sexta-feira, 30 de junho de 2006

O MUNDO EM GUERRA

É uma constante do dia a dia. Pode haver alguns discursos contra a guerra. Alguns divagam contra o belicismo. E invectivam os exércitos. No fundo, diversões. Aqui há trinta, quarenta, cinquenta anos quase todo o mundo era contra as guerras, era anti militarista e era pacifista. Depois da queda do Muro também todo o mundo continuou adepto do pacifismo e anti militarista. Só o que não se percebe é como é que essa malta, cujos pais os não deixaram brincar com pistolas, tem uma paixão doentia por videojogos de guerra. Matam que se fartam. Tácticas de guerra são a sua especialidade. Não sabem nada de história, mas jogam jogos de guerra de impérios ancestrais. Matam com uma facilidade e um prazer, que me fascina pelo lado negativo da percepção que eles têm da realidade bélica. Julgo que é por isso que José António Barreiros escreveu no seu blog “A Revolta das Palavras” o seguinte:

«Na contabilidade do que se mata, os genocidas ficam sempre beneficiados. A partir de muitos milhares, já ninguém quer saber. Os grandes números equivalem sempre a zero

IA-ME ESQUECENDO DO AUTOR DO TEXTO

EÇA DE QUEIRÓZ é o autor do trecho do post de Sábado, 24. Peço desculpa de me ter alongado no levantar do pano para alguns. Muitos reconheceram o texto.

quinta-feira, 29 de junho de 2006

ECOCÍDIO

Palavras novas. Hoje acrescento esta ao meu dicionário. O suicídio colectivo pela delapidação do equilíbrio ecológico. Esta delapidação vai forçar as populações a refugiarem-se em guetos, que se tornarão cada vez mais exíguos, originando as movimentações que estarão na génese das futuras guerras, ou seja, a luta pelo espaço vital. Em Julho voltarei à questão da estratégia e abordarei também a geoestratégia. Que por aqui nos Açores é dita à boca cheia, sem perceberem muito bem do que falam. E a propósito do ecocidio e de estratégia, lembro que ontem se falou de que a floresta em Portugal Continental diminuiu 20% em 10 anos. O que já não é um ecocidio lento.
Mas a palavra ecocidio fui adaptá-la do livro Collapse, de Jared Diamond, que ontem citei. E que hoje cito de novo para o contexto deste novo termo ecocidio:

«It has long been suspected that many of those mysterious abandonments were at least partly triggered by ecological problems: people inadvertently destroying the environmental resources on which their societies depended. This suspicion of unintended ecological suicide-ecocide-has been confirmed by discoveries made in recent decades by archaeologists, climatologists, historians, paleontologists, and palynologists (pollen scientists). The processes through which past societies have undermined themselves by damaging their environments fall into eight categories, whose relative importance differs from case to case: deforestation and habitat destruction, soil problems (erosion, salinization, and soil fertility losses), water management problems, overhunting, overfishing, effects of introduced species on native species, human population growth, and increased percapita impact of people

Em Julho voltarei à estratégia. Vamos lá a ver se então haverá a reacção que não houve em Abril.

quarta-feira, 28 de junho de 2006

NÓ GÓRDIO

É o titulo do artigo que João Carvalho das Neves escreve hoje no DN. Destaco o seguinte:

«E será que a nossa Universidade responde às necessidades futuras? Precisamos de quadros e empresários com capacidade para resolver problemas de forma criativa, que encontrem estratégias inovadoras, que trabalhem em equipa, que descentralizem, motivem e resolvam conflitos de forma construtiva e criativa. Infelizmente, não me parece que assim seja, nem vejo que o Processo de Bolonha não nos leve para esse caminho. Por um lado, a legislação é puramente burocrática, centralizadora e restritiva da criatividade e da inovação. Por outro, os professores preocupam-se mais com os interesses de classe ou do seu departamento do que com as necessidades das empresas e dos alunos.»

Se ele disse, é porque ele lá sabe.

O FIM DAS SOCIEDADES

Veio-me parar às mãos um livro sobre a auto-destruição das sociedades. Quem me lê sabe que sou um leitor atento da Queda do Império Romano, do percurso dessa queda. Também, há dias, falei aqui de dois filmes que focam o actual declínio da sociedade ocidental. Há mais livros e filmes que contribuem para a percepção dos declínios. A Fénix é outro capítulo de outras percepções. Mas tudo isto tem a ver com o livro que me veio parar às mãos, “ COLLAPSE – How societies choose to fail or survive” de Jared Diamond. Aqui deixo um trecho, mas recomendando a sua leitura. É um livro que, não trazendo novidades, suscita-nos muitas análises sobre situações que, não sendo desconhecidas, são muitas vezes observadas com demasiada ligeireza. Eis o trecho extraído já da parte final do livro:
«Why should levels of these poisonous chemicals from remote industrial nations of the Americas and Europe be higher in the lnuit than even in ur­ban Americans and Europeans? It's because staples of the lnuit diet are whales, seals, and seabirds that eat fish, molIuscs, and shrimp, and the chemicals beco me concentrated at each step as they pass up this food chain. AlI of us in theFirst World who occasionally consume seafood are also in­gesting these chemicals, but in smalIer amounts. (However, that doesn't mean that you will be safe if you stop eating seafood, because you now can't àvoid ingesting such chemicals no matter what you eat.)
Still other bad impacts of the First World on the Third World include deforestation, Japan's imports of wood products currently being a leading cause of deforestation in the tropical Third World; and overfishing, due to fishing fleets of Japan, Korea, Taiwan and the heavily subsidized fleets of the European Union scouring the world's oceans. Conversely, people in the Third World can now, intentionalIy or unintentionalIy, send us their own bad things: their diseases like AIDS, SARS, cholera, and West Nile fever, car­ried inadvertently by passengers on transcontinental airplanes; unstoppable numbers of legal and illegal immigrants arriving by boat, truck, train, plane, and on foot; terrorists; and other consequences of their Third World problems. We in the US. are no longe r the isolated Fortress America to which some of us aspired in the 1930s; instead, we are tightly and irre­versibly connected to overseascountries. The US. is the world's leading im­porter nation: we import many necessities (especially oil and some rare metaIs) and many consumer products (cars and consumer electronics), as welI as being the world's leading importer of investment capital. We are also the world's leading exporter, particularly of food and of our own manufac­tured products. Our own society opted long ago to become interlocked with the rest of the world.
That's why political instability anywhere in the world now affects us, Our trade routes, and our overseas markets and suppliers. We are so dependent on the rest of the world that if, 30 years ago, you had asked a politician to name the countries most geopoliticalIy irrelevant to our interests because of their being so remote, poor, and weak, the list would surely have begun with Afghanistan and Somalia, yet they subsequently became recognized as im­portant enough to warrant our dispatching U.S. troops. Today the world no longer faces just the circumscribed risk of an Easter lsland society or Maya homeland colIapsing in isolation, without affecting the rest of the world. ln­stead, societies today are so interconnected that the risk we face is of a worldwide decline. That conclusion is familiar to any investor in stock mar­kets: instability of the U.S. stock market, or the post-9/11 economic down­turn in the U.S., affects overs as stock markets and eco no mies as welI, and vice versa. We in the U.S. (or else just affluent people in the U.S.) can no longer get away with advancing our own self- interests, at the expense of the interests of others.»

terça-feira, 27 de junho de 2006

SOBRE EDUCAÇÃO

Leiam aqui este post de um muito bom blog chileno. Não transcrevo. Leiam. Diversificar as fontes de conhecimento é muito útil à abertura das mentes.

A FAMA DA AUTORIDADE

Hoje, no Diário de Notícias, o excelente artigo "A ordem e os infantes" de Diogo Pires Aurélio, de que destaco este trecho:
«A autoridade tem má fama. Vulgarmente confundida com o poder autocrático, só por um acaso improvável ela permaneceria intacta em sociedades onde qualquer ordem é suspeita, enquanto não for previamente negociada e aceite por todos e cada um. A cultura em que estamos mergulhados e o que se aprende, inclusive, nas escolas já não reconhecem a autoridade como um valor. Levada ao limite das interpretações corriqueiras, a pulsão democrática ocasionaria mesmo o seu contrário, isto é, o não reconhecimento de nenhuma obrigação, a menos que haja força para a impor. Ruiu, por isso, a autoridade dos mais velhos, ruiu a autoridade da família.»

