problema porque há muita mal amada. No que eu também concordo. Se ele fosse ouvido com mais atenção, poupava-se muito dinheiro e muita frustração.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

EXCEPÇÕES

Já repararam na percentagem de sinais de trânsito, de proibição, que têm acoplado uma tabuleta com excepções à proibição que ostentam? E se julgam que isto não tem nada a var com o país, enganam-se. Tem tudo. Um país onde nada se cumpre e nada é para cumprir.

domingo, 29 de outubro de 2006

PROPONHO UM EXERCÍCIO TEÓRICO


Vamos supor uma estrada a que atribuo um valor de cem mil contos, apenas para poder atribuir, proporcionalmente, valores a outras operações relacionadas. E tudo num quadro sem inflações, para não ter de entrar com grandes cálculos financeiros e económicos de que não sou mestre.
Posto isto passemos ao exercício.
Uma estrada de custo de cem mil contos. Necessitaria de uma manutenção anual de dois mil contos e, em cada dez anos, uma manutenção extraordinária de vinte mil contos. O que daria que, se não houvesse aumento de tráfego rodoviário que justificasse uma expansão, a estrada se mantivesse sempre operacional nas devidas condições.
Mas a realidade em Portugal daria outras contas. Primeiro não custaria cem mil contos,mas sim uns 130 mil contos, porque há as comissões a que as construtoras estão sujeitas pela benesse da adjudicação, que já subiu de 3% para 5%, e por isso se defendem na “derrapagem” dos custos, onde incluem as moras nos pagamentos das tranches.
Depois nunca se orçamenta e se gasta dinheiro nas pequenas manutenções. Há que aplicar noutros foclores, porque para o “povo”. Logo a estrada começaria a deteriorar-se em progressão geométrica, o que levaria a que no sexto ano de vida tivesse de ter uma intervenção de manutenção de 50 mil contos. Se tivesse tido uma manutenção normal o custo no décimo ano seria de 40 mil contos. Mas há que contar também com os prejuízos que todas as viaturas que por lá circulariam iam sofrendo por utilizar a estrada. E também contar com o prejuízo sofrido pelo que ficaria por fazer, porque como não orçamentavam nada para a manutenção, quando fosse inevitável fazê-lo, iriam tirar dinheiro que estava orçamentado para outra função qualquer, prejudicando esses objectivos.
Tudo isto resultaria numa conjugação de prejuízos que, normalmente, não vejo contabilizados.
Isto não passa de um mero exercício teórico, mas com certeza reflecte como em Portugal se gere mal a res publica, ou seja, a coisa pública.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

PAGADOR UTILIZADOR. HÁ DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS?

Rui Moreira escreve hoje um artigo no Público, aqui, onde me suscitou a questão do pagador utilizador. Ele terminou assim:

Fica a ideia que a decisão foi tomada porque promete um encaixe potencial de milhões para os cofres do Estado. Ora, se há um problema orçamental que limita o investimento público, é lícito perguntar por que é que este mesmo Governo insiste em obras faraónicas que não são sequer consensuais. Pior, fica-se com a ideia, numa altura em que as nossas contas públicas não as aconselham, que essas obras induzem esta política precipitada, que escapou a uma análise de custo e benefício global. É pena, porque a questão das Scut é séria e escuda-se no princípio tão em voga do utilizador-pagador que deveria suscitar, por uma vez, uma discussão profunda sobre as funções do Estado.

Ora eu ponho outra questão. A do pagador utilizador. Se os bem pensantes dos governos falam amiúde em utilizador pagador, eu, pensando bem, invoco o conceito de pagador utilizador. Se eu pago impostos para o Estado é para ser utilizador de serviços que o Estado me devia prestar. Se quem utiliza deve pagar, logo quem paga deve utilizar. Só que os melros dos governos entendem que devem ser utilizadores dos nossos dinheiros, mas que não nos devem prestar serviços, porque querem utilizar esses dinheiros em mordomias e prebendas, sem serem obrigados a prestar serviços. Entendem que o dinheiro dos impostos é para pagar ordenados e outras coisas lá à malta que vive do Estado e que o cidadão se quiser os serviços porque já pagou, o deve pagar novamente no acto da prestação do serviço. Dois pesos e duas medidas. Ai este país.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

PARA REFLECTIR PROFUNDAMENTE

António Barreto, no artigo " SEM FIM À VISTA",que escreveu para o Público, aqui, encerrou assim:

O Ministério da Educação e os sindicatos de professores são os maiores obstáculos e os mais temíveis inimigos da educação. Coligam-se de vez em quando e daí vem prejuízo para os estudantes e seus pais. Guerreiam-se a maior parte do tempo e daí resultam danos para os estudantes e seus pais. Enquanto estes adversários não destroçarem, não conheceremos progresso educativo e cultural.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

REPENSAR. REPENSAR

De uma amiga, no Brasil, recebi, por email, esta carta. E fiquei inquieto. Com a prestação das duas gerações que me precederam, com a minha e com as duas seguintes. Ainda estou a reflectir.

DIGA NÃO A REELEIÇÃO


CARTA PARA O CHICO BUARQUE
28.10, 0h - sugestão para repetir neste dia
por José Danon, no Estadão

Chico, você foi, é e será sempre meu herói. Pelo que você foi, pelo que você é e pelo que creio que continuará sendo. Por isso mesmo, ao ver você declarar que vai votar no Lula "por falta de opção", tomei a liberdade de lhe apresentar o que, na opinião do seu mais devoto e incondicional admirador, pode ser uma opção.

Eu também votei no Lula contra o Collor. Tanto pelo que epresentava o Lula como pelo que representava o Collor. Eu também acreditava no Lula. E até aprendi várias coisas com ele, como citar ditos da mãe. Minha mãe costumava lembrar a piada do bêbado que contava como se tinha machucado tanto.
Cambaleante, ele explicava: "Eu vi dois touros e duas árvores, os que eram e os que não eram. Corri e subi na árvore que não era, aí veio o touro que era e me pegou." Acho que nós votamos no Lula que não era, aí veio o Lula que era e nos pegou.

Chico, meu mestre, acho que nós, na nossa idade, fizemos a nossa parte. Se a fizemos bem feita ou mal feita, já é uma outra história. Quando a fizemos, acreditávamos que era a correta. Mas desconfio que nossa geração não foi tão bem-sucedida, afinal. Menos em função dos valores que temos defendido e mais em razão dos resultados que temos obtido. Creio que hoje nossa principal função será a de disseminar a mensagem adequada aos jovens que vão gerenciar o mundo a partir de agora. Eles que façam mais e melhor do que fizemos, principalmente porque o que deixamos para eles não foi grande coisa.
Deixamos um governo que tem o cinismo de olimpicamente perdoar os
companheiros que erraram" quando a corrupção é descoberta.

Desculpe, senhor, acho que não entendi. Como é, mesmo? Erraram? Ora, Chico.
O erro é uma falha acidental, involuntária, uma tentativa frustrada ou malsucedida de acertar. Podemos dizer que errou o Parreira na estratégia de jogo, que erramos nós ao votarmos no Lula, mas não que tenham errado os zésdirceus, os marcosvalérios, os genoinos, dudas, gushikens, waldomiros, delúbios, paloccis, okamottos, adalbertos das cuecas, lulinhas, beneditasdasilva, burattis, professoresluizinhos, silvinhos, joãopaulocunhas berzoinis, hamiltonlacerdas, lorenzettis, bargas, expeditovelosos, vedoins,
freuds e mais uma centena de exemplares dessa espécie tão abundante, desafortunadamente tão preservada do risco de extinção por seu tratador.
Esses não erraram. Cometeram crimes. Não são desatentos ou equivocados. São criminosos. Não merecem carinho e consolo, merecem cadeia.

Obviamente, não perguntarei se você se lembra da ditadura militar. Mas perguntarei se você não tem uma sensação de déjà vu nos rompantes de nosso presidente, na prepotência dos companheiros, na irritação com a imprensa quando a notícia não é a favor. Não é exagero, pergunte ao Larry Rother do New York Times, que, a propósito, não havia publicado nenhuma mentira. Nem mesmo o Bush, com sua peculiar e texana soberba, tem ousado ameaçar jornalistas por publicarem o que quer que seja. Pergunte ao Michael Moore. E
olhe que, no caso do Bush, fazem mais que simples e despretensiosas alusões aos seus hábitos ou preferências alcoólicas no happy hour do expediente.

