segunda-feira, 29 de junho de 2009

TEMPOS NEBULOSOS

Depois de problemas com o PC voltei ao activo. Para aclarar as coisas, que andam muito nebuladas, veja-se o programa «DIGA LÀ EXCELÊNCIA» aqui, com o Prof. Adriano Moreira.
Mas em tempo de guerra - e a guerra virá um dia - não é defensável [a Europa] porque os corações nacionais se aninharam no pacifismo. Disse José Cutileiro no excelente artigo «A EUROPA DAS PÀTRIAS» aqui, no Expresso de 16.06.2009. Que é um compêndio de ciência política.
Ler «O JUÍZO FINAL» de Franco Nogueira e ler todo o Comandante Virgílio de Carvalho também será muito esclarecedor.
E por último o discurso do António Barreto no 10 de Junho.

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Santarém, 10 de Junho de 2009
António Barreto

Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia da República, Senhor Primeiro-ministro,
Senhores Embaixadores,
Senhor Presidente da Câmara de Santarém,
Senhoras e Senhores,
Dia de Portugal... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.
Várias vezes este dia mudou de nome. Já foi de Camões, por onde começou. Já foi de Portugal, da Raça ou das Comunidades. Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.
Há mais de cem anos que se celebra Camões e Portugal. Com tonalidades diferentes, com ideias diversas de acordo com o espírito do tempo. O que se comemora é sempre o país e o seu povo. Por isso o Dia de Portugal é também sempre objecto de críticas. Iguais, no essencial, às expressas por Eça de Queirós, aquando do primeiro dia de Camões. Ele afirmava que os portugueses, mais do que colchas às varandas, precisavam de cultura.
Estranho dia este! Já foi uma "manobra republicana", como lhe chamou Jorge de Sena. Já foi "exaltação da raça", como o designaram no passado. Já foi de Camões, utilizado para louvar imperialismos que não eram os dele. Já foi das Comunidades, para seduzir os nossos emigrantes, cujas remessas nos faziam falta. E apenas de Portugal.
Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. "As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares", disse também Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, um povo que se julga Camões. Que é Camões. Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.
Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.
Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade.
Garantimos com altivez que Camões é o grande escritor da língua portuguesa e um dos maiores poetas do mundo, mas talvez fosse preferível estudá-lo, dá-lo a conhecer e garantir a sua perenidade.
Afirmamos, com brio, que os portugueses navegadores descobriram os caminhos do mundo nos séculos XV e XVI e que os portugueses emigrantes os percorreram desde então. Mais vale afirmá-lo com o sentido do dever de contribuir para a solidez desta comunidade.
Dizemos, com orgulho, que o Português é uma das seis grandes línguas do mundo. Mas deveríamos talvez dizê-lo com a responsabilidade que tal facto nos confere.
Quando se escolhe um português que nos representa, que nos resume, escolhe-se um herói. Ele é Camões. Podemos festejá-lo com narcisismo. Mas também com a decência de quem nele procura o melhor.
Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.
Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.
As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. Na verdade, comemorar Portugal e festejar os Portugueses pode ser acto de lucidez e consciência. No nosso passado, personificado em Camões, o que mais impressiona é a desproporção entre o povo e os feitos, entre a dimensão e a obra. Assim como esta extraordinária capacidade de resistir, base da "persistência da nacionalidade", como disse Orlando Ribeiro. Mas que isso não apague ou esbata o resto. Festejar Camões não é partilhar o sentido épico que ele soube dar à sua obra maior, mas é perceber o homem, a sua liberdade e a sua criatividade. Como também é perceber o que fizemos de bem e o que fizemos de mal. Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. Civilizámos, mas também colonizámos sem humanidade. Soubemos encontrar a liberdade, mas perdemos anos com guerras e ditaduras.
Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.
Há mais de trinta anos, neste dia, Jorge de Sena deixou palavras que ecoam. Trouxe-nos um Camões humano, sabedor, contraditório, irreverente, subversivo mesmo.
Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo.
Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.
Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo,
submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.
Mudou até a constituição do povo. A sociedade plural em que vivemos hoje, com vários deuses e credos, com dois sexos iguais, com diversas línguas e muitos costumes, com os partidos e as associações que se queira, seria irreconhecível aos nossos próximos antepassados.
A sociedade e o país abriram-se ao mundo. No emprego, no comércio, no estudo, nas viagens, nas relações individuais e até no casamento, a sociedade aberta é uma novidade recente.
A pertença à União Europeia, timidamente desejada há três décadas, nem sequer por todos, é um facto consumado.
A estes trinta anos pertence também o Estado de protecção social, com especial relevo para o Serviço Nacional de Saúde, a segurança social universal e a escolarização da população jovem. É certamente uma das realizações maiores.
Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal.
A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. 0 favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração. A nossa pertença à União Europeia não é claramente discutida e não provoca um pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente.
Há poucos dias, a eleição europeia confirmou situações e diagnósticos conhecidos. A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos. É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos. A pertença à Europa é, para os cidadãos, uma metafísica sem tradição cultural, espiritual ou política. Os Estados e os povos europeus deveriam pensar de novo, uma, duas, três vezes, antes de prosseguir caminhos sem saída ou falsos percursos que terminam mal. E nós fazemos parte desse número de Estados e povos que têm a obrigação de pensar melhor o seu futuro, o futuro dos Portugueses que vêm a seguir.
É a pensar nessas gerações que devemos aproveitar uma comemoração e um herói para melhor ligar o passado com o futuro.
Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.
Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.
Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.
Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.
Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.
Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.
Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.
Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.
Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.
Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.

terça-feira, 16 de junho de 2009

ESTAVA A DEMOCRACIA EM FUROR PLENO DE BANDITISMO

Da revista «ILLUSTRAÇÃO CATHOLICA», número 260 - Anno V, 22 de Junho de 1918.
Leiam com atenção. Cliquem na imagem para ampliar a foto e poderem ler bem. E digam lá se o titulo do post, retirado do texto, não se aplica bem hoje.

sábado, 13 de junho de 2009

A CRISE É DE COMPETÊNCIAS

Vejam o início de um artigo da autoria do sr. J. de Faria Machado, publicado na «ILLUSTRAÇÃO CATHOLICA» no dia 2 de Março de 1918, no numero 244 - Anno V.




Vivemos positivamente aos encontrões. A crise é de competencias, Ninguem se prepára para a lucta da vida, mas todos se dispõem a vencer . A diffusão do ensino egualou as ambições mas como foi, e é ministrado incompetentemente, desgraçadamente, longe de preparar homens, impulsionou arrivistas, e repercutindo os seus effeitos na grande massa, tem funestas consequencias. O ensino não educou, confundiu. Foi ao campo, à officina e arrancou lhe braços, desviou vocações, torceu destinos. A instrucção ficou á superficie, como uma nodoa, alastrando ambições. A burocracia foi tomada d'assalto e relegado para o canto inutíl, a industria e o trabalho profissional.
O homem do campo já remediado empurrou o filho para longe da sua esphera d' acção, desligou-o da tradição, que foi durante seculos a força propulsora da nossa industria rural. Desligou-o da terra, apartou-o do seu meio e do seu destino e em vez de o educar para o amanho da terra onde poderia prosperar, enriquecer, cultivando intelligentemente, dominando a rotina, atirou-o para o Iyceu, Arrastou sete annos de cabulagem e á custa d'empenhos. de suplicas, de subserviencias, lá foi até Coimbra onde reeditou a mesma calamitosa illustração d' empenhoca e fez-se Bacharel. Um dia encontrou-se com o tradicional canudo cheio de cartas e com o espírito vazio d'ideas, muito cheio de palavra pomposas mas inteiramente despido d'aptidôes. E como não podia advogar, ingressar na magistratura, concorrer a qualquer emprego, o que necessitava, estudo, conhecimentos, illustração, lançou-se abertamente na politica e começou a sua vida aos encontrões. Como não podia selientar-se pelo talento impoz-se pela população. Foi o instrumento cego do cacique, perseguiu, tripudiou, e quando não pode ser intelligente foi cruel, quando era preciso ter criterio mostrou simplesmente ferocidade, Podendo ser um homem foi um capacho.
Mas prosperou, subiu. Aos encontrões a tudo e a todos, minando intrigas, odiento, servil, correu a hierarchia politica e um dia o acaso, os seus serviços, as suas tranquibernias, fizeram-o notar dos chefes - foi Ministro. Sem um plano, sem uma idêa, cortou largo nas reformas nacionaes, legislou á toa, governou ao acaso, não teve escrupulos, não teve receios e ... , venceu.