segunda-feira, 26 de junho de 2006

BANDEIRAS DE PORTUGAL NAS JANELAS

Este texto não é meu. Circula na Internet por mail. E também já está colocado em vários blogs. Não está assinado. Não é identificado por ninguém.
E embora eu não concorde com o texto de alguns pontos, e faria um ou outro reparo, não invalida a pertinência do texto, pelo que aqui o coloco
BANDEIRAS DE PORTUGAL NAS JANELAS
Cá por mim, vou pôr uma Bandeira na janela, quando:
- Portugal deixar de ser o país da Europa com maior índice de abandono escolar, analfabetismo e corrupção
- Em Portugal, ninguém que trabalhe ou queira trabalhar ou tenha trabalhado toda a vida, ou que não possa trabalhar, passe fome
- O desemprego não for um desígnio nacional
- A classe política deixar de ser maioritariamente composta por incompetentes patéticos
- Se construírem menos Centros Comerciais maiores da Europa do que Centros de Saúde, Hospitais, Escolas e Infantários
- Na ESBAL, os alunos não tenham que ir para as aulas com um balde, para apanhar a água que escorre dos tectos
- Não se tiver que retirar os pianos de uma sala de uma Escola Superior de Música, porque o chão ameaça ruir
- Os morangos com açúcar sejam exclusivamente uma sobremesa
- Acabar a pouca vergonha do Estado(com o dinheiro dos cidadãos) gastar 3..500.000€ com transportes dos Deputados e milhares de cidadãos não terem dinheiro nem para comprar o passe
- As crianças e os velhos forem tratados com dignidade, pelos pais, filhos, professores, educadores, instituições e políticos
- Os papás ensinarem as crianças que os Professores devem ser respeitados
- Todos os professores forem competentes
- A polícia deixar de fingir que não vê as lutas de pit-bull nas diversas Trafarias do País, bem como as corridas a 250 Km/h em várias Pontes Vasco da Gama do País, às 6ªs feiras à noite
- As televisões entenderem que, ao transformar os Incêndios em grandes espectáculos de variedades, estão a transformar os incendiários em realizadores e produtores de grandes programas de televisão, o que os enche de vaidade e é altamente motivador
- Se investigar como é que aquele senhor arranjou dinheiro para comprar o Ferrari
- A violência doméstica, a pedofilia, a violação e todos os crimes cometidos contra crianças, forem punidos com 50 anos de cadeia
- Os novos submarinos forem trocados por equipamento para apetrechar condignamente todos os hospitais e escolas do país, e com o que sobra, se comprar tractores e traineiras.
- Os Portugueses perceberem que as figuras do CONTRA-INFORMAÇÃO, não são caricaturas, mas o retrato fiel das pessoas retratadas.
- Os bébés das mães portuguesas, deixarem de ir nascer a Badajoz
- A selvajaria anual de Barrancos, acabar por falta de espectadores
- Os jornais, revistas, programas de rádio e de televisão, chamados de desportivos souberem que além do futebol, se praticam mais 347 outros desportos e que mesmo no futebol, há outros Clubes além do Sporting, do Benfica e do Porto
- Não houver 19 causas nº 1 de morte em Portugal, conforme o idiota que estiver na altura a ser entrevistado na televisão ou na rádio
- O Joel Costa, que faz crónicas na Antena 2, for condecorado no Dia de Portugal, em vez do Mourinho
- Não houver ninguém a afirmar que há 700.000 portugueses com reumatismo, 1 milhão com asma, 500.000 impotentes, 350.000 c/ osteoporose, 800.000 c/ transaminase pélvica, 430.000 c/ tuberculose, 685.000 c/ deficiência renal, 6.780.000 c/hipertensão, 2 milhões c/sinusite claustrofóbica, 843.000 c/ panarícios isquémicos galopantes, 2.400.000 c/ problemas auditivos, 300.000 com hérnias discais, 210.000 c/ béri-béri abdominal, 780.000 c/ diversos tipos de cancro 600.000 c/ hipersíase traqueovisceral crónica, para preocupar as pessoas com a prevenção e os médicos cobrarem 80 € por consulta
-Não houver nenhum 1º Ministro que tenha a lata de de abandonar o País à má fila, em plena crise, para ir sofregamente atrás de um qualquer tacho mais aliciante
- A gripe das aves não tiver direito a mais do que 1 minuto de tempo de antena, por mês, incluindo a informação de que morreram 1 indonésio e 2 chineses, quando nos 5 segundos que demorou a noticia, morreram mais de 700.000 pessoas com outras 250 doenças e 300.000 crianças morreram de fome, de malária e de cólera em África
- Nenhum governante tiver o desplante de dizer que “abriu a época oficial de incêndios”
- O nº de óbitos motivados por incompetência ou negligência médica for zero- A TVI encerrar por total falta de audiência
- O Estado, e os homens do espectáculo, pedirem desculpas públicas , póstumas, ao José Viana
- A população não eleger para Presidentes de Câmara indivíduos fugidos à justiça
- A maioria dos Jornalistas souber falar e escrever português, e deixar de fazer constantemente perguntas idiotas aos entrevistados
- Houver, no estrangeiro, tantas pessoas que conheçam o Eusébio, o Figo, o Cristiano Ronaldo e o Mourinho, como o Camões, o Prof. Agostinho da Silva, O Maestro Vitorino de Almeida, O Prof. Vitorino Nemésio, o Fernando Pessoa e muitos, muitos outros que nunca deram um pontapé numa bola.
- Houver tantos Portugueses que sabem quem são, a Maria João Pires e a Helena Vieira da Silva como os que sabem quem são o Pinto da Costa, o Valentim Loureiro, o Luís Filipe Vieira, o Manuel Goucha, a Cátia Vanessa, o Abrunhosa, a Júlia Pinheiro, a Quicas Vanzeler, e o Mantorras
- As Helenas Vieira da Silva não tiverem que emigrar para fazer carreira em países civilizados
-O peixe não chegar às mesas de quem o pode comprar 10 vezes mais caro do que foi vendido nas lotas, para que mais pessoas o possam comer e menos intermediários se possam encher
-Os caçadores deixarem de, sistematicamente, abandonar os cães, no fim da época da caça ou, forem presos se o fizerem
- Os autores dos programas infantis de televisão, perceberem que uma criança não é um atrasado mental
- Os pequenos e médios Empresários Portugueses não comprarem o 2º Mercedes e a casinha no Algarve, antes de pagarem os ordenados que devem aos Trabalhadores, as Facturas que devem aos Fornecedores, e as contribuições que devem à Segurança Social e ao Fisco
- Os projectos Aeroporto da Ota e TGV, tiverem sido unicamente brincadeiras de mau gosto
- O Estado e as Câmaras Municipais pagarem os milhões que devem aos Fornecedores e outras Entidades credoras
-Se o Estado for condenado a pagar indemnizações, devidas a erros cometidos pelos Governantes individualmente, elas sejam pagas do bolso desses governantes responsáveis e não pelo Estado, pois o dinheiro do Estado é de nós todos e não fomos nós que fizemos a asneira
- Os alunos dos diversos graus de ensino, passarem de ano por terem tido notas para isso e não porque os papás apresentaram recursos idiotas e os Professores e os membros dos Conselhos Directivos tenham medo de perder o Emprego
- As milhentas estações de rádio e as televisões, que só divulgam Anjos, Batnavó, Clãs, Papaossos, Toutaver, Andacáquésminha, Blindtreta, Tarantantan, Fuckyou, Put your finger in my ass, Alex’s e Toni’s, Magdas Vanessas, Cátias Tampinhas, Carlas Bzz e mais 3.500 grupos e “artistas” da nossa praça, utilizarem 10 minutinhos por dia a divulgar a música dos Mozarts, dos Beethovens, dos Schuberts, dos Tchaikovskys, dos Verdis, dos Puccinis e de mais 50000 compositores que se entretiveram, no seu tempo a fazer música (a musiquinha ainda não tinha sido inventada) e os Gershwin’s, os Bernsteins, os Casals, os Rodrigos e muitos outros que fizeram música, mesmo depois das musiquinhas terem sido inventadas
- Nenhum ministro, nenhum professor, nenhum jornalista disser tênhamos ou póssamos
- Não for possível ouvir no noticiário de uma rádio uma “jornalista” dizer frases como esta: “A Câmara de Lisboa tem um projecto para a construção de um viaduto sobre o bairro da Graça, para facilitar o tráfico no local”, ou outros 500 dizerem que “Um batalhão da GNR vai para Timor, sobre o comando do Major Lopes da Silva” ou outros 1500 dizerem : “O Ministro Lopes da Silva foi um dos primeiros que chegou ao local do incêndio”
-Houver mais pessoas a ouvir os Madredeus do que o Quim Barreiros
- Não for possível assistir ao espectáculo degradante, porque hipócrita, de ver candidatos a eleições, nos Mercados a dar beijinhos às peixeiras, (obviamente, na maioria dos casos, completamente enojados)
- Não for possível assistir ao espectáculo deprimente, com direito a transmissão em directo pela televisão, de um 1º Ministro ir a Tróia, com toda a comitiva, para a varanda de um apartamento alugado e pago com o dinheiro dos nossos impostos, carregar num detonador faz-de-conta (de cartão e esferovite), para teatralizar a implosão de um prédio abandonado, como se se tratasse do lançamento de uma nave para a lua, com 3 astronautas portugueses a bordo
- As obras públicas, que são pagas com o nosso dinheiro, deixarem de custar sistematicamente mais do dobro do que foi orçamentado e adjudicado e que a palavra “derrapagem” seja substituída pela palavra “roubo”
-Nas greves, deixe de ser possível,sistemáticamente, o Governo ou as Administrações das Empresas dizerem que houve uma adesão de 15% e os Sindicatos dizerem que a adesão foi de 95% (um deles, ou os dois, estão a fazer de nós, palhaços)
- Os Polícias não tiverem medo dos Ladrões, os ladrões tiverem medo dos polícias e os cidadãos normais não tiverem medo dos polícias
- Figuras ridículas do tipo Zés Castelo Branco, Cinhas e outros Jardins, Hermans Josés (pós 1995) Lilis Caneças e mais 5.000 figuras destas que aparecem na televisão e nas Revistas, bem como os Editores das mesmas, estiverem internadas em Unidades de Saúde Mental
- O sr. Marques Mendes não tiver a lata de criticar o sr. Sócrates por ter aumentado o IVA de 19% para 21%, e de vender património, quando no Governo anterior, da cor dele, a primeira medida que foi tomada, foi aumentar o IVA de 17% para 19%.e ao longo do mandato, só não se ter vendido a Torre de Belém, os Jerónimos e o Convento de Mafra porque não apareceu nenhum dos grandes Empresários da nossa praça, interessado, já que nenhum destes edifícios dá para transformar em Centro Comercial
- Os médicos , fizerem greve para obrigar os Governos a dar condições de assistência digna aos cidadãos, em vez de as fazerem exclusivamente por motivos de dinheiro
-Os professores fizerem greve para obrigar os Governos a transformar o ensino numa actividade digna para eles e para os alunos e não só por motivos de dinheiro e outros interesses pessoais
- Os Trabalhadores e os Médicos que validam baixas fraudulentas, forem presos
- As Empresas deixarem de adulterar as Contas, para fugir ao Fisco
- Os Professores Fernandos Páduas e outros, derem uma trégua às campanhas histéricas anti-tabaco e começarem uma campanha anti-alcool, que é incomparavelmente mais prejudicial à Sociedade do que o tabaco (mesmo que eles bebam que nem esponjas) .
- As áreas de serviço das auto-estradas deixarem de ter clientes, por as pessoas não gostarem de ser escandalosamente exploradas
- Não houver mais telemóveis topo de gama do que cidadãos
- Todos os comentadores da bola que debitam verdadeiros tratados de futebol na televisão e na rádio e escrevem nos pasquins, forem contratados para treinadores dos maiores clubes, pois só assim esses clubes podem ser todos campeões
- Os médicos deixarem de se pavonear nos corredores e nos bares dos hospitais, com o estetoscópio pendurado ao pescoço, pelo mesmo motivo porque os informáticos não andam com o rato, as costureiras não andam com a fita métrica, os boxeurs não andam com as luvas de boxe, os jogadores de snooker não andam com os tacos e os bombeiros não andam com as mangueiras
- Os milhentos dirigentes das milhentas Fundações, fizerem alguma coisa útil, além de receber o ordenado
- Não for verdade que os Deputados faltaram em massa ao trabalho para irem passar um fim de semana prolongado, ao Algarve e isso ser a coisa mais natural da vida
- Nenhum médico operar o pé esquerdo, são, de um doente que tinha um problema grave no pé direito e, no fim, justificar-se com: “até foi bom, porque assim, já não vai ter o problema no pé esquerdo” sem ser imediatamente expulso da Ordem dos Médicos
- Só houver palhaços, nos circos
- A Publicidade enganosa levar os anunciantes, à prisão
- Os projectos de construção forem efectuados por Arquitectos e Engenheiros, e os construtores civis só tratarem da construção
- Se souber o resultado de UM SÓ dos inquéritos que se diz terem sido levantados a diversas figuras públicas e Entidades oficiais, pela presunção de diversos crimes
- Nas clínicas privadas a grande maioria dos partos deixar de ser feita por cesariana com data marcada, porque uma cesariana factura muito mais e dá muito mais honorários ao médico, do que um parto natural
- As jóias, os Rolls, os Ferrari, os Maserati, os Porshe, os Veleiros, os Rolex ,os telemóveis topo de gama, as lagostas, o caviar, os visons, etc, forem taxados a 500% de IVA , os automóveis de 1000cc, a 5% e as batatas, o arroz, o azeite, o leite, o açúcar, a fruta, as couves, o pão, os ovos, os frangos, e os transportes públicos, a zero.
- Encontrar num restaurante ou num café em Portugal, mais empregados portugueses do que brasileiros
- Os fumadores, que querem deixar de fumar, perceberem que os medicamentos e produtos anti-tabaco que apareceram, de repetente, no mercado, como marabuntas e que custam balúrdios, são óptimos para enganar os papalvos e encher os Laboratórios ainda com mais lucros
- O futebol voltar a ser um desporto
- Os nossos deficientes que vão aos Jogos Paralímpicos, não precisem de andar previamente a fazer peditórios públicos para arranjarem dinheiro para as despesas de deslocação aos mesmos e tenham direito a ser falados em caixa alta, nos jornais, nas rádios e nas televisões, quando estão a competir e quando regressam, carregados de medalhas (ou não)
- No dia da partida para o Rali LISBOA-DAKAR, a 1ª página d’A BOLA(que tem a lata de se chamar de jornal desportivo), não seja totalmente preenchida com uma fotografia gigante do Nuno Gomes e o título “O HOMEM DO ANO”
- As ementas dos restaurantes no Algarve estiverem escritas em português
- Entre os indivíduos que têm poder para instalar sinais de trânsito, não haja nenhum pateta
- Ninguém for ao aeroporto, à chegada da selecção nacional, eliminada do campeonato do mundo, só para ofender selvaticamente o seleccionador nacional
- Nas escolas de condução se ensinar as pessoas a conduzir, em vez de ensinar a fazer inversão de marcha, a arrumar o carro e a não deixar o motor ir a baixo
- Os Joões Pintos, os Sabrosas, os Decos, que proliferam no futebol português. apanharem 20 jogos de suspensão, cada vez que simulam um penalty, da mesma forma que quem rouba uma carteira vai preso
- Os meus filhos e todos os outros Portugueses da sua geração, puderem planear a vida a mais de 3 meses e os meus netos e os dos outros Portugueses, tiverem alguma perspectiva de viver um futuro com dignidade
- E por fim, quando conseguir uma consulta de Oftalmologia no Hospital Egas Moniz, que pedi há mais de um ano.
No dia em que tudo isto, ou quase tudo isto, acontecer, juro que ponho Bandeiras de Portugal bem grandes em todas as janelas da minha casa (se ainda tiver casa, se a casa ainda tiver janelas e se Portugal ainda existir)mesmo que a selecção NÃO SEJA apurada para o Mundial de Futebol !
Até lá, fico recolhido em casa com as janelas bem fechadas, cobertas com cortinados bem opacosprofundamente envergonhado