Mas devo concordar plenamente com o Lula ao menos numa questão em especial:
quando acusa a elite de ameaçá-lo, ele tem razão. Explica o Aurélio Buarque de Hollanda que elite, do francês élite, significa "o que há de melhor em uma sociedade, minoria prestigiada, constituída pelos indivíduos mais aptos"
Poxa! Na mosca. Ele sabe que seus inimigos são as pessoas do povo mais informadas, com capacidade de análise, com condições de avaliar a eficiência e honestidade de suas ações. E não seria a primeira vez que essa mesma elite faz esse serviço. Essa elite lutou pela independência do Brasil, pela República, pelo fim da ditadura, pelas diretas-já, pela defenestração do Collor e até mesmo para tirar o Lula das grades da ditadura em 1980, onde
passou 31 dias. Mas ela é a inimiga de hoje. E eu acho que é justamente aí que nós entramos.

Nós, que neste país tivemos o privilégio de aprender a ler, de comer diariamente, de ter pais dispostos a se sacrificar para que pudéssemos ser capazes de pensar com independência, como é próprio das elites - o que, a propósito, não considero uma ofensa -, não deveríamos deixar como herança para os mais jovens presentes de grego como Lula, Chávez, Evo Morales, Fidel - herói do Lula, que fuzila os insatisfeitos que tentam desesperadamente escapar de sua "democracia". Nossa herança deveria ser a experiência que acumulamos como justo castigo por admitirmos passivamente ser governados pelo Lula, pelo Chávez, pelo Evo e pelo Fidel, juntamente com a sabedoria de poder fazer dessa experiência um antídoto para esse globalizado veneno.
Nossa melhor herança será o sinal que deixaremos para quem vem depois, um claro sinal de que permanentemente apoiaremos a ética e a honestidade e repudiaremos o contrário disto. Da mesma forma que elegemos o bom, destronamos o ruim, mesmo que o bom e o ruim sejam representados pela mesma pessoa em tempos distintos.

Assim como o maior mal que a inflação causa é o da supressão da referência dos parâmetros do valor material das coisas, o maior mal que a impunidade causa é o da perda de referência dos parâmetros de justiça social. Aceitar passivamente a livre ação do desonesto é ser cúmplice do bandido, condenando a vítima a pagar pelo malfeito. Temos opção. A opção é destronar o ruim. Se o oposto será bom, veremos depois. Se o oposto tampouco servir, também o destronaremos. A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotar-se na memória de nossas novas gerações.

Aí, sim, Chico, acho que cada paralelepípedo da velha cidade, no dia 29 de
outubro, vai se arrepiar.

Seu admirador número 1,

Zé Danon


José Danon é economista e consultor de empresas

domingo, 22 de outubro de 2006

AINDA O DEBATE SOBRE O IBERISMO

O Público de hoje dá um grande espaço à questão da União Ibérica. O debate anda por aí. A ler com muita atenção. De todos os artigos publicados hoje, destaco o trecho final de um, «CONTRA "Com a Catalunha já temos que chegue"», da autoria de K.G.:

Juntar Portugal ao mapa seria complicar ainda mais uma Espanha que já é complicada. E, sobre isso, Miguel Ángel Bastenier, do El País, só tem uma coisa a dizer: não, gracias. "Com a Catalunha já temos que chegue."Melhor seria que os espanhóis descobrissem, primeiro, quem são. Ramon Font diz que a autodefinição nacional "coloca grandes problemas do foro psiquiátrico". Não faltam reflexões em torno desse tema obsessivo, mas ninguém parece ter uma resposta para a pergunta: "O que é ser espanhol?". Portugal, dizem, tem uma relação mais saudável "com a pátria". "Para começar, Portugal é um país homogéneo, toda a gente fala português, ninguém fala basco e catalão, felizmente", diz Bastenier. "Os espanhóis ainda não decidiram o que são, o que é uma grande vergonha. E Portugal viria dividir ainda mais Espanha. Porque se acrescentava outra Catalunha. O que temos já é insuportável, não nos deixam viver. E eu sou de Barcelona, falo catalão, mas sou espanhol, caramba! Costumo dizer que se Espanha não tivesse esses problemas havia de ganhar muitos prémios Nobel, de ciência e de medicina. Mas estamos o dia todo ocupados com esta seca da Catalunha e do País Basco e não podemos dedicar-nos a nada! À literatura sim, porque a literatura nasce da dor. Assim sendo, Espanha tem uma grande literatura, como tem Portugal... Mas a ciência precisa de tempo livre. Por isso, Espanha tem uma grande literatura e uma merda de ciência."

UM RETRATO POSSÍVEL DE PORTUGAL

Entre outros retratos é o que nos é dado pela juventude. A actual juventude, na sua quase totalidade, ambiciona ser jogador de futebol, actor de telenovela ou cantor de sucesso. São os horizontes que alcançam. Todos a imitar a Floribella, ou lá como se chama a miúda, a irem a tudo o que é concurso idiota para exibirem os dotes, e escolas de futebol que garantam o estrelato internacional. E a satisfazerem o orgulho dos pais, sentados nas bancadas, com os óculos de sol no alto da tola. Portugal ainda vai estar nos lugares de destaque nos pódios.

sábado, 21 de outubro de 2006

A EUROPA COMEÇA EM ESPANHA

Basta pensar em Portugal. Como nenhum outro factor, a posição periférica de Portugal determinou o atraso e a semibarbárie em que sempre vivemos. Mesmo hoje o essencial não mudou. Se dantes se costumava dizer que a Europa começava nos Pirenéus, começa agora, para nossa desgraça, na fronteira de Espanha. A mais longa ditadura do Ocidente, o mais velho império colonial, a anacrónica extravagância do PREC e o Estado corporativo e parasitário que a democracia produziu deviam ter educado uma geração. Não educaram.
VPV, no Público de ontem.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

DESEMPREGADOS. OS QUE DIÁRIAMENTE SÃO A PROVA QUE DESMENTE O DISCURSO OFICIAL E O CRAVO NA CONSCIÊNCIA DOS REINVIDICADORES ACONCHEGADOS NA SEGURANÇA D


Do artigo publicado, aqui, no Público, hoje, de Carla Machado, destaco:



O Francisco foi despedido da empresa onde trabalhava.
(…)

O Francisco viu-se na rua, com uma magra compensação pelos seus muitos anos de trabalho. Inicialmente não se preocupou em demasia. Afinal, tinha experiência, formação, excelentes cartas de recomendação. E, sobretudo, era bom no que fazia.
Bateu a várias portas mas, estranhamente, poucas se abriram.
(…)
Até que um dia, com um olhar compadecido, uma das responsáveis pela selecção de uma das inúmeras empresas a que já tinha ido - jovem, tão jovem que mal parecia saída do secundário -, acabou por lhe confessar: "Sabe, não é nada contra si, nem tem nada a ver com o seu currículo. É que o doutor é... desculpe... demasiado velho! E as empresas não querem contratar gente da sua idade, que já tem experiência e normalmente exige melhores salários e mais direitos. Querem gente nova, que faz tudo para começar, mesmo que seja trabalhar 10 horas por dia quase de borla, está a entender?" Entendeu. E parou de procurar. Foi para casa, calçou os chinelos, sentou-se à frente da televisão.
(…)
O Francisco tem 37 anos. Estaremos mesmo preparados para o arrumar na gaveta dos desperdícios?

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

EM MARCHA PELA IBÉRIA

Actualizei o post "sobre o iberismo" que tinha colocado aqui. As sondagens de um lado e de outro, o que se tem escrito sobre o tema, bem como o desespero que graça em Portugal, levaram-me a incluir todo o artigo. Vão reflectindo.
Mas é bom estarem atentos a várias opiniões, sobretudo as espanholas. Aqui podem consultar algumas de um forum digital do "El Pais". Vejam esta: Podrían, pero no sería una alianza muy fuerte, más bien algo mediocre en comparación al resto de potencias y teniendo en cuenta que Portugal no pasa por su mejor momento que digamos. palermo