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Agora digam lá se não andamos, sempre, ano após ano com os mesmos amargos.



quarta-feira, 10 de junho de 2009

UM BOM AVISO

Trata--se de assumir que não é dispensável a solidariedade atlântica, com a definição actual envelhecida, ou com a redefinição que o globalismo desordenado requer, porque a capacidade europeia está fragilizada pela carência de matérias-primas, pela carência de energias não renováveis, pela carência de reserva estratégica alimentar, e está agora atingida pelo desastre financeiro mundial e pelos seus efeitos na economia real.
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Adriano Moreira, no artigo «A segurança Europeia», publicado no DN de ontem.

domingo, 7 de junho de 2009

O QUE SOMOS NA EUROPA?

Esta é uma questão nebulosa. Já que hoje estamos el eleições com a Europa queria aqui deixar duas reflexões.Espero que estes dois textos vos permitam amadurecer as vossas reflexões. Sou um pessimista nato. E vejo o país tomado por gente medíocre, que mais não faz do que se perpetuar no poder. E usufruir. Legislam em função dos seus interesses privados. Legislam de forma a bloquear o acesso à governança a outros que não eles, e de forma democrática, ou melhor, usando o sistema democrático para isso. E não estou a ver solução imediata para os fazer saltar da toca. Estão acantonados. E o país adiado. Só não sei se aguenta muito ser adiado. Estou descrente. Mas eis aqui as duas reflexões:

Uma, o artigo de José Eduardo Franco «O MITO DA EUROPA EM PORTUGAL», Publicado na revista NOVA ÁGUIA, nº1, 1º semestre, 2008.

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A Europa tornou-se, desde o Marquês de Pombal, um tema omnipresente e recorrente política e ideológica. A Europa tornou-se para nós menos um continente com um território geograficamente delimitado e mais uma ideia e acima de tudo um mito.
A obsessão pela Europa, por uma Europa culta, por uma Europa do progresso que precisamos de imitar, seguir e copiar se, por um lado nos tem mobilizado, por outro tem-nos gravemente paralizado e abatido a auto-estima colectiva. A Europa tornou-se para nós modelo e limite.
O século XIX desmascarou, pela voz dos intelectuais dominantes, a nossa decadência extrema e lamentou o nosso grave afastamento da Europa, lançando-nos para a última carruagem do comboio do progresso europeu.
O Portugal do século XX andou boa parte do tempo preocupado com a Europa, ora para a tentar imitar, ora para a evitar com o Estado Novo e com a sua censura aos ventos do pensamento avançados que sopravam da lado de lá dos Pirinéus.
A nossa Democracia recuperou a velha obsessão pela Europa, a velha obsessão pombalina, acreditando que resolverá todos os nossos problemas se nos entregar ao sedutor projecto de um continente unido.
Mas a distância entre nós e a Europa parece não querer esbater-se tão rapidamente como se esperava. Quase todos os dias vemos indicadores, estatísticas nos jornais que acusam a nossa triste lonjura da Europa na Educação, nos salários, na saúde, etc. Europa, a Europa, a Europa, quando seremos como tu! E o sentimento de crise toma conta de nós. Ou melhor, nunca mais nos largou! Somos o país-sempre-em-crise, o país-caudada-Europa. Porquê? Porque não somos iguais aos nossos pares europeus, não somos iguais à Europa?! Dessa ideia de Europa que nem sempre somos capazes de concretizar nem definir, uma ideia mais abstracta do que concreta, mas que condiciona e fere de depressão a nossa autoestima nacional.
Urge exorcizar o mito da Europa-sempre-melhor-do-que-nós que nos possui e nos atormenta desde o tempo do iluminismo, quando através da propaganda de Pombal ganhámos o complexo terrível de país-cauda-da-Europa. Se é evidente que a ideia de Europa, carregada de imaginário (como carregada de imaginário é a ideia de que no tempo dos Descobrimentos fomos a vanguarda da Europa), tem a virtualidade de nos inquietar e de procurarmos mais e melhor, tem também inoculado a perigosa doença real de lançar-nos numa insatisfação permanente, de nos minar a auto-estima, de nos criar uma consciência de crise que nos tolhe a capacidade de empreendedorismo que também precisamos de estimular.
Precisamos de exorcizar esse mito platónico de uma Europa ideal impossível de alcançar e voltarmos a acreditar em nós próprios, de valorizar aquilo que temos e fazemos de bom, e em alguns casos até melhor do que essa Europa que idealizamos, para ousarmos ir mais longe e vencer a batalha do futuro, à nossa maneira e com as nossas possibilidades, sem desejos doentios de imitações. De facto as imitações nem sempre são o melhor remédio. Melhor que imitar a Europa importa recriar as nossas potencialidades empreendedoras como país europeu virado para o Atlântico, recuperando a nossa herança histórica de povo ecuménico capaz de criar universalidade e de potenciar riqueza nas relações entre povos e culturas diferentes.
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A outra feflexão é do incontornável livro «JUÍZO FINAL» de Franco Nogueira. Por mais voltas que dê, este livro está-me sempre na mira quando derramo o olhar sobre o futuro actual de Portugal.
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Ainda em António José Saraiva: «É confrangedor assistir entre os intelectuais portugueses à falta de confiança nas próprias raízes, ao complexo que os faz humilharem-se perante qualquer mirabolância insignificante vinda lá de fora» (A. J. S., Vida Mundial, 7-V-71). Em seguida, os Portugueses são excessivamente impressionáveis e crédulos, e sempre prontos a aceitar, a acreditar, a tomar como ponto de fé e como verdades o que os outros lançam no mundo, tendo em conta os seus interesses e não os de Portugal, e os ideais que os outros inventam e propagam tendo em mente os seus interesses e não os de Portugal. É assim, para citar apenas alguns exemplos mais recentes historicamente, que muitos portugueses acreditaram sucessivamente que o futuro de Portugal estava com Napoleão, e depois com a Santa Aliança, e depois com a Sociedade das Naçõess, e depois com as Nações Unidas, e depois com a paz e a solidariedade universais, e assim até ao infinito. Aderem por isso aos modelos estrangeiros, e seguem-nos, julgando que são modernos e avançados, jogando os interesses nacionais num só «cesto», como se este fosse eterno. Por outro lado, não atentam suficientemente na sua história, e não parecem capazes de identificar os interesses nacionais permanentes e vitais, e por isso não descobrem no que os outros propõem aquilo que pode prejudicar tais interesses. Nem tão-pouco vêem por detrás do que os outros dizem ou fazem, aquilo que os outros escondem; e dir-se-ia que tomam tudo como novo e definitivo, porque os tempos lhes aparecem novos e outros. Finalmente, os Portugueses querem sempre beneficiar de tudo, e estão prontos a apoiar uma política, para retirar os seus benefícios, e a política contrária a essa, para retirar outros benefícios, mas sem querer fazer sacrifício por qualquer das duas.
Erros históricos são aqueles de que um povo apenas toma consciência ao cabo de duas ou três gerações. Todas as elites portuguesas, em todas as épocas, os têm cometido. E mais tarde, outras elites, ainda que do mesmo tipo, procuram corrigi-los.
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Mas eu pergunto, depois de Franco Nogueira, quanto mais tarde essas outras élites?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

OS PIRATAS DE UNS SÃO A GUARDA-COSTEIRA DE OUTROS

De autoria do etíope K' NAAN, no artigo "OS PIRATAS DO DESESPERO", no «Courrier Internacional» de Maio deste ano, transcrevo o seguinte:


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Nessa época, os pescadores locais denunciavam já as embarcações que entravam ilegalmente nas águas somalis e roubavam todo o peixe. Ao mesmo momento, foi encetada uma prática mais sinistra e desprezível. A empresa suíça XXXX e a italiana XXXXX fizeram um acordo com Ali Mahdi que as autorizava a depositar contentores de resíduos nas águas somalis. Estas firmas pagavam aos senhores da guerra três dólares [pouco mais de 2 Euros] por tonelada, quando, na Europa, desembaraçar-se de uma tonelada de desperdícios custa à volta de mil dólares [758 Euros].
O «tsunami» de 2004 rebentou vários contentores, cujo conteúdo se espalhou pela costa, e milhares de pessoas da região da Puntlândia começaram a queixar-se de perturbações graves e sem precedentes: hemorragias abdominais, úlceras cutâneas e vários sintomas semelhantes ao cancro.
É tempo de o mundo dar aos somalis garantias de que estas actividades ocidentais ilegais cessarão quando os nossos piratas puserem termo às suas operações. Não queremos que a UE e a NATO protejam os bandidos que se desembaraçam dos desperdícios nucleares para cima de nós. Esta crise é uma questão de justiça. Os piratas de uns são a guarda-costeira de outros.
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Neste mundo nada é simples, nem a verdade é transparente. Isto digo eu.

domingo, 31 de maio de 2009

ENQUANTO RAZÃO, A PÁTRIA É UMA ENTIDADE ESPIRITUAL.