domingo, 25 de junho de 2006

AS PERGUNTAS ESTÃO FEITAS. E AS RESPOSTAS?

Hoje, no Público, Guilherme Valente tem um artigo muito interessante sobre a problemática actual do ensino. Destaco umas perguntas:

«É claro que os professores têm responsabilidade na tragédia dos resultados. Mas não são uma ilha. Quem é responsável pela sua formação, permitindo que não dominem as matérias que devem ensinar? Quem os recruta? Quem determinou as regras que regem a escola e fomentou a cultura que a domina? Quem impôs e mantém o inqualificável modelo de gestão que a "governa"? Quem centralizou o sistema até ao ridículo? Quem tem desvalorizado a função da escola como transmissora do conhecimento? Quem impôs teorias, métodos e ambiente que impedem milhares e milhares de crianças de aprenderem a ler, escrever e contar? Quem tem imposto um ensino em que todos os saberes valem o mesmo? Quem desvalorizou ou permitiu que se desvalorizasse o papel dos professores, apagando a função principal que deve ser sua - ensinar? Quem esmaga e tolhe os docentes com toneladas de papéis? Quem, aceitando-a e elogiando-a, tem encorajado a indisciplina, semente da violência? Quem fomentou a desresponsabilização dos alunos, nomeadamente acabando com os exames e tornando inócuos aqueles com que ainda não se atreveram a acabar? Quem encomendou e aprova programas impraticáveis e imbecis e manuais equivalentes? Quem promoveu as teorias pedagógicas delirantes do ensino centrado no aluno, do aprender a aprender, a demagogia miserável do "todos os alunos têm jeito para os estudos", que expulsa do sistema educativo, em cada ano, milhares de jovens a cujos interesses, desejo de formação e aspirações esta escola não responde? 3. Não é significativo que o termo ensinar nunca surja no projecto do estatuto da carreira docente?»

sábado, 24 de junho de 2006

QUEM SABE DE QUE LADO ESTÁ A SOLUÇÃO?