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

MODERNISMO

O modernismo antimoderno

«É necessário ser-se completamente moderno", escreveu Arthur Rim­baud. Uns sessenta anos mais tarde, Gombrowicz não estava muito certo de que isso fosse verdadeiramente necessário. Em Ferdydurke (editado na Polónia em 1938), a família Lejeune é dominada pela filha, uma «liceal moderna". É doida por telefones; ignora os autores clássicos; na presença do cavalheiro que se encontra de visita a casa, «limita-se a olhar para ele e, agarrando com os dentes uma chave de fendas que tinha na mão direi­ta, cumprimenta-o com a mão esquerda com a maior das desfaçatezes".
A mãe também é moderna; é membro do «comité para a protecção dos recém-nascidos»; é militante contra a pena de morte e pela liberdade dos costumes; «ostensivamente, com um passo desenvolto, dirige-se aos lavabos", saindo de lá «mais arrogante do que tinha entrado»; à medida que vai envelhecendo, a modernidade torna-se para ela indispensável enquanto única «substituta da juventude".
E o pai? Também ele é moderno; não pensa nada, mas faz por agra­dar em tudo à filha e à mulher.
Gombrowicz reflectiu em Ferdydurke a principal viragem que se pro­duziu durante o século xx: até essa altura, a humanidade estava dividida em duas partes, os que defendiam o status quo e os que o queriam mu­dar; ora, a aceleração da História teve as suas consequências: ao passo que, antigamente, os homens viviam no mesmo cenário de uma sociedade que se ia transformando muito lentamente, chegara entretanto o momen­to em que, de repente, eles começaram a sentir a História movimentar-se sob os seus próprios pés, como se fosse um tapete rolante – o status quo encontrava-se em movimento! De imediato, estar de acordo com o status quo era a mesma coisa do que estar de acordo com a História que se movimenta! Resumidamente, passou a poder ser-se ao mesmo tempo progressista e conservador, conformista e revoltado!
Tendo sido apelidado de reaccionário por Sartre e os seus, Camus encontrou a célebre resposta para aqueles que tinham «colocado a poltrona na direcção da história»; Camus estava certo, somente não sabia que essa preciosa poltrona estava montada sobre rodas e que, desde já há uns tempos a essa parte, toda a gente empurrava para a frente os liceais modernos, as suas mães e os seus pais, da mesma maneira que todos os que se batiam contra a pena de morte, todos os membros dos comités para a defesa dos recém-nascidos e, claro está, todos os políticos que, ao empurrarem a poltrona, viravam as suas faces risonhas na direcção do povo que corria atrás deles e que, por sua vez, também ia rindo, sabendo perfeitamente que só aqueles que se regozijam por serem modernos é que são autenticamente modernos.
Foi então que alguns dos herdeiros de Rimbaud compreenderam esta coisa espantosa: hoje em dia, o único modernismo digno deste nome é o modernismo antimoderno
.
Milan Kundera, in "A Cortina".

VAI-SE DIZENDO

«Não se trata aqui de "ameaças". O resto do mundo não forma simplesmente um bloco antiocidental. O que está a acabar é o tempo em que os ocidentais eram os únicos a crescer, a desembarcar e a ensinar - o tempo em que a responsabilidade pelo mundo era nossa. Os hábitos, porém, não morrem facilmente. Dá-nos sempre jeito reduzir as dificuldades do universo às "idiotices" de Bush, às provocações do Papa ou até às reencarnações exóticas do velho marxismo. Sem Bush, o Papa ou os nossos radicalismos universitários, tudo andaria excelentemente. Eis a receita para dormir bem. Por quem os sinos dobram

Rui Ramos, in Público, hoje, aqui.

«A incriminação do chamado "negacionismo" é uma estupidez e uma violência. Atinge a liberdade de pensamento e de expressão no seu próprio cerne e provoca uma inaceitável interferência da política sobre a História

Vasco Graça Moura, in DN, hoje, aqui.


«O aumento de impostos do ano passado foi um erro tremendo para a economia; a vertente da competitividade na política fiscal tem estado absolutamente ausente das opções de política (outro erro crasso); a contenção na despesa pública tem sido inexistente e, na parte em que tem existido é, em grande medida, feita à custa do investimento; a descida do défice baseia-se mais na subida da receita do que na redução da despesa; consolidação da despesa é algo que, virtualmente, não existe – nem poderia existir, face a anúncios de medidas (de que sobressaem o PRA-CE e o Simplex) que, depois, não só têm (muitas) partes não concretizadas, como as que o são, são-no tardiamente e fora do calendário inicialmente previsto.
(...)
Existem cerca de 740 mil funcionários públicos em Portugal. E o peso das suas remunerações no PIB equivale a mais de 14% – número que compara com menos de 10% em Espanha, na Irlanda ou na Áustria, 10% na Holanda, pouco mais de 12% na Grécia, ou menos de 11%, em média, na União Europeia.
A conclusão óbvia é que o peso das remunerações dos funcionários públicos na nossa economia é excessivo, comparando com os padrões europeus. E se é excessivo, pode ser reduzido actuando nas duas vertentes que existem: no "preço" (neste caso, os salários) e/ou na "quantidade" (o número de funcionários)

Miguel Frasquilho, in Jornal de Negócios, 17.10.2006, aqui.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

O VÉU DA IGNORÂNCIA

«Para tornar a situação internacional ainda mais preocupante, do ponto de vista da paz e segurança, do que resulta dos factos que podem ser dados por fiáveis, cresce a preocupação sobre a cortina de ignorância que vai sendo tecida em mais de um domínio das relações internacionais, e que corta o acesso das populações interessadas ao conhecimento da realidade
A Ler todo o artigo de Adriano Moreira, Hoje, aqui no DN.

MICROCREDITOS Y ECONOMIA DE LA POBREZA

Do blog de Jorge Rojas transcrevo, sempre com a devida vénia, este post:
«MICROCREDITOS Y ECONOMIA DE LA POBREZA
Ayer se entregó el Nobel de la Paz a Muhammad Yunus economista de Blangladesh creador de Grameen un banco que otorga microcreditos a pobres.La idea se ha extendido por tdo el mundo,màs bien por el 3er mundo.Presta 25 US a una mujer o un hoimbre(la mayoria de las usuarias son mujeres).Esto soluciona el problema?Polemico el punto.La idea la han tomado Instituciones de credito o ONG de todo el mundo.Una critica es que es un medio del sistema financiero para incorporar millones de personas a este aumentando la ya enorme economia informal.Otra,que es un alivio,loable pero que deja igual y sin tocar las causas estrcturales de la pobreza.En Haiti hay una experienciadescrita en Global Exchange conclusion solo es alternativa para la capa superior de los pobres,para los extremadamente pobres es una carga y simplemente no pueden pagar.La experiencia que fué exitosa en las ciudades,se extendió al campo.Aqui es exito es relativo.Primero los riesgos son mayores,luego aqui no funciona el corto plazo porque la naturaleza tiene sus tiempos,pueden ser decadas.Otra lo que necesita un agricultor no es un microcredito es un buen credito.Luego está toda la distorsion del mercado agricola mundial.Por eso la solucion a la pobreza que es 70% rural es màs compleja sobre todo enAmerica latina con una inequidad tan grande en la distribucion de la escasa tierra agricola.Pese a todo aliviar es mucho mejor que no hacer nada y el premio a Yunnus es merecido,ademàs que su lucha tiene no tiene que ver con luchas armadas sino tratar de hacer las paces entre ricos y pobres.Lo que no es facil

HÁ HORÁRIOS DE 40 HORAS SEMANAIS NA FUNÇÃO PÚBLICA?

Ou seja, de 8 horas diárias?
A propósito, leiam este artigo de Luísa Bessa publicado a 13 deste mês no Jornal de Negócios
«Quis o acaso, ou talvez não, que no mesmo dia em que desfilaram em Lisboa largos milhares de trabalhadores da função pública, tenha sido assinado um novo contrato colectivo no sector têxtil.
Com o acordo agora negociado entre uma das mais poderosas associações empresariais e a federação sindical da CGTP é a segunda vez, num ano, que o têxtil dá lições a muito boa gente.
Expliquemo-nos. Em Maio, a associação do vestuário já tinha assinado um acordo classificado como "histórico" com a mesma federação sindical. Histórico porque contemplava, pela primeira vez no sector, a possibilidade de alargamento da jornada semanal até às 50 horas com retribuição em tempo. Uma velha reivindicação das empresas que, cada vez mais obrigadas a trabalhar para encomendas pequenas, tinham necessidade de corresponder aos picos de trabalho sem o custo correspondente ao pagamento das horas extraordinárias conforme previsto na lei.
Seis meses mais tarde, a outra grande associação do sector, que reúne sobretudo a indústria têxtil pesada, acaba por justificar por que razão não chegou a acordo na mesma ocasião. É que, além do alargamento do horário semanal de trabalho até às 55 horas, também com a possibilidade de retribuição em tempo, obteve uma profunda reclassificação profissional dentro do sector. As categorias profissionais reduziram-se de mais de 700 para meia centena. Um ajustamento notável, que diz bem do que mudou no mundo das empresas no espaço de quase 30 anos, pois que a anterior classificação datava de 1977. E mantinha-se em vigor apesar da verdadeira revolução tecnológica que aconteceu entretanto.
A obtenção destes acordos, duramente negociados ao longo de vários meses, dizem-nos várias coisas importantes.
Uma delas é que mesmo os sindicatos da "linha dura", como são tradicionalmente os da CGTP e em particular nestes sectores, são capazes de revelar grande flexibilidade quando percebem que têm de o fazer para garantir os postos de trabalho. E isso é fácil de perceber num sector que ainda representa perto de 200 mil trabalhadores mas que, desde o ano 2000, perdeu cerca de 25%da sua força de trabalho. Não é todos os dias que ouvimos os sindicatos e os patrões unidos a clamarem pela "modernização" das empresas, mas foi isso que aconteceu.
Porque os representantes dos trabalhadores do têxtil sabem que a alternativa é continuar a assistir ao encerramento das fábricas e que, perante a concorrência acrescida da China e de outros países em desenvolvimento, a sobrevivência das empresas portuguesas passa por factores competitivos como as pequenas séries e a resposta rápida onde a flexibilidade é indispensável.
Se os trabalhadores do sector têxtil, que estão entre os que têm das mais baixas remunerações à escala nacional perceberam, porque é que outros não perceberam?
E, sobretudo, porque é que na Função Pública as coisas chegaram onde chegaram?
Descontando os erros de comunicação e um natural sentimento de revolta, por serem, há demasiado tempo, os bodes expiatórios do que corre mal no país, a
grande diferença entre os 700 mil da função pública e os 200 mil da têxtil é que uns sabem que têm emprego garantido para toda a vida e outros sabem que o podem perder a qualquer momento. São dois mundos (cada vez mais) de costas voltadas