Já por aqui referismo a revista «57». Uma excelente aventura de António Quadros, e não só. O seu "Manifesto" sobre a A Pátria deve ser analisado com muita atenção. Mas vejam aqui o post "Pátria, nação e mátria" sobre esse manifesto no blog «Cadernos de Poesia Extravagante»

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A PENSAR PORTUGAL

Pensar Portugal a partir da sua tradição. É o lema do excelente blog «O Lugar da Alma», com link ao lado, que recomendo aos meus leitores e a todos os que estudam e reflectem Portugal e a cultura, que dizem, Lusa. Nunca é demais o estudo. Se não acrescenta sabedoria, acrescenta maturidade à reflexão.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O NOSSO QUERER


E porque hoje, nas complicações extenuantes da velhice, com o cérebro avassalado por tradições de muitos séculos, com o sangue envenenado por drogas de várias origens, com as lembranças do providencialismo absolutista, com as basófias da grandeza antiga, com o bafio das sacristias a perverter-nos o olfacto e o vício do milagre a entorpecer-nos a acção, desmoralizados pelos desenganos, vergando sob o peso esmagador de um passado que nos deixou nos carunchosos guarda-roupas históricos velhos mantos gloriosos roídos já pela traça: porque hoje falta-nos aquele viço da pujança antiga desabrochando nos actos dessa energia simples com que as nações afirmam a vontade irredutível de existirem.
O nosso querer é apenas platónico, incapaz de nenhuma espécie de sacrifício. Não somos tão simples que o não sintamos: o português é inteligente. O que nos falta é a mola íntima, rija de aço, que se partiu. Por isso buscamos iludir-nos como os doentes desenganados. Deitamo-nos aos anestésicos. Com o éter da finança esquecemos a anemia económica e com o clorofórmio da jogatina suprimos a fraqueza do trabalho; a morfina dos melhoramentos vai-nos ando horas regaladas, e o láudano do orçamento o pão nosso de cada dia. O cloral da emigração afasta a necessidade cruel dos tratamentos antiflogísticos; e a cocaína do trânsito, pretendendo em vão tornar esta faixa litoral da Península uma terra de passagem, estalagem brunida e sécia para uso do mundo que se diverte, procurar pôr o sol em acções - e quem sabe se a própria lua das nossas noites encantadoras, ela que desenrola o seu meigo velário de prata para também nos iludir com perspectivas fantásticas sobre a nudez da terra que habitámos!
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Oliveira Martins, in "PORTUGAL NOS MARES"

quinta-feira, 21 de maio de 2009

PORTUGAL ESTÁ À BEIRA DO SEU FIM?

Vejam o programa PRÓS E CONTRAS de 18.05.2009, aqui e aqui.

Mas façam-no com atenção. E observem as entrelinhas.

Sobretudo atentem bem o Prof. Adriano Moreira e o Gen. Garcia Leandro

segunda-feira, 18 de maio de 2009

VOTAR NA NOSSA EUROPA?

Independentemente da variedade de conceitos de Europa, parece impróprio afirmar que finalmente o país se encontrou com a Europa, porque aquilo que aconteceu foi ter de escolher entre um dos novos conceitos. Nesta escolha, que se concretizou na CEE como primeira prioridade, acontece que o projecto não tem qualquer contribuição portuguesa na origem. Não se encontra presença nacional entre os que, aceitando hoje Jean Monnet como o pai da ideia e da realidade, desenvolveram o projecto ao qual finalmente aderimos.
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Adriano Moreira

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A GEOESTRATÉGIA É TRATADA DA MESMA FORMA COMO LIDAM COM OS PNEUS


Os pneus são a parte da viatura que a conectam com a sua utilidade. São um factor importantíssimo na viatura. Mas não lhes ligam muito. O que é importante são os comandos dos aparelhos musicais no volante, o espelho na pala, o sítio para colocar a lata da bebida, etc. Enfim, os pormenores do confortozinho. A geoestratégia está na mesma situação. Trata da conexão, mas ninguém liga. Iludem-se com tretas do imediato e não acautelam os tempos do depois dos amanhãs. A factura está aí.

sábado, 9 de maio de 2009

A DEMOGRAFIA SERÁ O RESULTADO DA DERROTA DAS POLITICAS DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

E muito bem explicado, aqui. Há muito que se avisa. A cegueira de se manter a todo o custo um conforto luxuoso, tem um custo fatal no futuro. O engraçado da questão, nos dias actuais, é que são os pais que limitam o futuro dos filhos, mas sastifeitissimos em poder auxiliá-los com o excedente proporcionado por limitações que põe ao desenvolvimento dos filhos. Um grupo etário egoísta que, desde a década de 60 do século passado, impõe a falência da sociedade ocidental. As políticas económicas e demográficas são interdependentes e reflectem-se em todas as outras políticas sectoriais. E os resultados, as facturas, estão a surgir.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

TEM TUDO A VER

Com o como chegámos até aqui, e neste estado.

Trinta e cinco anos depois de Abril, a democracia continua a viver à custa de Salazar e da sua queda. Parece que o regime democrático e a liberdade nada têm a oferecer ao povo para além do derrube do ditador. Que, aliás, não foi do próprio mas do sucessor. Aqueles partidos e aquela instituição vivem obcecados. Sentir-se-ão culpados? De quê? De não terem sabido governar o país com mais êxito e menos demagogia? De perceberem que a população está cada vez mais cansada da política e indiferente aos políticos? Preocupante é haver alguém que pense que aquelas imagens produzem algum efeito! A política contemporânea é de tal modo medíocre que o derrube do anterior regime é ainda mais importante do que o novo regime democrático. Essa é a mágoa! Trinta e cinco anos depois, a liberdade e tudo quanto se vive não são já mais importantes do que aquele dia de derrube.
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António Barreto, no Público de 3.05.09
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Os meninos sem rosto da nossa terra são a sombra dos nossos dias. Vivem nas casas mais pobres dos bairros degradados, onde a violência faz lei e onde não têm voz. Deambulam pelas ruas em bandos onde os mais velhos ditam a sua força e os arrastam para o crime. Frequentam a escola porque os obrigam, mas depressa a abandonam ou a contestam. Muito novos caminham para a delinquência, na esperança de poder conseguir assim um caminho mais fácil.
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Daniel Sampaio, no Público de 3.05.09
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Os resultados, como se costuma dizer, valem o que valem. Mas sempre dão uma ideia da cabeça dos portugueses, que toda a gente invoca e ninguém conhece.
VPV, no Públioco de 3.05.09
Os temas são os mais variados, das grandes questões, como a justiça mundial ou o ambiente, até às questões espúrias e tontas. O factor determinante em todo o processo é, sem dúvida, a comunicação social, e em particular a televisão. É ela que determina o alinhamento dos telejornais e decide as causas que são empoladas ou esquecidas. Não costuma ser a imprensa a criar os temas, pois há sempre na sociedade milhões de interesses, objectivos, sonhos à espera de reconhecimento. Mas são os jornalistas que decidem focar as atenções neste e omitir ou esquecer os demais. A sociedade actual vive em permanente alvoroço. O importante é manter a adrenalina e o nervosismo, que alimentam a procura dos media.
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César da Neves , hoje no DN.
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A distância entre esta programação e o entendimento dos atingidos pela crise da economia real, tem a sua expressão nos milhares de manifestantes e polícias que entraram em violentos confrontos nas ruas de Londres, na ocasião da chegada dos líderes mundiais, os quais não podem, ou não devem, ignorar o facto. Aquilo que os cerca de 35 mil manifestantes tornaram claro, sem grandes apoios teóricos de grandes nomes, foi que a realidade se traduz no alargamento da geografia da fome, nas falências, no desemprego catastrófico em crescimento global.
Que tenha sido enunciada uma política renovadora não se verificou, e não vai ser nem fácil nem rápido conseguir uma formulação que evite a concretização das piores consequências que o FMI previu para a crise. Mas a chamada de atenção para que qualquer solução seja organizada a partir da realidade, e que não parece eficiente pretender dominar a realidade pela imaginada limpeza do sistema que entrou em disfunção, exige uma intervenção, essa limpa das responsabilidades pelos erros e pelas faltas, que conheça as dificuldades de enfrentar uma realidade complexa, que talvez sem exagero se deva considerar caótica.
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Adriano Moreira, no DN de 21.04.09

quinta-feira, 30 de abril de 2009

FACTURA MUY CRUEL


Pero hay que tener cuidado com presumir de algunas cosas porque la realidad se cobra una factura muy cruel.