«Se os nossos temperamentos, a nossa língua, os nossos costumes, o nosso fim, o nosso passado e a nossa história são os mesmos – então não haja só a aliança, haja também a fusão.
Mas se o nosso temperamento, a nossa índole, a nossa história, a nossa raça, quase o nosso clima, tudo é diferente, se demais somos velhos inimigos, não afastemos só a ideia da fusão, afastemos também a ideia da aliança. Lembremo-nos que estamos aper­tados nos braços da Espanha, longe da Europa, sem um refúgio, sem podermos ser ouvidos se gritarmos, sem podermos ser socorridos, e tendo só por vizinho o mar! Mas o velho mar está descrente da política da Europa, e já não acode às nações.
Digamos a verdade. Â politica do senhor ministro é talvez má, mas as suas intenções são boas. Ele sente a decadência, a morte, o abaixamento de Por­tugal; entende que nos devemos apoiar em alguém; sim, mas não nos apoiemos nos dentes da loba.
E que apoio se espera da Espanha? Com que se conta num perigo? Com o governo e o mundo ofi­cial? ... Esse está na véspera do seu desaparecimento. Com o exército? Está desorganizado e inútil. Com o dinheiro dela? … Não o tem, nem crédito. Com o povo? ... Está perdido e morto para muitos anos.
Se é necessário apoio, tomemos o braço à Espa­nha, e vamos como dois inválidos amigos por essa Europa pedir esmola e agasalho para ambos. E ainda assim, cuidado, que no caminho o inválido-Espanha não roube ou não mate o inválido-Portugal.
Tem-se a respeito desta questão falado em ibe­rismo. Defender o governo neste ponto era quase acusá-lo. Só diremos que todos os portugueses podem jurar que a raça dos Miguéis de Vasconcelos acabou para sempre
Escrito por quem só amanhã ou depois direi. Deixo-vos no deleite de descobrirem por vós o autor deste trecho.

sexta-feira, 23 de junho de 2006

ESPICAÇAR

Foi o que tentei com os post’s sobre as classes sociais e as utilidades dos tribunais. Mas não se reage. Há muita acomodação. Já se está a perder muito o sentido crítico. O que não me admira. Algo há-de explicar como se chegou a este estado de vivência mornaça e acabrunhada

O MOTE

Alguns amigos andam distraídos e ainda não atentaram bem na frase que está debaixo do título deste blog. É essa frase que dá o mote a tudo o que se vai colocando neste blog. Atentem nela. Meditem sobre ela. O texto de onde a saquei está aqui, onde também está a referência ao livro de onde a cito.

PAÍS AGRICOLA

Quase todos os dias recebo por mail da net "um pensamento do dia". Hoje recebi um que não resisto a divulgar aqui. O seu humor negro deslumbrou-me.

PENSAMENTO DO DIA

"Somos um país essencialmente agrícola: Uns já cavaram, outros vão cavar e os que ficam são nabos!"

quinta-feira, 22 de junho de 2006

QUE INOVAÇÃO???

O PR andou num périplo da inovação. Pois. Mas o que é que ele quis realçar? Eu não percebi. Inovação implica investigadores. O país não quer investigadores. O sector privado não quer, não está vocacionado para ter investigadores. Só quer negócios simples de compra aqui e vende acolá, sobretudo especulativos, com fuga aos impostos e ao mais possível Não há em Portugal uma cultura de investir na investigação. O sector público, paraíso do compadrio, também não quer no seu seio indivíduos que se realcem. Assim ninguém quer pagar a investidores, a crânios. Assim vão para o estrangeiro que sabem tirar partido das suas capacidades e os valorizam, enquanto que em Portugal, de vez em quando, reúnem meia dúzia num almoço com o PR ou o PM, mas só para a fotografia. Depois há as condições que, como não cabem na fotografia, nunca são dadas.
Por isso saiam de Portugal. E já agora o resto do pessoal, se tem menos de 30 anos, que fuja de Portugal. Sempre terão alguma oportunidade de sobreviver com dignidade.

AS ETERNAS CLASSE SOCIAIS

No post anterior é cruelmente exposta a questão das classes sociais. Que o marxismo teórico escamoteou, mas que o marxismo prático viabilizou através das oligarquias que incrementou. De resto classes, ordens, castas, são sempre a mesma dinâmica da evolução humana. Ou, na visão da OD, o facto de uns nascerem para servir e outros para serem servidos. A fórmula de manter o equilíbrio estável está no post anterior.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

UTILIDADE DO APARELHO PENAL

O mundo dos blogs é também uma rede de amizades virtual, e, às vezes, não só virtual. De um comentário do Noise num blog não dele, transcrevo, pela sua acuidade e sempre com a devida vénia, a seguinte frase:
«A utilidade do aparelho penal é tripla: disciplinar as classes baixas e sujeitas a perder utilidade económica pelo carácter cíclico dos seus postos de trabalho, neutralizar os elementos disruptivos ou supérfulos que reagem a essas oscilações na oferta de trabalho e reafirmar junto dessas classes a autoridade do Estado. »

segunda-feira, 19 de junho de 2006

CULTURA, A FRÁGIL

Transcrevo do blog ABRUPTO um excelente texto sobre cultura. Pacheco Pereira usa uma objectividade que preenche toda a amplitude do tema. Julgo que foi lá colocado em 2004.

«SCRITTI VENETI 13



O que é a cultura? Eu respondo olhando esta escultura que está num dos lados da Catedral de S. Marcos. Nada do que ela representa existe, a não ser o doge ajoelhado. Existe? Não existe nenhum doge que se tenha ajoelhado diante de um leão. Não há na terra nenhum leão alado, com face humana, segurando um livro. O leão olha para a cidade, para o mar, o doge para o leão. Tudo é símbolo, sobre símbolo, sobre símbolo. O leão representa, como se sabe, uma abstracção: a república. A primeira palavra do livro é outra abstracção, mais desejada do que tudo, “Pax”. O doge ajoelha-se perante abstracções: o poder está no leão e não no doge, o leão fala-lhe de paz e mostra o livro aberto ao povo, que não se vê, mas vê.

É isto a cultura: uma invenção da imaginação humana, contra natura, contra o terror, contra o caos, por uma ordem superior feita de um teatro de convenções simbólicas que nos protegem, e que são a civilização. Tudo muito frágil, tudo construído, tudo inventado, tudo quase no limiar de nada. O doge pode pôr-se a pé e matar o leão, ou o leão comer o doge, o livro cair para a populaça o destruir, a primeira palavra pode não ser “Pax”, mas guerra. A cultura é uma frágil defesa, mas existe. Está ali, em pedra, símbolo de obediência do homem a convenções abstractas que ele criou e que só existem quando há vontade que existam. Nada depende mais da vontade do que a cultura e a civilização. Somos nós que as fazemos, somos nós que as desfazemos

domingo, 18 de junho de 2006

CONTROVÉRSIA

Na sequência de um comentário feito ao post anterior, é meu dever contribuir com outra citação do mencionado artigo para dissipar dúvidas:
«A grande controvérsia que hoje impera no mundo da educação resulta de a ministra ter afirmado que os professores também são responsáveis pelo insucesso escolar. E, no entanto, nada é mais natural: os professores têm uma missão bem definida, muitíssimo importante e insubstituível - educar. Se a educação não está bem, se o insucesso escolar se tornou num problema gravíssimo, os professores não podem em caso algum dizer que não têm nada a ver com assunto, que a responsabilidade não é sua, que outros são os culpados. São eles quem dia a dia recebe as crianças, com a extraordinária missão de lhes transmitir conhecimentos, de os formar, de os preparar para a vida profissional e para o papel que cada um deve desempenhar na sociedade. O seu trabalho é dos mais nobres e dos mais importantes em qualquer sociedade. Por isso mesmo, tem de ser concretizado com grande seriedade e profissionalismo, respondendo a níveis de exigência muito altos.Há evidentemente muitos bons professores em Portugal; há também muitos outros que encaram o seu trabalho como uma rotina que tem de ser cumprida, sem qualquer preocupação com os resultados. Daí que, de facto, a primeira prioridade na melhoria da acção educativa tenha de ser uma séria avaliação dos professores, com grande capacidade de discriminação entre bons e maus, com recompensas tangíveis para os bons e sanções pesadas para os maus. Depois de muitos anos em que todos os professores são classificados como muito bons e em que todos sem excepção sobem automaticamente ao topo da carreira, é imperativo que se reintroduza alguma seriedade na avaliação e que se restabeleça a meritocracia como critério único de progresso na carreira

INSUCESSO GERAL

«Mais recentemente a ministra começou a atacar o problema do insucesso escolar. Todos reconhecem que este é um dos problemas mais graves com que o país se defronta. Apesar de Portugal ser um dos países do mundo que mais gasta em Educação, os resultados são muitíssimo insatisfatórios. Estamos num dos últimos lugares na Europa no que respeita ao nível educacional da nossa população. Arriscamo-nos mesmo a ser ultrapassados pela Turquia, país bem mais pobre e atrasado do que Portugal. É impossível pensar-se numa economia desenvolvida e moderna - com ambições de acompanhar o desenvolvimento baseado no conhecimento e de pôr em prática um ambicioso plano tecnológico - e manter um nível de insucesso escolar comparável ao dos países do Terceiro Mundo-»
António Borges, hoje no Público.