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

IRRESPONSABILIDADE NA GOVERNAÇÃO

No Público de hoje, aqui, um artigo muito interessante de Paulo Ferreira de que destaco a parte final:
«E foram centenas de milhares de milhões de euros de privatizações canalizados para amortizar a dívida pública. Para que serviu tanto dinheiro? Para nada. Foi dinheiro queimado, triturado pela máquina infernal do Estado, pelas corporações e pela incompetência ou passividade de muitos governantes dos últimos dez anos.
Os 3,7 por cento de défice de que o Governo se orgulha para daqui a um ano estão ainda acima dos três por cento de 1997. E a dívida pública de 69,3 por cento prevista para 2007 compara com os 59,1 por cento de há dez anos...Foi uma década absolutamente perdida. A próxima será melhor? Não temos essa garantia. O discurso e o esboço reformista deste governo podem levar-nos, precipitadamente, a pensar que sim. Mas atenção: das mudanças estruturais iniciadas, que vão na direcção certa, nenhuma chegou a um ponto de não retorno. Nada de melhor está garantido, de forma consistente, para a saúde das finanças públicas nos próximos anos. Isso só será uma realidade quando os mecanismos em vigor forem à prova de fenómenos de irresponsabilidade na governação. E nessa matéria o país está no mesmo ponto em que se encontrava há dez anos. Continuam a sobrar, por isso, motivos de preocupação. »

domingo, 15 de outubro de 2006

E BARRANCOS?

Já tem melhores acessibilidades? Tem melhor acesso aos meios de saúde? Tem melhor Escola? Tem mais atenção do poder da Capital? Os “meninos” que faziam aquelas manifestações contra as touradas de morte também fizeram alguma manifestação para melhorar as condições das pessoas que lá vivem? Claro que nada. Deixou de ser mediático, deixou de ser politicamente correcto. Os patetas dos “meninos” só têm coragem e engenho para fazer umas palermices “politicamente correctas”, porque é chique e dá “status” no meio e covil onde se movem. As pessoas nunca lhes interessaram para nada. Nem as de Barrancos nem nenhumas. São só amantes de causas chiques onde intervêm como “marias” que vão com as outras.

SUPERFICIALIDADES

Do artigo do António Barreto, aqui no Público de hoje, destaco:
«Mas, com o tempo, tem-se também percebido que a técnica do primeiro-ministro se tem limitado ao superficial. Nunca ir até ao fim parece ser a sua regra. Ferir um pouco tudo e todos, mas nunca ir ao fundo das coisas, pois é aí que se fazem os inimigos irrecuperáveis. A actual reforma da Segurança Social, feita com vinte anos de atraso, é um exemplo interessante: foi obra das mesmas pessoas que, há meia dúzia de anos, fizeram uma outra, para Guterres e Sócrates, considerada suficiente para "cem anos"! É um bom exemplo do que é a superficialidade.
(...)
Mas esperemos. Dentro de pouco mais de um ano, com novas eleições à vista, veremos se até o efémero e a superficialidade são ou não sacrificados à demagogia. Como já aconteceu antes. Tantas vezes! »

sábado, 14 de outubro de 2006

SEM MOLA DE CARÁCTER OU DE INTELIGÊNCIA

Em Portugal há só um homem – que é sempre o mesmo ou sob a forma de dândi, ou de padre, ou de amanuense, ou de capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te ir: sem mola de carácter ou de inteligência, que resista contra as circunstâncias. É o homem que eu pinto – sob os seus costumes diversos, casaca ou batina. E é o português verdadeiro. É o português que tem feito este Portugal que vemos

Eça em carta a Fialho de Almeida.

Assim, Portugal é já mais compreensível.

ASTRONOMIA. UM SINAL POSITIVO

Não resisto a transcrever a notícia vinda no Público de ontem, porque há oásis no meio do deserto português:


«Astronomia portuguesa sofreu um Big Bang desde a década de 90
Teresa Firmino

Artigos publicados por astrónomos a trabalhar em Portugal têm mais citações do que a média mundial, revela estudo a apresentar hoje na Fundação Gulbenkian
Até 1990, a comunidade de astrónomos em Portugal praticamente não existia, ao ponto de nesse ano só ter publicado três artigos em revistas astronómicas internacionais. Dezasseis anos depois, vive-se uma espécie de Big Bang. O número de artigos publicados por ano oscila entre 72 e 74, desde 2003, revela um estudo que será apresentado hoje num encontro internacional na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.O número de artigos não chega para mostrar a evolução estrondosa, porque esses artigos poderiam não ter relevância. Há que ver o número de citações internacionais que cada artigo recebe em artigos de outros cientistas. A surpresa é que é superior à média mundial."O índice de citações dos artigos publicados por astrónomos e astrofísicos residentes em Portugal, portugueses e estrangeiros, é bastante elevado. Ultrapassa a média mundial", sublinha Miguel Avillez, presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia (SPA). "A nossa média é de 11,9 citações por artigo, enquanto a média mundial é de 10,8 citações por artigo."Neste estudo, a SPA contabilizou os artigos publicados nas revistas de astronomia e astrofísica mais importantes (Astrophysical Journal, Astronomical Journal, Astronomy & Astrophysics, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e Icarus). Viu que foram publicados 528 artigos, desde 1990, que foram citados 6313 vezes até ao último sábado, segundo os dados do Instituto para a Informação Científica (ISI), nos Estados Unidos, reconhecido como a referência para a recolha de dados sobre a produção científica mundial."Comparando com as outras áreas científicas, a astronomia e a astrofísica fica em terceiro lugar no índice de impacto por artigo, imediatamente atrás da biologia molecular e da imunologia", refere Miguel Avillez, baseando-se ainda nos dados do ISI. O número de artigos tem vindo a subir desde 1990, ano em que Portugal assinou um acordo de pré-adesão ao Observatório Europeu do Sul (ESO), organização europeia de astronomia com telescópios no Chile. "A partir de 1995, começou a haver para cima de 15 artigos por ano e veio a crescer até 74 artigos em 2003, mantendo-se agora estável", sublinha Miguel Avillez. O pico de citações foi em 2000, com 1140.Alguns factores são apontados para o Big Bang da astronomia portuguesa ou, nas palavras de Miguel Avillez, esta "evolução quase vertiginosa". "Foi fundamentalmente importante para o desenvolvimento da astronomia e astrofísica o acordo de pré-adesão ao ESO, que definiu a criação de um grupo de investigadores e financiamento para projectos e infra-estruturas." Por causa desse acordo, que se materializou na adesão de Portugal ao ESO como membro de pleno direito em 2000, a maioria dos astrónomos em Portugal foi fazer o doutoramento no estrangeiro. E teve acesso aos telescópios do ESO. A adesão plena de Portugal à Agência Espacial Europeia, em 2000, abriu por sua vez o mundo dos telescópios espaciais aos investigadores portugueses. Para Miguel Avillez, o tipo de atitude e de formação dos astrónomos também contribuiu para todos estes números. "O doutoramento é visto como um processo de aprendizagem e como o trabalho de toda uma vida, e as relações internacionais mantêm-se muito grandes."Ter começado uma área praticamente de raiz e ser uma comunidade muito jovem (a maioria com menos de 40 anos) também ajudou. "Não têm os vícios do sistema." Foi uma "surpresa", refere o cientista, ter ocorrido uma evolução tão rápida. "Quando o Estado português definiu a astronomia e astrofísica como áreas prioritárias, e injectou dinheiro, houve um crescimento muito rápido, em pouco mais de sete ou oito anos."Quantos são, afinal, os astrónomos a trabalhar no país? Cerca de 50: 28 com lugares permanentes em universidades e institutos politécnicos e cerca de 20 com uma situação precária de emprego (têm bolsas de pós-doutoramento). Estes dados, e outros, vão ser apresentados no encontro Astronomia e Astrofísica em Portugal - Impacto e Perspectivas Futuras. O caso português tem chamado a atenção no estrangeiro, razão por que será o presidente da Sociedade Europeia de Astronomia, Joachim Krautter, a relatar os dados do estudo sobre o impacto científico da astronomia portuguesa a nível internacional. Irão fazer parte do livro branco da astronomia portuguesa
. »

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

DOCUMENTÁRIO

Só para informar que já está disponível a votação online no festival de videojornalismo de berlim, no qual a Afterburn tem um documentário a concorrer, chamado "Maria". Para votar basta clicarem neste link
(é o 1º da lista), verem o filme e, se gostarem, é só clicar nas 5 estrelas que dizem public voting.
Mas sobretudo vejam o documentário. Vejam a Esperança.