José Maria Aznar em entrevista ao EL PAÍS de 26.04.2009-04-30

La emigratión china reduce la pression demográfica en su país al tiempo que le permite jugar un papel global.

No El PAÍS de 26.04.2009 no artigo "África, el Far West chino"

sábado, 25 de abril de 2009

HOJE AINDA SE COMEMORA O QUÊ?

??? Que país resultou? Que cidadãos somos? Que esperança resiste?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A REALIDADE

A distância entre esta programação e o entendimento dos atingidos pela crise da economia real, tem a sua expressão nos milhares de manifestantes e polícias que entraram em violentos confrontos nas ruas de Londres, na ocasião da chegada dos líderes mundiais, os quais não podem, ou não devem, ignorar o facto. Aquilo que os cerca de 35 mil manifestantes tornaram claro, sem grandes apoios teóricos de grandes nomes, foi que a realidade se traduz no alargamento da geografia da fome, nas falências, no desemprego catastrófico em crescimento global.
Que tenha sido enunciada uma política renovadora não se verificou, e não vai ser nem fácil nem rápido conseguir uma formulação que evite a concretização das piores consequências que o FMI previu para a crise. Mas a chamada de atenção para que qualquer solução seja organizada a partir da realidade, e que não parece eficiente pretender dominar a realidade pela imaginada limpeza do sistema que entrou em disfunção, exige uma intervenção, essa limpa das responsabilidades pelos erros e pelas faltas, que conheça as dificuldades de enfrentar uma realidade complexa, que talvez sem exagero se deva considerar caótica.
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Adriano Moreira, no DN.
E já agora vale a pena reler este post aqui

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ENDOGAMIA E ÉTICA

Ontem, no Público, um excelente artigo de Mário Vieira de Carvalho com o titulo «Mudar a universidade: endogamia e ética». Destaco duas passagens:
A endogamia das universidades portuguesas - isto é, o princípio da reprodução interna do seu corpo docente - tem-se mantido inabalável. E tem sobrevivido a todas as reformas. Se há excepções, é porque confirmam a regra.A instituição da endogamia é o maior travão à inovação, o factor que mais tem contribuído para a estagnação do ensino superior, para a sua incapacidade de responder com criatividade aos desafios que a realidade lhe coloca.
(...)
Mas há ainda a dimensão mais patológica do corporativismo - uma espécie de degenerescência do sistema causada pela endogamia: as lutas internas de grupo, pelo favorecimento de uns, à custa de outros, sem olhar a critérios de mérito relativo. Exemplos não faltam.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

AFINAL QUEM SÃO?


Quem os viu e quem os vê. Ando mesmo fascinado com a lata com que muitos políticos se apresentam à frente de um microfone. Como se não fosse nada com eles. Como se eles fossem o exemplo de honestidade, seriedade e etc.. Como é que este povo atura isto e não se revolta? Como? Só porque lhe dão futebol às toneladas? Só porque fabricam programas sobre futebol onde lhe vende a ilusão de que os clubes deles são os melhores do mundo? Só porque fabricam programas para onde o povo pode telefonar e iludir-se que tem opinião? Ou porque votam por SMS (pagando valor acrescentado, é claro) e se iludem que decidem? Como eu gosto de ouvir as vedetas cá do bairro dizerem "os portugueses decidiram". Mas afinal quem são os portugueses? Estou com uma enorme dificuldade em saber.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A FALTA DE EMPENHO NA DEFESA TEM CUSTOS

Todavia, a deriva para a privatização da acção militar parece ter levado a uma espécie de aristocratização da actividade, transformando em objecto social, avalizado pelo mercado, a variedade de intervenções, e por isso também as ofertas do mercenarismo inspirador. A mensagem destas sociedades tem relação com um facto que atinge todas as actividades públicas e privadas, cuja actividade seja tributária do avanço técnico e científico: a necessidade crescente de pouca gente, mas altamente qualificada, torna dispensável o antigo modelo do contingente, de serviço militar obrigatório, que abrigava muita gente sem qualificação exigente. E, também, a formação multidisciplinar dos quadros permanentes, e a sua concentração nas tarefas da tecnologia avançada, orientaram no sentido de contratar no exterior, com firmas especializadas, serviços sem os quais a máquina militar não funciona. O formalismo jurídico é observado, as obrigações de publicidade são cumpridas, o mecanismo bolsista está presente.
Adriano Moreira, "A legalização dos cães de Guerra", in DN de 14.04.2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

ESTRANGEIRADO

Do excelente blog dedicado a António Quadros, e do próprio, com link aí ao lado.

O pensador estrangeirado é afinal aquele que saiu de si para ser um outro que nunca poderá ser, a menos que por completo se desintegre do organismo cultural que é o seu de origem.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SE

Para se delinear um programa, deveríamos pensar no que não podemos fazer. Porque eu só vejo políticos convertidos em keynesianos e que não têm uma ideia do que ele disse, quando o disse e porque o disse. Para eles, keynesianismo é gastar primeiro e pagar depois. O problema é que quem paga somos todos nós quando eles fizerem parte da história como maus exemplos.Segundo, deveríamos pensar como nos queremos apresentar aos investidores internacionais quando a crise estiver a passar. Se, daqui a um ano, a economia internacional estiver a recuperar, como queremos atrair investidores, que indicadores lhes queremos mostrar para os convencer a confiar na nossa economia, que desequilíbrios serão aceitáveis? Para além dos subsídios e das isenções de impostos que são custosos e de duvidosa eficácia, que País queremos apresentar? Certamente, que vamos ter um País endividado como nunca esteve; um Pais que será visto (já é visto) como um País de alto risco. Basta ver a pressa com que se lançam concursos e se fecham contratos de grandes projectos, cujos custos sofrerão grandes derrapagens porque os estudos técnicos foram feitos sob pressão eleitoral.
O que dói é que, para Portugal, esta crise tem aspectos que nos são particularmente favoráveis. A queda dos preços do petróleo e dos bens alimentares, que justificaram os nossos problemas há um ano, beneficiam-nos, agora, mais do que a outros países. Do ponto de vista orçamental, em 2007, de facto Portugal era apresentável, o que também nos poderia ter favorecido. O mesmo não direi dos resultados orçamentais de 2008 que provaram que a casa ainda não estava arrumada, apenas apresentável: podíamos receber amigos mas não podíamos convidar visitas de cerimónia.
Além disso, não tínhamos tido uma bolha imobiliária como a Espanha ou a Irlanda, nem sequer algo parecido. E, muito importante, não tínhamos activos tóxicos, nem comprados aos Estados Unidos, nem de produção nacional. O nosso sistema bancário tinha concedido muito crédito, nomeadamente à habitação, mas tinha feito uma notável avaliação de risco, pelo que não produziu activos tóxicos em montantes relevantes. O Banco de Portugal tem aqui um quinhão dos louros, pese embora estar na moda ser bater no supervisor.Por tudo isto, daqui a um ano, quando a crise - esperemos - estiver passada, Portugal poderia estar numa posição relativa melhor do que aquela que tinha à partida. Mais uma vez, não estou a dizer que a crifi [crise financeira] poderia ter efeitos de pequena monta, apenas que fariam menores estranhos na nossa economia do que em outras congéneres se outra política tivesse sido seguida.Lamentavelmente, os factores que minorariam os efeitos da crise, em Portugal, foram esmagados por políticas incorrectas e atabalhoadas. Foi pena, mas já é tarde.
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Luís Campos e Cunha, no Público em 03.04.2009

domingo, 12 de abril de 2009

UM LUGAR À MESA

Esta definição do VPV é, notoriamente, correcta
O português parte do princípio que os políticos se "enchem" (os que são espertos, pelo menos). Não acredita na honestidade do Estado ou na eficácia da lei. Acredita no que recebe e no que lhe tiram; e não se importava de arranjar um lugar à mesa.
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Vasco Pulido Valente, in Publico de 5.04.2009.