SOL E SOMBRAS

Foto de F. Miranda

SÓ 42 EM FÍSICA

Em 2003, se não me falha a memória, assisti a um debate, no Porto, a propósito de uma peça de teatro que por lá estava, então em cena. A peça versava o que teria sido um encontro entre dois físicos, um alemão e outro dinamarquês, antes da 2ª Guerra. Não me lembro do nome. O debate, ou colóquio, era com 2 professores da Universidade do Porto, um de Física e outro de Filosofia. Em determinada altura o professor de física chamou a atenção para o facto de, no seio de todos os laureados com o prémio Nobel, nesse ano, 5 serem físicos. E de seguida realçou que em Portugal, nesse mesmo ano, tinham-se matriculado no 1º ano de todos os cursos de física, de todas as universidades portuguesas, só 42 alunos. Lembro-me de ter ficado estarrecido (quantos terminariam a licenciatura?). Era drama a mais para a nossa, já débil, realidade.
Como se pode, assim, pensar em futuro para este país? Que inovação? Que desenvolvimento? Perdemos a batalha da instrução. Estamos irremediavelmente perdidos para um futuro de desenvolvimento. Isto denota o absurdo das questiúnculas, actuais, sobre a educação, bem como a total ausência de estratégia sobre os caminhos da instrução em Portugal.
Reitero o que disse aqui sobre o não valer a pena estudar. E aqui, aqui, aqui.
E hoje, aqui, é noticiado um estudo que mostra que maioria dos universitários portugueses admite copiar. Temos um bonito futuro, temos.

sábado, 17 de junho de 2006

A ILUSÃO CONTINUA

«Um homem, um primeiro-ministro, depois de uma derrota eleitoral, declara o país num "pântano" e foge. Não se demite: foge da situação que ele próprio criou, enfiando no Estado milhares de funcionários (a maioria do seu próprio partido), encorajando o consumo e o endividamento privado, deixando um défice pasmoso e quase incorrigível e uma economia arruinada. Parece que este homem, numa sociedade normal, não tornaria a mostrar a cara, excepto talvez daqui a 20 anos para pedir desculpa. Engano. A nossa pieguice adora gente assim

Vasco Pulido Valente, no Público de hoje.

«Dois anos depois, com todas as dificuldades que eram previsíveis, acrescidas de uma profunda crise institucional desencadeada pela rejeição da Constituição nos referendos em França e na Holanda, a União Europeia é hoje a imagem perfeita da desorientação.
(…)
O que está em questão é que Durão Barroso pode ficar associado, e com ele o nome de Portugal, a um dos períodos mais cinzentos da história da construção europeia, tornando assim duplamente dolorosos os problemas nacionais gerados pelo seu abandono prematuro da chefia do governo


Luísa Bessa, no Jornal de Negócios de ontem.

«Com alegre irresponsabilidade, o português tem deixado que negoceiem com as suas emoções e manipulem os seus sentimentos. Há qualquer coisa de imoral nesta Imprensa acrítica que, aos poucos, está a excluir-se da sua missão, depois de se ter anulado a si mesma.
Inculca a ideia de que se joga a grandeza da pátria nos rectângulos verdes do Mundial de Futebol, e, sem pejo nem lucidez, trata de "heróis" os futebolistas. Poucas vezes o jornalismo português desceu tão baixo. Poucas vezes se aplicou a política da honra para salvar a honra da política. E uma e outra provam que a probidade é um princípio abandonado dos comportamentos
Baptista Bastos, no Jornal de Negócios de ontem.

sexta-feira, 16 de junho de 2006

A REFORMA DA EDUCAÇÃO

A professora Teodora Cardoso publica, hoje, no Diário Económico, um excelente artigo, que denominou "A REFORMA DA EDUCAÇÃO", de que destaco este trecho:

«Em termos de composição das despesas, temos a maior proporção de gastos com pessoal em toda a OCDE (96,7% contra 81% de média). A dimensão das turmas em Portugal é das mais baixas da zona. No que respeita a professores, os seus salários, corrigidos pelas paridades de poder de compra, correspondem, no início da carreira, a 78,1% da média internacional; ao fim de 15 anos de carreira, sobem para 95,4% e, no topo da carreira, ascendem a 123,6%. Portugal tem, assim, a mais forte ascenção na carreira de todos os países analisados, embora, como sabemos, a progressão seja virtualmente automática.

Em matéria de resultados, na hierarquização do PISA 2003, Portugal é, entre 29 países, o 24º no que respeita a leitura, o 27º em matéria de ciência e o 25º em matemática. Em termos de despesa acumulada por aluno entre os 6 e os 15 anos, Portugal gasta, porém, mais 4,5% do que a média dos três países (Finlândia, Coreia e Holanda) com os melhores resultados em matemática

O DECLINIO DO IMPÉRIO AMERICANO

Filme a ver hoje no canal 2 da RTP. Obrigatóriamente. Quem não viu e não vai ver este filme, ficará para sempre um analfabeto do mundo contemporâneo. E amanhã "o 20 anos depois" intitulado AS INVASÕES BÁRBARAS. A ver, também, no canal 2 da RTP. Depois não digam que não avisei.

DISSERAM, HOJE

«Numa noite, o eng. Carmona mostrou como se governa em Portugal: com prepotência, com ignorância e sem o mais leve sentido da realidade

Vasco Pulido Valente, no Público.

«Ninguém nega as responsabilidades de uma "sociedade civil" que se habituou a viver do Estado e na dependência dos seus inesgotáveis subsídios. Muito menos a "resignação" com que a mesma "sociedade civil" assiste à compra de helicópteros que não chegam a ser desempacotados ou ao arquivamento do processo que envolve o antigo presidente da Câmara de Cascais José Luís Judas e o construtor civil Américo Santo, para dar apenas dois exemplos recentes que obrigariam a uma total ausência de "resignação" por parte de qualquer cidadão com um mínimo de responsabilidade. Mas omitir as razões de fundo que levaram à situação de crise em que nos encontramos e fugir descaradamente dos erros cometidos pelos vários governos ao longo de todos estes anos é a forma mais eficaz de desresponsabilizar a classe política, desresponsabilizando simultaneamente os portugueses que se pretende responsabilizar. Ou o prof. Cavaco Silva pensa seriamente que é através da impunidade dos eleitos que se chega à responsabilização dos eleitores? Nesse caso, os portugueses, levados pelo seu apelo, não se deviam "resignar" a um velho político profissional que se apresentou, na campanha, como um homem providencial»

Constança Cunha e Sá, no Público.


«Os golpistas e os conservadores contemporâneos, aliados aos modernizadores neoliberais, acham que os sertanejos do agreste – hoje socorridos pelo programa Bolsa Família, ou os trabalhadores urbanos, beneficiados por um salário mínimo que lhes permitem comer um pouco mais de proteína todos os dias - devem raciocinar com as mesmas premissas lógicas que os ricos trocam em jantares parisienses. A visão de mundo de uns e de outros é bem diferente. São realidades antípodas uma da outra. E continuarão assim, até que deixem de ser tão desiguais

Mauro Santayana, no Jornal do Brasil.

quinta-feira, 15 de junho de 2006

GUERRA CIVIL VERSUS MARASMO

Já por aqui tenho exposto a minha preocupação pela visível falência da democracia. As democracias ocidentais têm-se auto corrompido. O que está a frustrar as expectativas das respectivas populações. Como já várias vezes referi, e sobretudo aqui, começam a aparecer sinais, cada vez mais expressivos, de que o descontentamento anda a ganhar adeptos a um ritmo demasiado veloz para as respectivas medidas cautelares. A inoperância dos poderes políticos e a cupidez dos poderes económicos cada vez mais empurram as pessoas para soluções de desespero. E a sombra da “Besta” paira em cada esquina do descontentamento. Temo que chegue o dia em que a assumpção da guerra civil seja encarada como preferível ao marasmo da situação em que se mantém a degradação da sustentabilidade da vida das populações, e também da natureza, do planeta em geral. Eu temo. Parece-me é que anda aí um mundo muito distraído. Pelo que temo ainda mais. O espectro de uma guerra em larga escala paira no horizonte. Até ao início da 2ª Guerra Mundial, e apesar dos avisos conscientes de pessoas maduras e de bom senso, a maioria recusou-se a ver o que foi inevitável. E andam muitos a não querer ver, a não quererem admitir. O futebol e outras artes dos malabaristas da opinião pública ajudam a iludir. Mas tudo tem um tempo. Se não se começar agora a travagem, em tempo útil, depois será muito difícil uma travagem sem colisão. E eu temo. Os inimigos da democracia espreitam. E temo muito quando eles espreitam.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

O IMPULSO DO PODER

«O impulso de poder tem duas formas: a explícita, nos líderes e a implícita nos seus seguidores. Quando os homens seguem voluntariamente um líder, fazem-no com vista à aquisição do poder pelo grupo que ele comanda e sen­tem como seus os triunfos do líder. A maioria dos homens não sente em si própria a competência exigida para liderar o seu grupo até à vitória e, por isso, procuram um cabecilha que surja com a coragem e sagacidade necessárias para alcançar a supremacia, Este impulso revela-se até mesmo na religião.»
Bertrand Russel, in "O PODER, uma nova análise social"

BANDEIRAS E IGNORÂNCIA

Andam carros com bandeiras, e também estão nas janelas das casas. Mas 95% dos portugueses não sabe o Hino Nacional. E tudo porque os portugueses entendem que o futebol é a única coisa que vale a pena em Portugal. Saciem-se.
Portugal vai para onde?

terça-feira, 13 de junho de 2006

COM MENOS DE 30 ANOS É FUGIR DE PORTUGAL

No dia 28 de Abril coloquei aqui este post. Cada vez mais os cidadãos que têm menos de 30 anos devem ponderar bem a saída urgente de Portugal. Antes que seja tarde.
O país está a esboroar-se por todo o lado. As sanguessugas estão a tentar chupar o mais possível no menos tempo que já têm para o fazer, pois a fonte está a secar. Irão gordas para os bancos da Suiça, viver dos rendimentos gerados pelo sangue que chuparam. Cá ficarão os tansos anémicos e exangues. A bancarrota espreita aí mais à frente.
POBRE PAÍS.