AGUENTÁVEL

Aqui, no Público de hoje, de VPV. Destaco:

«As "reformas" que por aí se apregoam como exemplo de coragem política, além de impostas por Bruxelas, são "reformas" de superfície e, por natureza, reversíveis. Quando não há dinheiro, não há dinheiro e a "estratégia" de Sócrates não passa do reconhecimento desse facto básico. Sócrates nunca pensou em reduzir ou redefinir o Estado-providência que nos levou ao presente aperto e, tarde ou cedo, nos levará ao desastre. Pensou, e pensa, em o tornar mais barato. Um Estado-providência que gaste menos com a Segurança Social, a Saúde, a Educação e o funcionalismo é, supõe ele, aguentável. Será inevitavelmente um Estado-providência degradado e pobre. Não interessa. Basta que exista para o mundo continuar em ordem. Na "ordem" do "modelo europeu" e do "socialismo", como compete

PROBLEMA FUNDO

Hoje, aqui no Público, o artigo de Miguel Júdice de que destaco:

«Mas o problema é mais fundo e mais grave do que isso. Temos dois milhões de pobres em Portugal. Temos uma mentalidade assistencial que vem do Estado Novo. Temos uma cultura instalada quase até ao genes de que é inaceitável um novo emprego pior remunerado e mais duro do que o anterior. Os processos de deslocalização e a concorrência internacional vão acentuar-se. O Estado vai ter de despedir mais cedo ou mais tarde pessoas e, sobretudo, as câmaras vão deixar de ter condições para dar os empregos que a iniciativa privada não cria em muitas localidades. Onerar mais as empresas privadas só irá acentuar os problemas. E os recursos estatais são escassos, são escassíssimos, e cada vez o vão ser mais.Por isso Portugal está em face de um dilema estratégico, com importantes consequências políticas e fracturante em termos ideológicos: deve o Estado alocar recursos sociais orientando-os para a inclusão social dos sectores mais desfavorecidos, mais desprotegidos, mais carenciados e menos capazes de se organizarem para exigirem? Ou deve o Estado - por redistribuição, emprego garantido, reformas relativamente generosas - apoiar os sectores mais favorecidos dos desfavorecidos, os que atingiram a classe média e os prazeres a isso ligados, entre os quais se inclui grande parte do funcionalismo público administrativo?
(...)
Assobiar para o lado, pensar que miraculosamente a retoma económica vai decidir por nós, adiar para a geração seguinte, não leva a lado nenhum. Ou melhor: leva a um beco sem saída.»

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

IRREALISMO POLÍTICO

Hoje, aqui no Público, Medina Carreira mais uma vez põe a nu o estado do país. A ler obrigatoriamente. Mas aqui ficam alguns destaques desse artigo:


«É notória a gravidade da nossa crise financeira pública.
(…)
A uma economia em queda prolongada (2) correspondeu a explosão das despesas públicas. As consequências não poderiam ser diversas das que foram. Agora, já com mais de uma década de atraso, há que corrigir os efeitos deste irrealismo político. Porque os governos não são hoje capazes de provocar o crescimento económico, são mais responsáveis pela moderação dos gastos.
(…)
Sem a expectativa fundada de uma solução económica e de uma maior margem de manobra fiscal torna-se imperativa uma reforma profunda e urgente das políticas de despesas públicas. Tarde ou cedo o Estado enfrentará uma crise financeira séria, que os valores deficitários das projecções deixam entrever.
(…)
Por outro lado, a manutenção do regime da repartição, tal como se pretende, irá limitar-se a diferir novas crises e novas reformas: por cada uma, haverá novas injustiças e um maior descrédito para o sistema.
(…)
Não nos iludamos porque estamos numa situação em que vigora a "tirania das circunstâncias": é secundário se se é de direita ou de esquerda, liberal ou conservador, representante da economia de mercado ou do socialismo. O mais grave problema que enfrentamos hoje é o do Estado: não se sustenta com a economia que temos e outra é irrealizável em tempo útil. Resta repensá-lo e reorganizá-lo. Os números com que fundamento esta posição podem ser discutidos, sempre com outros números. Mas, em circunstâncias normais, não se afastarão muito da realidade. E eles indiciam a existência de sérias ameaças a que só os néscios e os irresponsáveis podem ser indiferentes. Seja como for, ninguém poderá dizer que a gravidade da situação escapou a todos

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

A CARICATA APREENSÃO DE ARMAS EM S. MIGUEL

E ridícula. É noticiada com imprecisões e com muitos exageros. O que é “habitual”. Como diz o lema deste blog, a mistura explosiva de ignorância e poder há-de explodir-nos na cara, de que é reflexo o citado “habitual”.
A notícia refere um coronel do exército, na reserva e ligado ao Museu Militar existente em Ponta Delgada.
Quero aqui afirmar que esse coronel é uma pessoa séria, honesta e íntegra. Sobre o carácter da pessoa é o que basta dizer.
E é alguém a quem a cidade de Ponta Delgada muito deve, nem que seja só pela criação do Museu Militar, que é, em última análise, a causa desta “apreensão de armas” e dos incómodos por que passa a pessoa em causa. É devido ao seu empenhamento, persistência e dedicação que o museu existe, o que enriquece em muito a cidade de Ponta Delgada, embora muita gente não se aperceba disso. Nesse seu empenho e gosto licenciou-se em História, a fim de melhor se habilitar para a tarefa que lhe consumia a paixão.
As armas apreendidas, umas manifestadas, e outras ainda não, são todas de colecção. O que era do domínio público, pois quem o conhecia e com ele lidava sabia da existência de “tal arsenal”. Incluindo oficiais e a sua hierarquia. “Tal arsenal” é museológico. Faz parte do seu percurso com a criação do museu, da sua consolidação e projecção ulterior. Não era de forma alguma para equipar nenhum gang, como aqueles que andam a assaltar à mão armada, e até a assassinar cidadãos, e cujos arsenais a polícia nunca apreende. Esses sim, não são museológicos, e servem para uso em fins ilícitos.
Também não seriam para nenhuma revolução. Não teriam sequer alcance para terem eficácia num levantamento armado.
Por tudo isto, e por ser do conhecimento informal dos seus superiores hierárquicos a existência dessas armas, considero a apreensão e detenção como caricatas. Terá havido, talvez, da parte do senhor coronel uma ingenuidade em, por um lado, não ter tratado mais cedo da questão burocrática da manifestação das armas, e isto apesar do prazo para se efectuar esse manifesto ainda estar a correr, e por outro o de não ter avaliado bem o alcance de algum “amigo de peito”.
Para concluir, e pela forma como isto foi tratado, gostaria de dizer que, na linha do post “ATÉ QUE ENFIM. UM BOM ARTIGO QUE PÕE O DEDO NA TECLA CERTA SOBRE A ROBLEMÁTICA DA POLÍCIA”, aqui colocado no passado Domingo, acho que está a haver uma inversão de valores. Parece que os cidadãos cumpridores dos seus deveres cívicos é que são os bandidos e os malfeitores as vítimas. Há sempre um tratamento jornalístico que põe os malfeitores como os coitadinhos, os polícias como carrascos, verdugos, e as vítimas, que não têm interesse nenhum, como necessárias para elevarem os malfeitores a anjinhos de altar. Há aqui algo muito errado nas “informações”.
Só espero que, quando esta agitação deste episódio terminar, e certamente que depois de tudo esclarecido e normalizado dará nada, as “informações” noticiem como deve ser o desfecho, seja ele qual for.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