sábado, 11 de abril de 2009

A PRIMEIRA MISSÃO


Tendo vestido o alheio, cumpre despi-lo na praça. A primeira vestidura será a do cesarismo centralista que fez do povo com mais possibilidades democratas e maior vocação municipalista que jamais houve no mundo o seguidor apagado e triste de quanta renovação de paganismo e de romanismo a Europa inventou para, primeiro, dominar uma totalidade em proveito de parte, e, depois, em seu próprio proveito, dominar todo o resto da Terra. O que nos pertence, o que nos caracteriza, o que é verdadeiramente nosso, é o achado de uma fórmula política como a dos forais da Idade Média que permitia a um Rei livremente consentido por seu Povo, e não a ele se impondo por força ou manha, governar uma federação de repúblicas. A nossa coragem de recomeçar, porque todo o edifício de ruins alicerces por si mesmo tombará como tombou o primeiro edifício português por não ter havido a coragem de recomeçar Ceuta, tem de se haver com a obra de descentralizar e democratizar a administração e a organização política: Portugal e Brasil têm de restabelecer o poder municipal em toda a sua plenitude, entregando-lhe o fundamental da máquina administrativa, da economia e da educação; nenhum território pode estar sujeito a qualquer espécie de metrópole, nenhum traço de colonialismo pode subsistir, por mais tênue que seja, quer se trate dos territórios ultramarinos portugueses, quer, por exemplo, do Nordeste brasileiro em relação aos Estados do Sul; e a primeira missão que tem de ser confiada à grande língua comum é a de livremente poder dizer a todos os governantes a opinião de quem a fala. Neste ponto, e para além do conceito vulgar, temos todos que crer, e que crer sinceramente, em que é voz de Deus a voz do povo; a qual, como a outra, pode ser brusca e incómoda: mas é realmente salutar.
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Agostinho da Silva, «Condições e Missão da Comunidade Luso Brasileira», in "NOVA ÁGUIA" , Nº3, 1º semestre 2009.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

PARAR E REFLECTIR

Se me permitem a sugestão, gostaria que vissem um vídeo com uma entrevista a um filósofo, Robert Happe. Vale a pena despenderem 34 minutos do vosso tempo e reflectirem. Em acordo ou desacordo, mas reflictam. O endereço do vídeo é este aqui.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O MEDO NA POLÍTICA

Se dizem que a política é uma selva não é pela falta de regras. É, sim, pelo papel que nela desempenha o medo.
Pedro G. Rosado, in " O CLUBE DE MACAU"

sábado, 4 de abril de 2009

PROTEJAM AS BACTÉRIAS

Protejam as bactérias, pois são a única cultura a que muitos almejam.

APENAS UMA FACETA


Estou pronto para generalizar a partir da minha experiência pessoal e para admitir que os valores postulados pela teoria económica são, de facto, relevantes para as actividades económicas em geral e para o comportamento dos participantes do mercado em particular. A generalização justifica-se porque os participantes do mercado que não se regem por estes valores sujeitam-se a ser eliminados e reduzidos à sua insignificância pelas pressões da concorrência.
Pela mesma razão, a actividade económica representa apenas uma faceta da existência humana. Muito importante, sem dúvida, mas há outros aspectos que não podem ser ignorados. Para fins imediatos, distingo as esferas económica, política, social e individual, mas não pretendo atribuir grande importância a estas categorias. Facilmente se introduziriam outras. Podia, por exemplo, mencionar a pressão dos rivais, a influência da família ou a opinião pública; mas também podia distinguir entre o sagrado e o profano. O ponto aonde pretendo chegar é que o comportamento económico é apenas um tipo de comportamento e que os valores que a teoria económica toma como dados adquiridos não são os únicos que predominam na sociedade. É difícil ver como poderiam os valores pertencentes a essas diferentes esferas ser sujeitos a cálculo diferencial como curvas de indiferença.
Como se relacionam os valores económicos com outros tipos de valores? Não é uma pergunta a que possa responder-se de maneira universalmente válida e por tempo indeterminado. A única coisa que podemos dizer é que os valores económicos, por si só, não bastam para sustentar a sociedade. Os valores económicos apenas exprimem o que um participante individual do mercado está disposto a pagar a outro por algo em livre troca. Esses valores pressupõem que cada participante é um centro de lucro, orientado para a maximização dos lucros com exclusão de quaisquer outras considerações. Embora a descrição possa ser adequada ao comportamento do mercado, devem existir alguns valores diferentes que, efectivamente, actuem no sentido de sustentar a sociedade, de sustentar a vida humana. Quais são esses outros valores e como podem reconciliar-se com os valores do mercado é uma questão que me preocupa. Mais do que isso, confunde-me. Estudar economia não constitui preparação suficiente para tratar dessa questão - temos de ir para além da teoria económica. Em vez de tomarmos os valores como dados adquiridos, temos de os tratar como reflexivos. Isso significa que valores diferentes prevalecem em condições diferentes e que há um mecanismo de feedback em dois sentidos que os relaciona com as condições reais, criando um caminho histórico único. Devemos, ainda, tratar os valores como falíveis. Isso significa que esses valores que prevalecem num determinado momento da história são susceptíveis de vir a mostrar-se inadequados num momento diferente. Afirmo que os valores de mercado assumiram uma importância no momento da história em que nos encontramos que não corresponde ao que é apropriado e sustentável.
Devo, no entanto, observar que, se quisermos aplicar o conceito de reflexividade tanto a valores como a expectativas, teremos de aplicá-lo de maneira diferente. No caso das expectativas, o resultado serve de verificação da realidade; no caso dos valores, não. Os mártires cristãos não abandonavam a fé nem mesmo quando os atiravam aos leões. Em vez de falarmos de função cognitiva, provavelmente precisaríamos de outro nome, mais emocional, para o feedback da realidade para o pensamento, mas ainda não sei qual é. No entanto, voltaremos mais tarde a esta questão.
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George Soros, in "A CRISE DO CAPITALISMO GLOBAL",1998.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

PRECISÁMOS. SEMPRE PRECISÁMOS

Não é de um líder forte e autocrático que precisamos. Não. Precisamos, e muito, é de menos mediocridade no seio dos cidadãos.

A isolação de Herculano no remanso estéril do diletantismo bucólico, comprometeu o destino mental d'uma geração inteira. Pelo intenso poder das suas faculdades reflexivas, pela eminência do seu talento, pela autoridade da sua palavra, pela popularidade do seu nome, pela reputação nunca discutida da sua honestidade, ele era o homem naturalmente indicado para assumir o pontificado intelectual do seu tempo. A ausência d'essa autoridade do espirito sobre o espirito foi uma catástrofe para a geração moderna.
Tudo se ressentiu na sociedade portuguesa, com o desaparecimento d'esse alto poder moderador, destinado a ser o núcleo do seu governo moral.
Á tribuna parlamentar nunca mais tornou a subir um homem cuja voz firme, sonora e vibrante levasse até os quatro cantos do país a expressão viril das grandes convicções inflexíveis, dos altos e potentes entusiasmos ou dos profundos e implacáveis desdens. Essa pobre tribuna deserta degradou-se sucessivamente até não ser hoje mais do que uma prateleira mal engonçada com algum lixo e o respectivo copo d’água.
A imprensa decaiu como decaiu a tribuna. Assaltada pelas mediocridades ambiciosas e pelas incompetencias audazes, a imprensa tornou-se um tablado de saltimbancos de feira, convidando o publico a 10 réis por cabeça, para assistir, entre assobios e arremessos de cenouras e de batatas podres, á representação da desbocada comedia, declamada em gíria da matula por personagens sarapintados a vermelhão e a ocre, que mostram o punho arregaçado e sapateiam as tábuas, como em sarabanda de negros e patifes, com os seus pés miseráveis.
A política converteu-se em uma vasta associação de intriga, em que os sócios combinam dividir-se em diversos grupos, cuja missão é impelirem-se e repelirem-se sucessivamente uns aos outros, até que a cada um d'elles chegue o mais frequentemente que for possível a vez d'entrar e sair do governo. Nos pequenos períodos que decorrem entre a chegada e a partida de cada ministério o grupo respectivo renova-se, depondo alguns dos seus membros nos cargos públicos que vagaram e recrutando novos adeptos candidatos aos lugares que vierem a vagar. É este trabalho de assimilação e desassimilação dos partidos, que constitui a vida orgânica do que se chama a política portuguesa.
A arte desnacionaliza-se e afasta-se cada vez mais do fio tradicional que a devia prender estreitamente á grande alma popular.
A opinião publica, marasmada pela indiferença, desabitua-se de pensar e perde o justo critério por que se julgam os homens e os factos.
Se um pensador da alta competência e da grande autoridade de Alexandre Herculano tivesse persistido durante os últimos vinte anos á frente do movimento intelectual do seu tempo, essa influencia teria modificado importantemente o nosso estado social.
Eça de Queiróz & Ramalho Ortigão, in "AS FARPAS", Junho de 1983.

PRECISAMOS?

Eu já nem sei.