OPEL NA AZAMBUJA. FECHARÁ?

Hoje, aqui no DN, é noticiado o encerramenro da fábrica da Opel na Azambuja. Ainda há alguém que acredite que este país tem futuro? Ainda há alguém que acredite que vai haver algo de bom em Portugal? Já foi dito que o país era igovernável. Se não erro João Salgueiro também já o disse. E várias personalidades o vão dizendo, uns mais directamente outros nem tanto, mas sempre o dizem. Mas será que ainda há quem acredite que existe alguma esperança para Portugal arribar? Só se for mentalmente cego e burro.

A INGRATIDÃO À "CULTURA"

Um comentário da bloguista mentecalma, feito num blog do Norte e a propósito do aniversário da morte do poeta Eugénio de Andrade, ou melhor, da não relevância dada à data pelas autoridades. Que eu não estranho nada. Ei-lo:

«Como querem vossas excelências que se fale de poetas mortos se o futebol nos engravida de orgulho?
Como querem vossas excelências que se fale de poesia se a bola é mais física e redonda que as redondilhas ou as métricas?
Como querem vossas excelências que os altos senhores da nação se debrucem sobre as letras se estas mais não são que esborratados símbolos nas mentes deles?
Como querem um País culto se o dinheiro não sabe ler?
Como querem um País a lembrar os Eugénios seus filhos se o mais importante é desfilar nas avenidas sejam elas da Liberdade com as marchas, sejam ela do Brasil com os tanques de guerra que até deitam fumo?
A poesia de Eugénio é imortal e não precisa ser lembrada pois está viva nos nossos corações.
Viva Eugénio de Andrade!Sempre. »

A REFORMA POSSÍVEL

« Ega porém, incorrigivel n'esse dia, soltou outra enormidade:
- Portugal não necessita refórmas, Cohen, Portugal o que precisa é a invasão hespanhola.»

Eça de Queiróz, in "Os Maias".

E SE PORTUGAL FOSSE EXTINTO?

Se calhar seria o melhor. Da maneira que os cidadãos estão a sofrer por viver neste país, mais valia ser extinto. Governados pelos espanhóis sempre seria melhor. Parece que eles escolhem pessoas competentes para gerir países. Por cá somos incapazes de escolher como deve ser. Defeito dos portugueses. Não ficaríamos tão bem como os espanhóis, mas se eles nos governassem sempre seria algo melhor do que estes patetas dos políticos portugueses têm feito. Temos uma democracia com 30 anos como eles. Mas eles têm um IVA de 16% e nós de 21%. Eles criaram um milhão e tal de novos empregos em dois anos. Nós continuamos a avolumar desemprego. Andam portugueses a passar fome. Eles aumentam as prestações sociais. Em Portugal diminuem. Eles estão a pensar em baixar a carga fiscal. Em Portugal já nem sonhamos com isso.
País mais desgraçado nas mãos de uma cambada de incompetentes e corruptos, ou seja, a matilha que pulula à volta dos partidos políticos e se aproveita do orçamento.
Queixam-se que o país tem uma grave crise orçamental? Não a tivessem criado. Esta crise foi fabricada por incúria, leviandade, ignorância e incompetência. E quem é que a tem de pagar? Os do costume, claro. Os culpados já se encheram o suficiente e já estão longe da tormenta.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

OPRESSÕES

Estava hoje decidido a zurzir no circo criado à volta da selecção de futebol. Mas acho que não vale a pena. Desisti. Gostam de se encantar com o futebol. Saciem-se. Desgraçado país que caminha, de forma estouvada e imbecil, para um desastre colectivo. Mas satisfeito de futebol. E prenhe de ilusões. E de opressões.
Por isso vou só destacar, de João César das Neves, hoje, aqui no DN, um trecho:
«Graças ao progresso conseguimos demonstrar que os nossos avós estavam errados. Eles sonhavam com um tempo sem fome, pobreza, abandono, infelicidade. Nós vivemos uma época ainda melhor que o seu sonho, com meios mais que suficientes para resolver todos os dramas. Mas continuamos a ter pobreza e fome e aumentámos o abandono e infelicidade, o crime e o suicídio. Hoje ainda é a opressão. Isso não quer dizer que o progresso e a liberdade não tenham sido excelentes. Ninguém nega as melhorias e quem quer voltar atrás ignora a terrível miséria antiga. O bem-estar é uma realidade, mas o desenvolvimento e a democracia estão longe de solucionar a opressão

domingo, 11 de junho de 2006

A ILUSÃO DO FUTEBOL

Se Portugal, a selecção, ganhar alguma coisa julgo que a ilusão continuará e a crise profunda que vive Portugal não será perceptível para a maioria dos cidadãos. O que é pena. Mas é a vida.
«O país parece caminhar às cegas para uma destas aventuras em que os instintos e as paixões podem mais do que a razão.» Foi o que disse há mais de um século Antero de Quental.

Mas porque é que os portugueses não atentam na crise? Vasco Pulido Valente, hoje, no Público, com algum sarcasmo, é muito pertinente no porquê, de que destaco:


« "Deprimidos"? Nós? Porquê? Inconscientes, maluquinhos, mentecaptos, talvez. "Deprimidos", nunca. Ainda por cima, há os feriados de Junho. Apesar de este ano o dia 10 cair num sábado, já sopra por aí uma onda de alívio: com jeitinho, até Outubro o trabalho acabou. Toda a gente está fora, ou está quase a chegar, ou acabou de sair, mas ninguém, Deus seja louvado, ficou no sítio em que devia ou em que se esperava que ficasse.Com Junho e o campeonato, os portugueses correm o risco de morrer de alegria. Este, de resto, enquanto a coisa não começa, é o melhor tempo. (...) Os portugueses, principalmente, podem assistir à função descansadíssimos. Se for um triunfo, esquecem o défice e o IVA e o governo. Se não for, matam o brasileiro e voltam às férias como de costume. "Deprimidos"? Qual "deprimidos"! »

ELE HÁ COISAS QUE SÃO "DO PIOR"

«Passava ali a vida, sentada no meu cubículo, o meu local de engorda, um espaço com apenas 2 metros quadrados demarcado por duas mesas de fórmica dispostas em forma de L. Dei cabo da vista em virtude de passar os dias a esforçá-la, cega pela luz fantasmagórica do computador, e a cla­ridade excessiva das lâmpadas halogéneas e a constante inclina­ção forçada sobre o teclado provocaram-me umas dores de costas espantosas. Duas dioptrias e escoliose, assim, de uma vez só. E tudo por um salário de merda porque, como esta vossa criada era estu­dante, tinham-lhe feito um contrato à experiência, o que, em lín­gua de gente, quer dizer que vergava a mola como os restantes mas ganhava muito menos. E isso não era o pior. O pior era o gado com que tinha de lidar diariamente. O pior eram aquelas secre­tárias repintadas, empoleiradas nos seus Gucci de imitação, com o cabelo transformado em fibra de estopa graças aos modelado­res e às madeixas douradas, que nunca na vida tinham lido outra coisa para além da Supertele e da Diez Minutos, que só sabiam falar do filme que tinham visto na televisão na noite anterior e do novo namorado da Chabeli e dizerem mal umas das outras. O pior era aquele chefe de pessoal que afirmava que tinha de se reintroduzir a pena de morte para acabar de vez com o terrorismo e que ficava a olhar-me para as mamas, com o maior descara­mento, cada vez que subíamos juntos no elevador. O pior eram aqueles delegados comerciais que chegavam todas as manhãs ao escritório precedidos por uma baforada de colónia barata, com os seus fatos mal cortados modelo Emidio Tucci comprados no Corte Inglês, que lhes faziam saliências nas virilhas e rugas nos ombros, e que lhes ficavam sempre demasiado curtos ou demasiado compridos – escravaturas do pronto-a-vestir, quando uma pessoa não tem dinheiro para comprar um fato por medida mas gostaria de aparentar que sim
Lucia Etxebarria, in "Amor Curiosidade Prozac e Dúvidas".