E MAIS SOBRE CORRUPÇÃO

«O mal está na cumplicidade instituída entre o Estado e os "negócios", que ninguém acha criminosa e nunca aparece nos jornais.Quem observar a circulação de uma certa "classe" de "facilitadores" (um nome de resto abertamente usado) do Governo ou do partido para a banca ou para empresas que dependem do Estado ou são parcialmente do Estado e, em sentido contrário, do sector privado ou semiprivado para o Governo, percebe como, em grosso, as coisas funcionam. Não há segredo, nem mistério no caso. E, melhor ainda, não há qualquer ilegalidade visível. O ministro assina o despacho ou fabrica o decreto não para favorecer o banco A, ou o consórcio B ou a empresa C, mas porque de facto pensa que o despacho ou decreto são a única maneira de servir a pátria. Quem vai provar o contrário? E quem se vai sobressaltar se por acaso esse benemérito, devolvido à condição comum, receber do Estado uma enorme encomenda no escritório (se, por exemplo, for advogado) ou aparecer num conselho de administração qualquer? Não é o homem competente?Suponho que tudo isto, de uma maneira ou de outra, sempre aconteceu. Acontece com certeza nas democracias da "Europa": em Itália, claro, em França, em Inglaterra, em Espanha e por aí fora. Só que em Portugal esta espécie de corrupção chegou a um grau inaceitável. Não existe vigilância (uma verdadeira vigilância) nem do Estado, nem da concorrência (que também aproveita), nem dos media (que não investigam nada). A regra é a velha regra nacional do "quem apanhou apanhou e quem não apanhou que apanhasse". »
VPV, Público de 07.10.2006.

O DRAMA DOS AÇORES

Se alguém quiser entender o drama dos Açores, então leia a primeira página do Diário Insular de 07.10.2006.

SOBRE IBERISMO

Leiam o artigo, aqui no DN de hoje, de Santiago Petschen.


O iberismo
Santiago Petschen Prof. catedrático de Relações Internacionais na Univ. Complutense de Madrid
As relações históricas de Espanha e Portugal são caracterizadas por fortes contrastes. Por um lado, juntamente com a proximidade geográfica (âmbito peninsular, longa fronteira comum, partilha de grandes rios, base rural similar) aconteceu um forte paralelismo social e político. Devido a ele, Teófilo Braga, já no séc. XIX, descreveu o caminhar conjunto de Portugal e Espanha nada mais nada menos do que como fazendo parte da ordem natural das coisas. Por outro lado, estabeleceram-se entre os dois países enormes distâncias que chegaram até aos nossos dias.Há alguns anos, os investimentos espanhóis em Portugal e os portugueses em Espanha eram pouquíssimos. Os espanhóis eram superados inclusive pelos belgas, suecos e japoneses. E entre os produtos importados com alguma importância só figurava o leite, por ser necessário na Área Metropolitana de Lisboa. Agora, a Espanha exporta mais para Portugal do que para toda a América.A ordem natural a que levava a geografia foi distorcida pela geopolítica. O forte controlo da Grã-Bretanha sobre Portugal e o seu comércio e a existência do império colonial do país vizinho - condicionamentos relacionados entre si - causavam entre ambos os países um afastamento notório. Mas quando, em determinado momento histórico, a influência inglesa diminuiu devido às hostilidades entre britânicos e portugueses no Sul de África e as relações ficaram marcadas pelas divergências daí nascidas, o iberismo começou a florescer como criação portuguesa influente em Espanha.Um poeta como Antero de Quental esbanjou entusiasmo e engenho ao cantar as grandes criações daquilo a que ele chamou a raça ibérica: o seu espírito de independência, a sua oposição ao domínio romano, a sua capacidade de se libertar do jugo feudal, a realização de grandes epopeias oceânicas. E numa ordem negativa, para Quental, tanto os espanhóis como os portugueses se viram apanhados por um mesmo espírito de injustiça: a ambição da colonização.O iberismo desenvolvido em Portugal originou também um pensamento político. Teófilo Braga estabeleceu um plano concreto de Federação Ibérica em cuja construção a Espanha deveria aceitar condições importantes: organizar-se como República, dividir-se em territórios autónomos formando uma federação, admitir Portugal na dita federação, em que seria assim a maior e mais forte unidade do conjunto, estabelecer em Lisboa a capital da Federação Ibérica.Semelhante idealismo teria de ter a sua incidência na Catalunha. O poeta Joan Maragall, num artigo publicado em 1906 no Diario de Barcelona, disse que a natureza ibérica, pelo seu solo, pelo seu céu e pela sua gente, parecia a terra prometida para concretizar o ideal de um novo federalismo, já não só político como também humano no sentido mais profundo da palavra. Tempos depois, o jornalista Gaziel escreveu em 1963: "Poucas vezes a insensatez humana terá estabelecido uma divisão mais falsa. Nem a geografia, nem a etnografia nem a economia justificam esta brutal mutilação de um território único." E concretizou a dimensão política do seu pensamento, introduzindo a Catalunha nos afazeres da aproximação peninsular.Entrados os dois países na União Europeia, a geopolítica não só deixou de colocar obstáculos à aproximação mútua como em vez disso a impulsiona positivamente. Gaziel acertou na sua visão determinante da História: "Não serão as vontades dos homens mas sim as leis da História que irão alterar a actual estrutura da Península Ibérica." Afirmação que se concretiza nesta outra: "A melhor forma de esta evolução se produzir será dentro de uma Europa unida."É esta a situação que enfrentamos agora. No momento da União Europeia em que os Estados parecem mostrar-se menos solidários que doutras vezes, é necessário que se produzam aproximações geograficamente parciais que poderiam preparar uma cooperação reforçada em todo o conjunto da Velha Europa. Se não for assim, na União Europeia dos 27 dificilmente se poderá conseguir o aprofundamento político. A aproximação acrescenta outras numerosas perspectivas de relação para além da económica.As línguas, à margem do político e do económico, têm regras de difusão que se apoiam nas suas próprias estruturas. Devido à natureza linguística do castelhano, os erasmus portugueses que chegam à universidade espanhola entendem a língua desde o primeiro dia, sem nunca a ter estudado. Ao cabo de três semanas falam portuñol. E, no final do curso, alguns fazem menos erros ortográficos que os espanhóis mais atrasados. Portugal - em contrapartida à facilidade de se deixar penetrar pelo castelhano - encontra o seu grande campo de influência na Galiza. Os complexos do passado foram superados. E, no âmbito da União Europeia e no das relações transfronteiriças, a aproximação de Portugal à Galiza e da Galiza a Portugal é cada vez mais sólida e profunda.A divisão de Espanha em comunidades autónomas levou a que o cidadão português votasse receosamente "não" no referendo da regionalização portuguesa. As partes de um Portugal fraccionado cairiam mais facilmente nas mãos das fracções espanholas situadas do outro lado da fronteira.Há alguns anos, depois de uma exposição que li no Instituto de Defesa Nacional de Lisboa, num português macarrónico, dialoguei com os militares sobre as relações entre os espanhóis e os portugueses e surgiram algumas queixas. Perguntei então: estão de mal com os galegos? A resposta imediata foi: não! Estão de mal com os andaluzes? Também não. Mal com os catalães? De maneira nenhuma. Mal com os bascos? Absolutamente, não. E continuei: os estremenhos, os aragoneses, inclusive os manchegos e os madrilenos. Para com todos os mencionados mostraram os dialogantes a sua simpatia. Só apareceu um cliché, resquício de irredutibilidade, o dos castelhanos velhos. Disse-lhes então: os senhores não têm nada a temer. Portugal e Castela a Velha contam com um número parecido de quilómetros quadrados. Mas sobre a mesma extensão encontram-se, em Portugal, dez milhões de habitantes e em Castela a Velha pouco mais de dois milhões. A estatística, tão favorável a Portugal, produziu no auditório desconhecedor do dado uma surpresa. Dissipou-se, com isto, uma percepção errónea.Já Jean Monnet disse que as dificuldades entre os povos são muitas vezes artificiais. Naquele colóquio, o iberismo utópico de Teófilo Braga tinha sido traduzido para um pragmatismo mais modesto mas mais eficaz. Assim são muitas as relações existentes hoje entre os espanhóis e os portugueses, que, como atesta uma sondagem recente, vão abrindo lugar para uma relação bastante mais fluida.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