Precisamos de romper com os valores que vêm do passado e com os interesses das corporações, precisamos de fazer tábua rasa dos maus hábitos e de ter a coragem de erguer novas bandeiras e novos objectivos. Nesta época de miséria moral e social, quando o banditismo se torna um ideal de vida e é glorificado pela conduta humana e pela generalidade das ficções (que chegam a ser vistas como expressões de cultura), impõe-se uma liderança forte para o Estado, com mais poderes, com maior capacidade de decisão e com a força que só a convergência organizada de todos os mecanismos de prevenção do crime garante. É preciso ter coragem para decidir, para agir e para renovar o Estado e a República todos os dias, em todos os nossos actos e em todas as nossas palavras.
Pedro G. Rosado, in "O CLUBE DE MACAU"

sexta-feira, 27 de março de 2009

BRILHANTES

Mandaram-me, hoje, por mail, esta frase:

Sendo a velocidade da luz superior à velocidade do som, é perfeitamente normal que algumas pessoas pareçam brilhantes até abrirem a boca...

quarta-feira, 25 de março de 2009

DISTRACÇÕES

Ultimamente tem-se falado muito da fraca, ou fraquissima, qualidade dos governantes, em geral, por esse mundo. Esta crise global não apareceu por obra e graça do Espiríto Santo de um momento para o outro. Foi-se anunciando. E fez testes de exibição para prenunciar a sua chegada. Muita gente por esse mundo, mais esclarecida e competente na matéria, entendeu-a e anunciou-a. Mas todos, absolutamente todos, tentaram ignorar. Enfim, ninguém gosta de chatices. Mas leiam agora este trecho em que se anuncia claramente a crise, com causas, consequências e remédios. É do livro «A ERA DA FALIBILIDADE», de George Soros, e foi escrito em 2006. Se há políticos que não lêem jornais, muito menos leram este livro.

PERSPECTIVAS ECNÓMICAS
Na altura em que escrevo este livro, a economia global encontra-se estável. Existem alguns desequilíbrios, fundamentais, dos quais os mais fulgurantes são o défice comercial dos Estados Unidos e o excedente comercial asiático, mas estes desequilíbrios podem durar por tempo indefinido, porque quem está disposto a pedir emprestado encontra sempre alguém disposto a emprestar. Não há sinais de uma crise financeira e os mercados globais têm sido notavelmente flexíveis para absorverem os choques, como o aumento do preço do petróleo. As autoridades financeiras estão seguras de que, com uma boa supervisão financeira, os mercados podem cuidar de si mesmos. Talvez a única nuvem no horizonte seja o facto de alguns países em desenvolvimento, como a Indonésia, a África do Sul e vários países da América Latina, não se estarem a desenvolver suficientemente depressa para satisfazerem as aspirações do povo; estão assim criadas as condições, para o descontentamento político, mas as autoridades financeiras internacionais não parecem qualificadas para abordar o problema.
Penso que a calma actual não vai durar muito. Como já disse, acredito que a economia global tem sido sustentada por uma explosão imobiliária que adquiriu as características de uma bolha. Em alguns países, sobre tudo no Reino unido e na Austrália, a bolha decresceu, mas daí não resultaram perturbações sérias. O consumo caiu, mas uma diminuição modesta das taxas de juro foi suficiente para estabilizar os preços das casas e o consumo. A isto chama-se uma aterragem suave, que encorajou as autoridades a pensarem que o mesmo acontecerá nos Estados Unidos. Tenho uma opinião diferente. Há razões para acreditar que o abrandamento dos preços das casas nos Estados Unidos terá repercussões mais severas do que nos outros países. Uma das razões é a dimensão absoluta da economia dos Estados Unidos. Um abrandamento nos Estados Unidos terá repercussões na economia global, mas a Austrália e o Reino Unido são demasiado pequenos para que um abrandamento produza grandes efeitos. Outro factor é o facto de, nos Estados Unidos, o aumento dos preços ter sido acompanhado pelo aumento do volume da construção, enquanto que, no Reino Unido, a construção se manteve estável. Isto criou um excesso de oferta nos Estados Unidos, que levará tempo a estabilizar. Por último, nos Estados unidos, as condições de crédito foram mais facilitadas do que em qualquer outro lado e estão agora a ser revistas. Todos estes factores combinados irão assegurar que os preços das casas, quando abrandarem, não voltem a subir muito em breve. Como já referi, prevejo que a aterragem suave inicial se transforme numa aterragem dura quando o abrandamento não parar. Um abrandamento nos Estados Unidos repercutir-se-á no resto do mundo através de um dólar mais fraco. E por isso que prevejo um abrandamento mundial a partir de 2007.
É claro que posso estar enganado. Já me enganei antes. Pode não ser prudente exprimir esta tese, uma vez que, depois de publicada, é difícil não voltar atrás ou modificá-la. Exprimo-a como exemplo do género de perturbação que, mais cedo ou mais tarde, irá ocorrer. O que pretendo dizer é que a economia global está sujeita a perturbações periódicas e que será necessária a cooperação internacional para manter essas perturbações dentro dos limites.
Mesmo na ausência de uma crise, existe algo de perverso na constelação actual. As poupanças do mundo são canalizadas para o centro para financiarem o consumo excessivo do maior e mais rico país, os Estados Unidos. Isto não pode continuar por tempo indefinido e, quando acabar a economia global irá sofrer uma insuficiência de procura. Os países asiáticos que estão a financiar o excessivo consumo americano fariam bem em estimular o consumo doméstico, mas, mesmo que o consigam fazer, poderá haver uma carência temporária. As autoridades financeiras internacionais deviam fazer planos de contingência, mas não vejo sinais disso2a. No passado, propus que o Fundo Monetário Internacional emitisse Direitos Especiais de Saque (DES), em que os países ricos reservam as suas dotações para a ajuda internacional. Há dificuldades técnicas _ os DES exigiriam dotações orçamentais _, mas, se a minha previsão de um abrandamento global em 2007 se realizar, trata-se de um esquema que deve ser agora implementado.

sexta-feira, 20 de março de 2009

MEMÓRIAS


Ando cada vez mais longe da ilusão. Lembro-me melhor, hoje, de muitos jovens, ligeiramente mais velhos do que eu, que nos idos anos de 60 do século passado se assumiam como lutadores de vários ideais. Hoje reconheço-os como agentes políticos, militantes de organizações políticas que se empenham em preencher a governabilidade. Para além da idade, o que difere na actuação de cidadania desses indivíduos desses idos anos até hoje? Tudo. E sobretudo o terem ignorado os ideais. Esquecido as pessoas, e o país, foi a consequência de terem ignorado os ideais. Em que é que se tornaram? À vista desarmada em veneráveis abastados. Parece que era isso que, afinal, ambicionavam. O que, ou quem, sacrificaram? Ou trucidaram? Que cada um visite a sua memória e reconstrua o filme. Estão lá todas as respostas. E revejam aquela excelente série italiana, «O POLVO». Tem tudo a ver.

terça-feira, 17 de março de 2009

RESPEITO

O respeito pelo esforço dos pequenos agricultores, que sobram, das pequenas, médias, e grandes empresas, exige a entrega de uma responsabilidade política confiável a quem mobilize o regresso convicto a essa actividade, e assegure que a frustração não é a recompensa da confiança depositada nas directivas. É um esforço que implica esquecer passadas decepções, e o abandono de terras, lugares, e colheitas, a favor do regresso a solidariedades comunitárias, a um sentido de responsabilidade participado a favor do bem comum. A falta de reserva estratégica alimentar, e as consequências inevitáveis dessa carência, exigem estarem presentes na previsão governativa do presente.
Adriano Moreira, hoje, no DN, no artigo os pobres.
O prof. Adriano Moreira foca uma exigência, a responsabilidade política confiável. Eu tenho dúvidas, e não me refiro só a Portugal, se há política, e respectivos agentes, em que se possa confiar. Sobretudo se há pessoas para se confiar na política. De facto a frustração tem sido a recompensa da confiança. Eu não sei se consigo confiar num politico. Não sei mesmo. Só vejo gentinha mediocre.

sexta-feira, 13 de março de 2009

SABER E FAZER

O Comandante Virgílio Carvalho tinha, segundo interpretação minha, a noção que o país já não tinha estratégia alguma. Pelo menos os governantes não tinham noção nenhuma sobre isso. Então actualmente é um deserto desse entendimento na governança. Tudo o que ultrapasse a obtenção de tachos e aumentos de pecúlios transcende a capacidade de reciocínio desse pessoal. Tem a ver com os cursos universitários de que conseguiram obter diploma e com a esmola politica que é a ocupação de lugares na administração pública.
Aqui deixo um pequeno trecho do Camandante Virgílio Carvalho:

A Tecnologia é hoje um importante elemento de influência, de prestígio e liberdade de acção dos países, mas também pode ser de sujeição, mormente se não for desenvolvida numa perspectiva de reforço do poder nacional. Não chega, pois, o saber pelo saber, nem sequer o saber para fazer. É indispensável que saber e fazer tenham objectivos definidos enquadrados na Grande Estratégia Nacional, principalmente num país como Portugal, cuja importância geoestratégica o torna alvo de cobiças.
in " O MUNDO, A EUROPA E PORTUGAL - II Volume"

quarta-feira, 11 de março de 2009

O NOSSO PROBLEMA

O nosso problema é que tal como no mundo exterior, temos os nossos direitos adquiridos. E desde que exista o elemento de egoísmo, não descobriremos o caminho. Cada um de nós quer que o Mestre desça até si; mas o que não aprendemos foi que, mesmo como imaginamos, se Ele descesse das nuvens, seríamos incapazes de O servir, porque não nos equipámos para Lhe prestar serviço.
Jiddu Krishnamurti, in "Conhece-te a ti mesmo", publicado no «The Herald of Star » em 1925

domingo, 8 de março de 2009

PORTUGAL, PARA ONDE?