sábado, 10 de junho de 2006

EMPOBRECIMENTO ESPIRITUAL

«O sofrimento do homem índio, ao assistir à morte do seu modo de vida, nunca foi inteiramente compreendido pelo homem branco, e talvez nunca o venha a ser. Quando Black Elk, um profeta dos Sioux Oglala, fala da «beleza e singularidade da terra», refere-se à veneração do meio ambiente quotidiano, um meio ambiente que se encontrava numa integral interdependência com a vida do Índio. A destruição dos rebanhos selvagens e a invasão das terras ancestrais conduziram à degenerescência e à morte duma certa forma de vontade e dum certo estado de espírito dos povos índios. O que os Índios eram não poderia, sem um empo­brecimento espiritual grave, ser separado do seu habitat e do modo como nele viviam.
Os Índios, neste livro, falam por si mesmos da qualidade de vida que era a sua. As passagens apresentadas provêm de discursos e, mais recentemente, de artigos de índios que vivem em todas as regiões do continente norte-americano, entre os séculos XVI e XX. Referem-se sempre com uma atenção respeitosa à terra, aos animais, aos objectos que constituíam o território onde viviam; não viram mérito nenhum no facto de imporem a sua própria vontade àquilo que os rodeava; a quase totalidade dentre eles considerava a propriedade privada como o caminho conducente à pobreza, e não à riqueza. A sua razão de viver identificava­-se com as suas relações recíprocas, e as suas relações com a terra natal; a memória dava profundidade e ressonância a este conjunto.»
Teri C. McLuhan, in " A Fala do Índio".

sexta-feira, 9 de junho de 2006

À MARGEM DO SISTEMA

«A identificação da Igreja com a sociedade organizada constitui a característica fundamental que distingue a Idade Média, tanto dos períodos históricos que a antecedem, como dos que lhe sucedem. Numa medida mais ampla, caracteriza a história europeia, desde o século IV ao século XVIII, isto é, desde Cons­tantino a Voltaire. Teoricamente, durante todo este período, só os crentes ortodoxos e obedientes usufruíam dos direitos da cidadania integral. Mas, no ocidente da Europa, tal doutrina só conseguiu plena vigência prática a partir do século VII. E, ao chegar ao século XVII, encontrava-se já tão marcada por excepções e contradições que se tornara inconcebível, mesmo idea1mente. Durante os primeiros séculos, contudo, as excepções mostravam-se raras, pelo que, razoavelmente, podia supor-se que tenderiam a desaparecer.
Na verdade, sempre existiram indivíduos à margem do sis­tema, mesmo dentro da área geográfica da cristandade ocidental, embora no melhor dos casos se tratasse de pessoas com direitos muito limitados. No pior dos casos, não possuíam sequer o direito de viver e, na melhor das hipóteses, eram judeus. As suas vidas e bens elementares encontravam-se protegidos pela lei eclesiástica e pelos interesses egoístas dos príncipes. Não podiam ser suprimidos pelo simples facto de serem judeus; não podiam ser convertidos à força; não podia retirar-se-lhes os filhos, para lhes dar educação cristã; permitia-se-lhes a prática da sua reli­gião, desde que não fizessem obra de proselitismo. Mas os governantes nada mais concediam que a estrita autorização de sobre­viverem como pudessem. «Por causa dos seus pecados» [da descrença], escreveu São Tomás de Aquino que,

sujeitos à servidão perpétua, os seus bens dependem do arbítrio doa governantes; estes não devem espoliá-los a um ponto tal que se vejam privados dos meios de subsistência,

Se tal era o caso da classe mais privilegiada dos seres marginais, dos consentidos inimigos de Deus, nem sequer se con­cedia o direito à vida aos que abandonavam a fé cristã e prefe­riam viver longe desta, por sua livre escolha. Viam-se varridos da existência pelo zelo popular, pela censura eclesiástica e acima de tudo pelo rigor de uma lógica imperturbável:

A heresia [de novo citamos Tomás de Aquino] é um pecado que, merece não só a excomunhão, mas também a morte, por ser pior corromper a Fé, que é a vida da alma, do que falsificar moeda, que governa a vida secular. E se os falsificadores são justamente eliminados pelos príncipes, como inimigos do bem comum, os here­ges merecem sem dúvida o mesmo castigo.

Numa palavra, a Igreja formava uma sociedade repressiva, tal como o é hoje o Estado moderno. Assim como este exige aos que se tornaram seus membros, por acidente de nascimento, que cumpram as leis, que contribuam para a defesa e para os serviços públicos e que subordinem os interesses particulares ao bem geral, também a Igreja da Idade Média exigia a todos os que se haviam tornado seus membros pelo acidente (chamemos­-lhe assim) do baptismo, a obrigatoriedade de lhe obedecerem em todas as suas normas.
O problema de determinar como se transforma uma dada pessoa num membro de certa comunidade política, preocupou bastantes teorizadores das origens e formação do Estado moderno. Mas, para os doutrinários do Estado-Igreja medieval, tal pro­blema afigurava-se-Ihes fácil, pois a resposta consistia no bap­tismo, em que os padrinhos aceitavam, em nome da criança, determinados compromissos que a condicionaram legalmente durante toda a vida. De um ponto de vista social, estabelecia-se um contrato entre a criança e a Igreja, que não podia deixar de ser cumprido. O baptismo era assim, para a maior parte dos membros da Igreja, tão involuntário como o nascimento, e signi­ficava obrigações de um tipo permanente e coercivo, semelhantes às que aquele representa no Estado moderno, com a agravante de não poder renunciar a elas.»
R. W. Southern, in "A IGREJA MEDIEVAL"

quinta-feira, 8 de junho de 2006

AFINIDADES

«O termo regionalismo, porém, não descreve adequadamente o que está a acontecer. As regiões são entidades geográficas, e não políticas ou culturais. Como acontece com os Balcãs ou o Médio Oriente, as regiões podem estar afectadas por conflitos inter e intracivilizacionais. As regiões são a base para a cooperação entre os Estados só quando a geografia coincide com a cultura. Na ausência de afinidade cultural, a pura vizinhança não suscita laços comunitários e pode mesmo pro­duzir o oposto. As alianças militares e as associações económicas pressupõem cooperação entre os seus membros, a cooperação depende de confiança e esta nasce mais facilmente de valores e de cultura comuns. O tempo e a finalidade são decisivos nesta questão. No entanto, a eficácia global das organizações varia, geralmente, na razão inversa da diversidade civilizacional dos seus membros. As organiza­ções baseadas em laços civilizacionais são muito mais activas e têm mais sucesso do que as organizações multicivilizacionais. Isto é tão verdade para as organizações políticas e de segurança como para as organizações económicas e de outra natureza
Samuel P. Huntington, in " O Choque das Civilizações e amudança na Ordem Mundial ".

quarta-feira, 7 de junho de 2006

EXALTAÇÃO NACIONAL

O sr. engenheiro Manuel Queiró referiu, hoje no Público, o que lhe vai na alma sobre a nossa Selecção e o Mundial. Ao longo do últimos dias já muitas têm sido as opiniões expressas sobre a ilusão do futebol e sobre o "circo" montado à volta da selecção. Mas fiquemos com as palavras do sr. Queiró:

«Para me proteger de desilusões resolvi criar uma distância psicológica entre a minha paixão pelo futebol e o destino da selecção no Mundial da Alemanha. Já basta o que vou sofrer quando chegarem os jogos, e esforço-me por manter uma frieza sobre o que se passa até lá. Talvez por isso me esteja a irritar com o circo que a Federação e as televisões montaram à volta dos jogadores. E ao mesmo tempo a minha visão sobre a equipa ficou muito diferente do que é costume.Cheguei à conclusão de que os jogadores não estão na Alemanha para ganhar coisa nenhuma. A sua função é mesmo a de serem os protagonistas de uma festa de exaltação nacional. Cada minuto que dedicam à recuperação física de uma época desgastante, ou ao recobro da concentração competitiva é um minuto roubado ao convívio com os emigrantes, às conferências de imprensa, aos autógrafos, às paradas motorizadas entre hotéis e campos de jogos e outras manifestações de "carinho" do bom povo português

terça-feira, 6 de junho de 2006

À FORÇA DE INVENTARMOS NECESSIDADES, REDUZIMOS O NOSSO CAMPO DE LIBERDADE

Com a devida vénia, transcrevo um post de um blog chileno, que muito prezo, de JORGE GAJARDO ROJAS, pela acuidade da exposição.
«Los estereotipos dicen que los chilenos somos muy amantes del orden y tambien muy conservadores. Pero somos amantes de la libertad? O más bien le tenemos temor. No hemos hecho en nuestra historia ninguna revolucion buena o mala. El otro dia un americano hablaba del dilema del hombre actual en conflicto entre su necesidad y su libertad. Y como a fuerza de inventarnos necesidades reducimos nuestro campo de libertad. No hacemos lo que debemos como sociedad porque creemos falsamente que no es debido o bien no nos sentimos capaces. Eso es peligroso para una sociedad porque nos inmoviliza y nos hace creer como natural cosas que no lo son y que vivimos en un orden inmutable. Esto a raiz de la movilizacion de los estudiantes. Han hecho algo nuevo. Han puesto sobre la mesa su vision de su mundo y del cual formamos parte,crudo,muy real pero lleno de utopia. Quieren ser mejores mujeres u hombres y lo han dicho muy asertivamente. Nos han desconcertado a todos con su sentido de organizacion , solidaridad rompiendo incluso barreras sociales y por la claridad que han tenido en decirnos lo que quieren. Han rechazado sin estridencias los paternalismos y con eso han descolocado a los politicos,expertos en el tema no solo educacional, sino a las autoridades e incluso a sus padres pero mostrando que ya son adultos y con sentido comun. Esto es bueno para una sociedad como la nuestra con tanto smog intelectual y emergencias de contaminaciones morales continuas, porque han hecho algo inedito, despertar a toda una sociedad e iniciar lo que puede ser el comienzo de un un salto adelante del cual todos solo hablamos,(revolucion tecnologica,economica,social),que permita a Chile dar el gran salto adelante que tanto necesitamos.»