E AINDA A CORRUPÇÃO

«Seria também útil que o Presidente não se limitasse ao conceito restrito de corrupção. A ideia geral é a de que esta é praticada pelos autarcas, pelos fiscais das câmaras, pelos burocratas encarregados de qualquer forma de licenciamento, pelos empresários do Norte, pelos clubes de futebol e pelos governos regionais. É bem possível que muitos dos citados tenham culpas. Mas o que autoriza a pequena corrupção é a grande. E a carência de justiça repressiva. A grande corrupção situa-se alhures e, pelo clima de impunidade que cria, é um exemplo para muitos. Há sectores na vida pública e práticas na vida económica que configuram crimes, favoritismo e promiscuidade, mas que, protegidos pelos partidos, pelos governos e pelas leis feitas "a feitio", acabam por ser aceites como modos de vencer na vida. As "obras a mais" e os desvios orçamentais nas obras públicas; os concursos públicos "com fotografia"; os grandes negócios de fornecimento de armas e de equipamentos militares, assim como de sistemas informáticos e de telecomunicações; e os processos de licenciamento das grandes superfícies comerciais e de loteamento subsequente são, entre outros, alguns exemplos de situações que parecem viver na legalidade, mas que merecem especial atenção. As nomeações governamentais e partidárias para as empresas e sectores participados; a deslocação de políticos para empresas privadas, designadamente na banca e nos grandes serviços públicos; a livre passagem, com bilhete de ida e volta, do público para o privado; e a constituição de grupos encarregados de preparar as "grandes decisões" e as "grandes obras" são, além de outros, territórios de eleição para a grande corrupção, a que realmente faz mal, a que serve de exemplo. Pior: a que consegue passar perante a opinião como não sendo mais do sucesso lícito e merecido. Se não se for até aí, tudo ficará na mesma. Como é sabido, os pequenos vivem à sombra dos grandes
António Barreto, Público de 08.10.2006

OS QUE NÃO SE DEIXAM PERDER NA SIMPLES PRAGMÁTICA DO QUOTIDIANO

«Os noticiários da desgraça querem convencer-nos de que este mundo não tem conserto. Mas nem todas as pessoas perderam o gosto pela poesia, pela grande música, pela pintura, pelas artes, pelas interrogações metafísicas ou religiosas, pela busca de sentido para a aventura humana e de responsabilidade pelo futuro da terra. Não se deixam perder na simples pragmática do quotidiano e dos negócios, no fascínio idolátrico das novas tecnologias e no exibicionismo de casas sumptuosas, de carros de luxo, etc., insensíveis à distância crescente e intolerável que as separa do mundo dos pobres e dos quais fazem tudo para se defender e nada para atacar as causas que o produz.Nem todos pensam que o remédio contra o terrorismo esteja na diabolização das outras culturas e religiões ou na imposição da nossa cultura e religião, dos nossos valores como se fossem o único património da humanidade. Se não acredito num progresso linear e reversível, também não julgo que estamos sempre condenados ao pior
Frei Bento Domingues, no Público de 08.10.2006

domingo, 8 de outubro de 2006

ATÉ QUE ENFIM.UM BOM ARTIGO QUE PÕE O DEDO NA TECLA CERTA SOBRE A PROBLEMÁTICA DA POLÍCIA

Aqui deixo o artigo, na integra, publicado no Correio dos Açores de 07.10.2006

«CARLOS A. C.CÉSAR

Credibilizar as forças de segurança

Na cidade do Porto, cerca da uma da madrugada, uma brigada da Guarda Nacional Republicana manda parar um veículo automóvel com quatro jovens que, desobedecendo à ordem, iniciam a fuga em alta velocidade, não respei­tando regras nem sinais de trânsito, pondo em perigo outros condutores e pessoas. A fuga terminou dez quilómetros à frente e meia hora depois, após disparos de intimidação efectuados aos pneus do veículo por um dos Guardas que, infelizmente, naquelas condições, e à velocidade em que circulavam, fa­lharam, atingindo mortalmente um dos ocupantes.
Posteriormente, soube-se que a fuga foi motivada por terem ingerido álcool e por falta de seguro da viatura. Todos já eram conhecidos da polícia por estarem ligados a diversas situações desde tráfico de droga, furtos e roubos.
Foi chocante a morte do jovem. Mas também não podemos deixar de registar aqui a forma indigna como foi tratado o Guarda; recebendo ordem de prisão, in­diciado por homicídio simples com dolo eventual. Tratando-se de um jovem de 26 anos, enquanto militar do Exército, cumpriu missões na Bósnia e em Timor. Como Guarda é considerado e respei­tado pelos colegas, certamente que não queria ter na sua folha de serviços esta mancha. Actuou no cumprimento do seu dever e na defesa dos seus concidadãos, há que inquirir e, se for comprovada a intenção de matar, então, condenar, mas se se comprovar o contrário ter a cora­gem de lhe fazer a devida justiça. Ago­ra é hora dé apoiar este jovem Guarda e aí têm uma grande importância tanto os seus familiares, colegas e as Associações representativas.
Esta ocorrência veio mais uma vez pôr a nu as dificuldades que estão a passar as nossas forças de segurança, desmoralizadas, desrespeitadas, sem poder de actuação perante as diversas situações. Os infractores são apanhados e postos em liberdade, ainda o agente está a cumprir formulários obrigatórios e eles já o estão esperando no lado de fora para o achincalhar. Sem os devidos treinos específicos da sua profissão, com a falta de meios humanos e materiais que deveriam possuir, sobrecarregados de trabalho que por cansaço pode levar a erros graves, são uns heróis ao en­frentarem, no dia a dia, o crime muitas vezes melhor organizado e com melhor meios.
É urgente rever toda esta situação e dar credibilidade a estes homens e mu­lheres que heroicamente correm sérios riscos de vida na defesa do País, da Ins­tituição que representam e na segurança do cidadão e seus bens

O DAR-SE MÉRITO À MEDIOCRIDADE É, ACTUALMENTE, O DRAMA NACIONAL

Os medíocres tomaram conta de todos os aparelhos. E só valorizam os que são mais medíocres do que eles, para não terem quem lhes faça sombra. E isto não é o “Princípio de Peter”. É bem pior. A falta de elites é hoje dramática para a viabilidade do país. E o país estar, a todos os níveis, subordinado a medíocres, não permite que o surgimento de elites seja viável. Por isso é que os portugueses que progridem como deve ser, o fazem nas elites internacionais, quer sejam científicas ou outras.

sábado, 7 de outubro de 2006

QUEM CABRITOS VENDE E CABRAS NÃO TEM, DE ALGUM LADO LHE VEM.

Ah! Ah! Ah!
Do Público online de hoje:

«Presidente elegeu como causa sua o combate à corrupção em Portugal
Leis anticorrupção de Cravinho ganham peso com apelo de Cavaco
07.10.2006 - 09h49 São José Almeida PÚBLICO

A criminalização do enriquecimento ilícito, através da exigência de prova da origem do património, o estatuto da clemência, a revisão das regras de cooperação internacional e do tratamento e fiscalização das declarações de património dos titulares de cargos políticos são as propostas que o deputado do PS João Cravinho irá apresentar, de acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, em princípio esta semana, ao grupo parlamentar do PS

Conhecem alguém que, para além de homicidas passionais, pilha galinhas e malta da droga, esteja preso? Em Espanha ele há generais, banqueiros, políticos, etc.. Em Portugal há ALGUÉM CONHECIDO preso?
A primeira reacção é para rir. Depois chora-se.
Há o velho provérbio que diz: «Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem.» Se testássemos a corrupção pelo provérbio, milhares iriam presos.
O povinho português terá que continuar a pagar e a sustentá-los. Vocês sabem, e muito bem, quem.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

DESLOCALIZAR PARA A ALEMANHA????

Então as fábricas vão deslocalizar-se para a Alemanha e para a Eslovénia? Não é para países de mão-de-obra barata e semi-escrava? Então é mais rentável mudarem-se para a Alemanha (ou Espanha, ou Eslovénia) do que ficarem em Portugal? Olá. Aqui há algo encapotado, ou então os teóricos e os mandantes cá do burgo andam há muito a aldrabar o maralhal. Olarilolé. Aqui há um drama escondido. Quando o maralhal conseguir entender como o andam a enganar, se calhar chateia-se. Ou não. Se calhar não. Calhordas como sempre, calam-se e estendem a mão. Sempre é mais fácil. Agora que o governo e os “sábios” andam a aldrabar os portugueses, lá isso andam.

Então há rentabilidade mais elevada com mão-de-obra mais cara na Europa Comunitária do que em Portugal? Cá fico à espera de ouvir não só o ministro Pinho como os empresários portugueses, essa nata do oportunismo subsidiado.

BOA PERGUNTA


«A maioria dos promotores e convidados da convenção tinha uma só coisa em comum: nas suas actividades, estão geralmente entre os mais bem sucedidos. Não eram as vítimas do corrente modelo social: os que abandonaram as escolas, os que estão desempregados, os que são utentes de maus serviços públicos. Mas foi por causa destes que os promotores da convenção estiveram no Beato. Porquê? A eles, o statu quo serve-lhes perfeitamente. E, no entanto, moveram-se, deram a cara, vieram submeter-se à suspeita e ao ridículo de que é feita a cortina de ferro com que em Portugal se impede qualquer tipo de intervenção cívica. Como designar este impulso para sair do seu cantinho e discutir na praça pública com os outros cidadãos? Antigamente, chamava-se a isto "patriotismo" - era o que definia o cidadão, a consciência de que, por mais próspera que fosse a sua vida privada, tinha a obrigação de se preocupar com o bem da comunidade. Não se pode falar agora de "patriotismo". Mas também não parece bem actuar patrioticamente. Vivemos num meio que ainda aceita mal a iniciativa do cidadão independente e que não se convenceu de que a pluralidade de opiniões e a controvérsia são indispensáveis ao dinamismo e à criação de oportunidades.Daí a quantidade de gente que passou duas semanas à procura de um veneno para o Beato. Alguns descobriram-no, euforicamente, na severidade de um relatório do Fórum de Davos sobre a competitividade das empresas portuguesas. O Estado em Portugal foi declarado certo, competitivo e fulgurante. Quem está mal são os cidadãos, a quem não se pode confiar a gestão eficiente das suas propriedades. O que é que se vai descobrir a seguir? Talvez que as escolas públicas são excelentes e que os alunos é que são burros. Terão os entusiastas portugueses de Davos percebido a ladeira que começaram a descer? Se não se pode confiar nos cidadãos para criar riqueza e cooperar entre si como iguais, porquê confiar neles para eleger governantes e autarcas? Alguém quer responder
Rui Ramos, no Público de 04.10.2006

O MOMENTO DO AJUSTE DE CONTAS


«A crise do Estado é geral. Não há nada que escape e ninguém que não se queixe e se lamente. O país não chegou aqui por acaso ou por distracção de um ou dois governos. Foi precisa uma longa persistência no erro e um desprezo perverso pelos problemas que se iam acumulando, ou agravando, de ano para ano, como se tudo estivesse bem e no bom caminho. Não existe um partido, um político, um ministro, um autarca que se possa considerar inocente do que se passa hoje. O défice e a dívida são um sintoma, não são uma causa. O regime fabricou um Estado inviável, com o dinheiro que não tinha, ou esperança de vir a ter, para cumprir promessas que sabia de ciência certa pura fantasia ou puro cinismo. O momento do ajuste de contas, no sentido metafórico e literal, devia ser, fatalmente, duro.
(…)
O vácuo ideológico e programático do poder, quase absoluto, impede evidentemente qualquer reforma substancial e durável. Se por muita sorte escaparmos desta, ficamos prontos para a próxima. Embora espremido, e dorido, Portugal não mudou. Uma óptima oportunidade que se perdeu.»

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

HOJE É O ANIVERSÁRIO DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA. MAS COMEMORAM O QUÊ?

Sim, o que é que o país comemora? De que é que se orgulha tanto que mereça ser comemorado? A 1ª República? A 2ª ? A 3ª? A assumpção da decadência? País de medíocres.

A FALTA DE NÍVEL

Há quem me critique por andar sempre a dizer mal doS agentes políticos, que para mim não passam de militantes partidários. Mas se lerem a entrevista dada ao SOL de Sábado passado pela Zézinha, então entendem muito bem o que venho dizendo. E que tem sempre a ver com a estratégia (ou a falta dela) para Portugal. Quem me lê ao longo deste blog percebe qual é o meu pensamento.
Há falta de elites. As elites são algo de bom numa sociedade, pois são a dinâmica dessas sociedades. O Fernando Pessoa disse-o, e muito bem. A Filomena Mónica também se referiu ao tema em “Portugal de …”.
E a falta de elites leva ao mérito da mediocridade, que eu considero o desastre nacional.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

PORTUGAL DE ...

É um bom programa da autoria de Rui Ramos. Dá hoje pelas 16H15 na RTPN (hora de Portugal Continental) e repete no Domingo na RTPI. Se não viram ontem à noite vejam. É incontornável. Se viram, revejam com muita atenção. Ontem foi com a Filomena Mónica. Pode-se gostar ou não. Pode-se ou não estar de acordo com ela. Não se pode é ficar indiferente ao que ela disse. Vejam e revejam.
E desde já fica o aviso para não perderem os outros 11 programas, com outras tantas opiniões sobre Portugal. Excelente a intervenção de Rui Ramos. Deixou liberdade para se expressarem, e claro que ele sabe o que e como perguntar. Oxalá os imitadores de jornalistas aprendessem algo. Mas não aprendem. Acham-se o máximo, sem perceberem que são asnos. É a vida.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

ÓPIO - UMA CONSTANTE POLÍTICA.

«Bacunine já tinha notado, com a imaginação própria dos utopistas anárquicos, que o ensino de Marx levava à criação de um aparelho de Estado monstruoso e repressivo. Este aparelho revelou-se ainda mais monstruoso do que ele tinha imaginado – e isso precisamente na pátria de Bacunine. Não é por acaso que Lénine encontrou no marxismo o fundamento do poder e da «ditadura do pro­letariado», Sem entrar em pormenores, o que é impor­tante, sob o ponto de vista político, é que Lénine inspirou­-se nos conceitos marxistas para os adaptar às realidades russas. Um marxismo que não está no poder, que é por­tanto privado das realidades do poder, só existe nas ingénuas universidades ocidentais. Os países comunistas apenas conhecem a variante leninista do marxismo, ver­dadeiro código de deontologia, terrível ópio da consciên­cia e parte integrante do poder.»

In " TITO Meu Amigo Meu Inimigo" de Milovan Djilas.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

TRADUZINDO PARÁBOLAS

– O português – dizia-me um dia Junqueiro – não raciocina com idéias, mas com paixões. O nosso facciosismo provém do exclusivismo mental e da improvização na cultura. Quere você um exemplo? Eu lhe digo. Alguém pregunta a um português: «Você é capaz de fazer água?» O português, que é inteligentíssimo e espontâneo sempre, responde logo: - «Claro que sou. Olha quem! Basta que você me diga como se faz». -- «É simples. A água é feita de hidrogénio e oxigénio. Aqui tem a fórmula. Percebeu?» O português percebeu imediata_ mente: «Vamos lá a isso!» E dispõe-se a fazer a água. De repente, dá um murro na mesa e grita: «Eu quero lá nada com êsse canalha do oxigénio! Faço a água, sim senhor, mas só com hidrogénio».
– Traduza esta parábola em idéias - e tem Portugal inteiro, rematava o Poeta, ajeitando o eterno guarda-chuva, o «guarda-chuva do Parnaso», como êle próprio dizia.
In "Homens E Païsagens Que Eu Conheci", de Augusto de Castro

domingo, 1 de outubro de 2006

EM PORTUGAL TUDO É TÃO MEDÍOCRE, QUE ATÉ MESMO A CORRUPÇÃO

E não é que as "ofertas" no caso Apito Dourado eram de ouro falsificado, como hoje se noticia?
Como diz um amigo meu, é muito bem feito; deviam antes ter optado por bons relógios de marca, made in China.

A MAIOR DESILUSÃO DA DEMOCRACIA PORTUGUESA

É a convicção de António Barreto exposta num artigo, hoje, no Público.
«A maior desilusão da democracia portuguesa é a do poder autárquico. É possível que não seja o problema mais grave, dado que outros, aparentemente impossíveis de resolver, como os da justiça e das finanças públicas, afectam mais profundamente a vida colectiva. Mas o termo desilusão é o que se aplica aqui. Sentimento de frustração, descrença, decepção ou desapontamento, dizem os dicionários. Na verdade, a democracia local foi motivo das esperanças de todos. E não faltou o mito: poucos anos depois do 25 de Abril, passou a ser praxe dos discursos oficiais dizer-se que "o poder local era a maior conquista da democracia". Ainda hoje, esta frase sem sentido é repetida. Sobretudo por autarcas, pois que já ninguém acredita nisso.
(...)
A recente actuação de muitas câmaras, da Associação Nacional de Municípios e especialmente do seu actual presidente, Fernando Ruas, mostra até que ponto está errada a concepção de poder local em Portugal. Este transformou-se numa rede de interesses partidários e económicos, de amigos de vária espécie, de negócios e de recrutamento político. Esta rede recorre frequentemente a acções ilícitas e irregulares. O enriquecimento sem justa causa, o emprego de amigos e familiares, a acumulação indevida de cargos e vencimentos e o licenciamento por favor são moeda corrente neste tão bem organizado poder autárquico. Qual a amplitude deste triste panorama? Ninguém sabe. Mas dizem que também há autarcas competentes e honestos. É possível