INGOVERNÁVEL

Rui Rio « Acha que o regime democrático está cada vez mais enfraquecido e condicionado pelos grandes interesses, pelas corporações e pelos poderes fácticos, como a Comunicação Social. E que Portugal caminha para ser ingovernável. O problema é político, afirma. »
Isto foi dito muma entrevista ao Correio da Manhã em 4.6.2006.
Rui Rio é Presidente da Câmara Municipal do Porto e já foi Secretário Geral do PSD. Se ele o diz, e anda no meio da política, é porque tem conhecimento de causa para o afirmar. Não sou eu que sou pessimista. Leiam a entrevista.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

DO LUCRO

«O primeiro tema tem a ver com o facto de o objectivo do lucro ter penetrado áreas às quais não pertence. Estou particularmente preo­cupado com a forma como os valores de mercado fizeram desaparecer os valores profissionais. Verifica-se que os valores éticos, que outrora se pensava serem intrínsecos, não estão a resistir muito bem às pressões do mercado. Criei programas para tratar deste problema nas áreas do Direito e da Medicina, que nos últimos anos têm vindo a assemelhar­-se cada vez mais a negócios em vez de profissões. Pareceu-me fácil e gratificante apoiar o interesse da opinião pública e os serviços públicos que mantêm as melhores tradições e padrões nas áreas do Direito e da Medicina. Foi mais difícil, para uma fundação que abordava a questão de fora dessas profissões – embora contasse com o aconselhamento e a participação de muitos dos seus membros –, influenciar o núcleo, ou a corrente principal, dessas disciplinas. Neste ponto, a fundação continua a tentar descobrir o meio mais adequado para influenciar os acontecimentos, mas estamos já a fazer progressos. As pressões do mercado também estão a afectar o jornalismo, a actividade editorial e os comportamentos profissionais e éticos no mundo das finanças, mas ainda não descobrimos as portas de entrada adequadas.»
George Soros, in "A CRISE DO CAPITALISMO GLOBAL - A Sociedade Ameaçada".
Julgo que este trecho apoia o que expus no post anterior.

domingo, 4 de junho de 2006

OS MONSTROS QUE A DEMOCRACIA INCREMENTA

A democracia é um sistema cheio de vulnerabilidades. Ao querer assegurar todos os direitos e todas as garantias, permitiu que os agentes do mal usassem esses direitos e garantias para prossecução dos seus intentos. A democracia (e refiro-me sempre ao modelo ocidental) permitiu que os lugares de decisão política fossem ocupados por pessoas que não visam o bem-estar da sociedade, pois visam os seus interesses e os das organizações pouco nobres que servem e a que estão sujeitos.
A corrupção é fruto do que acabei de expor.
Mas é a democracia ocidental e as suas sociedades que incrementam o mal. Senão vejamos. O tráfico de mulheres, esse comércio ignóbil, só é possível porque existe um mercado no seio das democracias ocidentais para esse negócio. São as sociedades das democracias ocidentais, mais ricas, que alimentam esse tráfico. A droga é também um negócio canalizado para onde há dinheiro que possa alimentar um tráfego sempre incrementado. A pornografia é outra mercadoria que resulta num negócio altamente rentável. A indústria do entretenimento também explora todas facetas possíveis de renderam dinheiro fácil. E tudo isto com a permissividade das democracias, que por debilidade alimentam todas as formas de rentabilizar os investimentos do dinheiro. A democracia cedeu nos princípios, irá ceder nos objectivos. Vai sucumbir às mãos de quem defendeu. Não quero ser moralista nem catastrófico. Mas lembro-me sempre da decadência do Império Romano e das suas consequências. A regressão na evolução social e do conhecimento que se seguiu à queda do império, teve custos pesados para a Europa. O padrão de desenvolvimento de aquisição de conhecimento, de progresso das artes, de aplicação do direito, enfim, de elevar a dignidade humana levou muitos anos até ser de novo atingido. Os romanos entraram em decadência por excesso de bem-estar. Às sociedades ocidentais parece acontecer o mesmo. Vamos a ver como resulta.
Colombine, pedofilia, esta semana os miúdos que, na Grécia, mataram e queimaram outro, o desemprego, a xenofobia, os radicalismos, mais pedofilia (quase sempre homossexual masculina), redes de prostituição, mais mortes aqui e ali e os benditos dos telejornais a banalizarem tudo isto, servidos ao jantar como sobremesa. Que mundo a democracia ocidental criou ou subverteu. Eu sei que as pessoas se demitiram dos seus deveres de cidadãos e, com isso, permitiram que os agentes do mal se apossassem desses seus deveres. E agora estão os cidadãos presos e acobardados, acantonados nas suas casas, quase sempre com medo da rua, da noite, dos transportes e da própria sombra. Deixaram de ler, de apreciar arte, deixaram de se cultivar. Presos da sua própria inércia. E as consequências estão por aí à espreita da oportunidade de dominarem. Acaba de ser criado, na Holanda, um partido que defende a pedofilia e que pretende legalizar uma série de procedimentos tidos como ilegais e imorais. A seguir outros partidos de outras coisas não menos ortodoxas surgirão. Depois surgirão os radicalismos. E a democracia anda a incrementar todos estes monstros, porque lhes defende, na sua santa ingenuidade de pugnar por princípios, os direitos das suas aberrações. A democracia gerou em si os seus próprios cancros.

sábado, 3 de junho de 2006

A CAUDA DA EUROPA

«- Portugal, nos últimos cem anos, experimentou todo o tipo de gover­nos: monarquia e república; ditadura e democracia; esquerda e direita. Pratica­mente tudo.

E, no entanto, Portugal continua na cauda da Europa.
Melhor que há cem anos? Sem dúvida. Mas os outros também melho­raram. E por isso Portugal continua pior que eles. Na cauda da Europa.
Porquê? É que Portugal experimentou tudo, tudo, excepto mudar de mentalidade. Mudar o que é normal e não é. O que é aceitável e não é aceitá­vel. Os direitos e deveres que cada um pensa que tem. O nível de exigência. Esta é a grande revolução que falta fazer em Portugal.
Uma revolução mais exigente que o 28 de Maio ou o 25 de Abril, porque tem a ver com aquilo que é mais difícil mudar em nós: a nossa cabeça
Jorge A. Vasconcelos e Sá, e outros, in "Portugal Europeu?".

ÁLVARO MONJARDINO

Pelo que vi na promoção do programa Conversa Aberta, na RTP Açores, a exibir na 2ª Feira, dia 5, a conversa com o Dr. Álvaro Monjardino é de não perder. Ajudará muita gente a ver para lá da bruma. E, seguramente, não se corre o risco de se ouvir patetices.
Para quem não poder ter acesso ao canal, sempre o pode ver aqui, na net.

ELUCIDATIVO

Projecto de resolução sugere o dia 6 de Junho como o "Dia Nacional do Cão". Vejam aqui a notícia.
Com tantos e cruciais problemas que o país tem neste momento, os deputados não são capazes de alcançar mais do que assinalar dias nacionais para o cão. Agora já percebem porque é que eu clamo tanto contra a incompetência dos políticos. E a sua consequente inutilidade, em Portugal. Não só são inúteis como prejudiciais.
Hoje, na TSF, Belmiro de Azevedo disse que mais cedo ou mais tarde Portugal vai sair da zona Euro. Ou sai pelo seu próprio pé ou é, simplesmente, expulso. Se nada for feito para mudar a situação do país. Eu não vejo nada a ser feito.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

CONTRASTE

Com a devida vénia, transcrevo do blog "LÓBI DO CHÁ" o seguinte post, que está conciso mas bastante elucidativo do mal português, por analogia com os nossos vizinhos:

«Semântica de contraste

Ouvir o Estado da Nação espanhol, com a presença do Presidente do Governo, pode ser alucinante. Zapatero levava bons argumentos para o Parlamento:

- um milhão e trezentos mil novos empregos, em dois anos;
- crescimento de 3,5%;- superavit orçamental de 1%;
- aumento do investimento público;
- aumento das prestações sociais.

Nota posterior: Depois de ver o primeiro-ministro português chegar a Évora, onde vai dar força aos jogadores de futebol, voltei para a TVE. Ainda a debater, Zapatero assegura que haverá diminuição da carga fiscal brevemente. »

quinta-feira, 1 de junho de 2006

A CÓLERA DOS FLEUMÁTICOS

Estas palavras de D. António Ferreira Gomes, do post de ontem, ainda me ecoam na mente. Será que caminhamos para uma situação de guerra civil quando os portugueses se virem na miséria e desesperados? No programa "Prós e Contras" de 29.05.2006 tal foi lá aflorado. Até onde nos levará o desespero? Entretanto ninguém me respondeu à minha pergunta de anteontem, pelo que julgo que ninguém sabe.
Adensam-se nuvens negras.
As palavras de Medina Carreira e de Silva Lopes não estão a ser levadas a sério. Mas um dia será inevitável o encontro dos portugueses com a realidade. E aí .......