Para se entender Portugal é imprescindível ler três autores. O comandante Virgílio de Carvalho com os seus dois volumes de «O Mundo, A Europa E Portugal». O professor Adriano Moreira com toda a sua obra dos últimos 40 anos, incluindo as suas quase memórias. O Dr. Franco Nogueira com a sua obra «Juízo Final». Depois pode-se complementar com artigos de imprensa, dos quais recomendo Vasco Pulido Valente, António Barreto, Luís Campos e Cunha, Mário Crespo, Ricardo Araújo Pereira, nunca esquecendo de ler, ou ouvir, o que Medina Carreira e Silva Lopes expõem.
VPV tem uma frase no seu artigo de 6.03.2008, no Público, que elucida bem que Portugal não evolui. E como tal caminha para um abismo, que pode muito bem exceder o tal conceito de "estado exíguo" a que se refere Adriano Moreira. E a frase é: Mesmo com mais de 30 anos de democracia e 20 de "Europa" a saloiice indígena continua sólida.
Claro que ler, estudar e entender é uma coisa; agir e ser decisivo é outra. E os portugueses de agora sentem o país como parte integrante da sua individualidade?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O SUCESSO DO RENASCIMENTO


Nos tempos que correm cada vez mais me interrogo se esta saga civilizacional (ocidental) está a ter sucesso. Os valores humanisticos, democráticos, de solidariedade social, de liberdade harmoniosa e culturais estão a ser bem difundidos e assimilados? Julgo que não. Parece-me que há um rotundo fracasso. A violência sobre as crianças e sobre as mulheres demonstram isso. O incremento da pedofilia e sua impunidade demonstram isso. A ganância desmedida e o lucro injusto espelham isso. A hipocrisia com que os estados interagem, bem como a democracia que evangelizam, gritam isso mesmo.
Que valores são hoje tenazmente defendidos pela dita civilização ocidental? Cada um que se interrogue.
Mas quando a violência doméstica tem um crescimento desmedido, só pode significar fracasso. O urbanismo actual não conseguiu absorver as ansiedades das populações nem moldar os valores que o saneamento de conflitos sociais das aldeias continham. A moderação social aldeã, em qualquer parte do mundo, e em qualquer esquema civilizacional, manteve uma sanidade no seio das sociedades locais. Perdido esse equilíbrio a favor das grandes urbes, perdeu-se, também, algures, os desígnios da civilização. As crises, e não exclusivamente as financeiras, são fruto desse desnorte de moderação. Algures, por aí, as elites pensantes foram sufocadas. O supérfluo é que é dignificado e a ignorância valorizada. A factura está a ser passada. O recibo vem aí a caminho. Sempre, sempre a FÉNIX.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

sábado, 21 de fevereiro de 2009

A PACIÊNCIA

A PACIÊNCIA É UMA ÁRVORE DE RAÍZ AMARGA MAS DE FRUTOS MUITO DOCES.

(Provérbio)

QUE SENTIDO TEM CORRER QUANDO ESTAMOS NA ESTRADA ERRADA?

(Provérbio)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DA LUZ

Transcrevo um pequeno trecho do post da Serpente Emplumada, sempre com a devida vénia:

É a matéria que imagina o céu. Depois, é o céu que imagina a vida. Depois, é a vida que imagina a natureza. Depois, a natureza cresce e mostra-se sob diferentes formas que concebe muito menos do que inventa revolvendo o espaço. Os nossos corpos são uma dessas imagens que a natureza tentou junto da luz.” Pascal Quignard, Terraço em Roma

domingo, 15 de fevereiro de 2009

VAI-SE DIZENDO POR AÍ

O que está de acordo com a extravagância geral da nossa vida colectiva. Ao mesmo tempo que o INE anunciava a desgraça da nossa economia, um "jornal de referência" veio explicar que, felizmente, 900.000 pessoas trabalham para o Estado e não podem por isso ser despedidas como qualquer vagabundo da "privada".
VPV, no Público, hoje.
Aqueles deputados têm os mesmos reflexos, os mesmos comportamentos e a mesma visão do mundo que um bando de hooligans em claques de futebol.
António barreto, hoje, no Público.
Que Deus possa escrever direito por linhas tortas é uma sabedoria portuguesa que Bernanos descobriu no Brasil. Não devemos, no entanto, exigir ao Espírito Santo esforços suplementares para aquilo que compete aos seres humanos. Repete-se que há falta de vocações. Não acredito. Se a vocação é dom de Deus, não se esgota facilmente. Deveríamos olhar mais para o tabu que impede caminhos de solução. Por que não reintegrar aqueles padres que tiveram de abandonar o ministério presbiteral e que estão em condições de prestar serviços relevantes para os quais foram preparados? Por que razão não chamar, ao presbiterado, homens casados que manifestam grande capacidade de serviço na Igreja? E as mulheres? Será que, por serem mulheres, Cristo não as quer ver a presidir à Eucaristia? Precisamente Ele que, segundo os Evangelhos, lhes deu com amizade o papel de comunicar, aos apóstolos, o Evangelho da Ressurreição? Se Deus criou o ser humano à Sua imagem, homem e mulher, seria ridículo atribuir a Deus uma mentalidade patriarcal. Criar um deus à imagem do masculino é criar um ídolo. O sujeito masculino não tem mais aptidão para ser chamado à presidência da Eucaristia do que o sujeito feminino.
Frei Bento Domingues, hoje, no Público.
Não parece um método tranquilizante da sociedade civil o anúncio da evolução estatística da criminalidade, sobretudo quando insiste em débeis percentagens de crescimento. As médias dizem pouco sobre a relação entre a espécie e gravidade das infracções e a insegurança efectiva dos cidadãos.
Adriano Moreira, no DN de 10.02.2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ESTATISMO PANTANOSO


António Quadros, publicou na revista «57», em 11.06.52, um ensaio «Os Três Problemas Portugueses». Já aqui nos tínhamos referido a essa revista a propósito do «Manifesto Sobre a Pátria», também de António Quadros. O blog dedicado a António Quadros tem o link aí ao lado. E é muito interessante este ensaio do qual pomos aqui um pequeno trecho. Mas é delicioso podermos aprender com quem sabe. E António Quadros sabia, e o seu saber é actual e muito proveitoso. O triste é poucos aprenderem. Já decepcionante é muitos nem sequer saberem ensinar (Mas isto é outra cantiga não avaliada). Mas leiam o ensaio todo. E depois façam as vossas reflexões. Meditem sobre os tempos hodiernos. Eu continuarei a divagar por aqui até que a mistura de ignorância e poder nos faça explodir. Mas leiam o trecho e depois todo o ensaio:


Ora é este terreno comum que exactamente contestamos e pomos em causa. Há quatrocentos anos que, entre nós, mudam os regimes, as estruturas e as forças dominantes, mas na realidade pouco ou nada se modificou no tipo de estatismo em que pantanosamente mergulhamos.E isto porque o nosso pensamento político, há quatrocentos anos que não é criador, mas aderente. Queremos dizer que, incapazes de criar doutrina política, necessariamente derivada de uma filosofia e de uma visão do mundo, os nossos políticos se limitam a lutar pela adesão do pais a este ou aquela doutrina, forjada por outros a partir de circunstâncias históricas, ideológicas e sociais inteiramente diversas das nossas. Qual é o partido político que, nos últimos séculos, pôde ou soube postular uma teoria própria e original? Portugal é pensado como um pequeno e triste astro sem luz própria, reflectindo a sombra e o sol dos outros, e por isso todos os nossos movimentos de reacção e acção, sejam a Contra-Reforma e o Iluminismo, sejam o Absolutismo e o Liberalismo, sejam a Monarquia constitucional e a República, sejam as outras teses e antíteses que se lhes seguiram, tiveram de comum, a ideia concordante da menoridade da pátria, incapaz de teorizar pelas próprias vias, sistemas de filosofia, de educação e de política.
(...)
Ora estes problemas andam de tal forma obscurecidos por ambiguidades artificiais, o drama consequente é de tal modo menorizado por proposições sentimentais e volitivas, o essencial é tantas vezes ocultado pelo acessório, que a maioria das pessoas cada vez sabe menos o que há-de pensar, quando não se encontra filiada em qualquer organização que por eles pense.
A pequena política é a grande dissolutora das mais belas e verdadeiras ideias humanas, porque não quer reconhecer a hierarquia dos problemas e a lógica das relações entre o menor e o maior. Assim, a mediocridade é o plano em que se agita, o superior é arrastado ao nível do inferior, as mais fecundas concepções filosóficas são degradadas em nome dos interesses imediatos, circundantes, egoístas e pragmáticos. Crescem os actos puramente utilitários, as atitudes provincianas, as ilusões utópicas, os partidarismos irreflectidos, as subordinações confessas ou inconfessas, e é tudo isto, toda esta gama de detritos provindo de ideias e crenças moribundas, que está alimentando e envenenando um número majoritário de portugueses."

domingo, 8 de fevereiro de 2009

MODELO DE INUTILIDADE

Agravidade do que precede é tal que nem recordamos o facto essencial do ano: as eleições. Teoricamente, estas poderiam ser um instrumento de resolução. Debates sérios e veredicto popular poderiam seleccionar e ungir quem tem mais capacidades para deitar mãos à obra. Mas, com realismo, receia-se o pior: é bem possível que das eleições resulte um poder minoritário, partidos fragmentados e uma autoridade dispersa.As eleições europeias não interessam a ninguém. Não têm qualquer espécie de significado. Ou antes, têm-no cada vez menos, se tal é possível. Em tempos de ressurreição do proteccionismo, são um modelo de inutilidade. Já as outras, autárquicas e legislativas, são de real importância. Espera-se que sejam úteis.
(...)
Há cada vez menos pessoas a votar pela camisola ou por mera credulidade. Há cada vez mais quem faça contas à vida e decida livremente votar. Há quem não vote enquanto o sistema eleitoral for o que é: proporcional por lista, com grandes círculos anónimos e colectivos e sem compromisso pessoal. Outros, mesmo críticos do sistema, procuram sinais que os ajudem a decidir.
António Barreto, hoje, no Público.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A LER

Hoje, no Público, a carta aberta do Eng. Henrique Neto. Ontem, também no Público, o artigo de Luís Campos e Cunha. E tantos mais. Que aqui e ali se vai alertando, é um facto. Mas parece que há um autismo geral, quer dos cidadãos, quer dos dirigentes nacionais. Vamos a ver se acordam a tempo. Embora o tempo escasseie.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CHAGAS DA MEDIOCRIDADE.


Perguntou-me um amigo porque não falo sobre o momento político actual. Disse-lhe que por desencanto. Este país resvalou para a mediocridade. Passou-se a dar mérito aos medíocres e eu não me revejo nisso. Em todo o lado são os medíocres que dominam, são promovidos e exaltados como exemplos a seguir. E eu não aplaudo isso. Não se cultiva o mérito, a excelência e a nobreza. Antes pelo contrário. Assim temos o incremento da preguiça, da irresponsabilidade e da desonestidade. E eu não bajulo isso.
Já por aqui tenho batido este tema muita vez. E é muito visível na educação. Veja-se um exemplo. Indivíduo sem o 12º ano faz uma equivalência ao mesmo por validação de competências, por análise curricular e por um trabalho de 10 páginas, que encomendou a outrem. E entretanto acede a uma universidade por entrevista, sem provas prestadas. Ingressa e já tem uma equivalência a sete disciplinas por análise curricular, sem ter ainda prestado prova nenhuma. Agora digam-me como é que se vai explicar a um filho que deve estudar no duro e fazer todas as provas e completar um curso normalmente? Por que não fazê-lo pela via fácil das equivalências? E o que dizer da injustiça que é esta política das equivalências para os que fizeram tudo prestando provas com aproveitamento? O que pensará um aluno que prestou provas, fez exames para aceder à universidade e ao seu lado tem outro que só precisou de utilizar esquemas? A injustiça é outra chaga neste país. Não se faz justiça. Nem no ensino nem nos tribunais. Estes, os tribunais, nem se sabe bem, hoje, para que servem. Sendo certo que não é para aplicar justiça. Qualquer sentença proferida passados mais de dois anos sobre os factos, mesmo que correcta na forma e no conteúdo, é injustiça. E isso mina a credibilidade dos tribunais e a confiança dos cidadãos no Estado. Já por aqui tenho dito que se mede a saúde de um país pela avaliação do ensino e da justiça. Se um deles está mau, o país não está bem, mas se se dá a conjunção dos dois estarem mal, então esse país está num descalabro.
Não sei se respondi exaustivamente ao meu amigo. Mas eu não aprecio mediocridades. Nem estupidez, que já alguém disse ser o maior flagelo da humanidade.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

TEATRALIDADE

Este ponto exige que a arrogância não seja responsável por uma teatralidade que apenas concorre para que a dependência se vá tornando mais severa sem debate responsável, sobretudo porque a dependência energética tem companhia das dependências das matérias-primas, da mão-de- -obra, e da reserva estratégica alimentar. As fórmulas com que os analistas tentam caracterizar a conjuntura, designadamente a esquecida proposta de Kagan no sentido de comparar a Vénus a debilidade europeia, e de comparar a Marte a suposta força dos Estados Unidos da América, cuja doença da debilidade dos metais não pressentiu, tendem para ser desactualizadas, e isto pelo facto de que este aviso do fornecimento do gás também diz respeito àquilo que chamou o regresso da história.
Adriano Moreira, hoje no DN, no artigo «AVISO»

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A MAFALDA CONHECIA A CRISE

Passei os últimos 4 dias, nos tempos livres, a ler aqueles pequenos livros da Mafalda, editados pela D. Quixote, ainda antes do 25 de Abril. Revisitei essas pranchas do Quino. E com muito humor está lá tudo. As soluções das crises já eram conhecidas da Mafalda. Como eu adorei estas horas que passei a reler a Mafalda. Mas queria aqui comungar convosco o pensamento da Mafalda no último quadradinho da última prancha do nº3 dessa colecção: "É SEMPRE O MESMO: O QUE É URGENTE NÃO DEIXA TEMPO PARA O IMPORTANTE".
Espero que este pensamento da Mafalda vos permita boas reflexões.
Sobre esta crise global também é muito interessante a antevisão precisa e clara que dela fez George Soros no seu livro "Era da Fialibilidade" de 2006. Vale a pena ler. Embora ele esperasse que a crise "estoirasse" em 2007, e esse estoiro se atenha adiado um ano, o que para o caso é irrelevante, vale bastante a pena ler a sua percepção do mundo económico.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O PILAR DA HIPOCRISIA

Há quem diga que "é fita" para a televisão. É verdade que essa é parte do problema. Temos olhos cansados, habituámo-nos a tudo, à miséria e à fraude, à corrupção e ao despotismo. A televisão, predadora de sentimentos, mostra imagens até à fadiga, à insensibilidade. Não se acredita, nem se vê o sofrimento dos outros, para não incomodar as nossas certezas ou para não revelar a nossa insegurança.
António Barreto, hoje, no Público.

sábado, 24 de janeiro de 2009

UM PAÍS NÃO É UMA FÉ. É UMA REALIDADE VIVA, COM PRINCÍPIO E FIM

Portugal tem riscos sérios de viabilidade, se os portugueses não se aperceberem que os países, como as civilizações, são mortais. O problema é que - intoxicados por anos de relativo ou grande progresso, sossegados pela falta da memória de crises graves, habitados por uma cultura de direitos sem responsabilidades, incapazes de sentir o interesse colectivo, formados nos tempos das reivindicações que se seguiram ao 25 de Abril - os portugueses não querem perceber os riscos, nem mesmo acreditam nos perigos.
José Miguel Júdice, ontem, no Público, no artigo «O ATOLEIRO»

A DILUIÇÃO DO SUJEITO

Com a devida vénia, um trecho de um post do Combustões tirado daqui:

A Europa, outrora ufana e orgulhosa ao ponto de se proclamar rainha do pensamento, transformou-se neste deserto que sabemos. O embotamento tem o seu preço. Hoje, tão iguais uns aos outros, deixamos de ter razões que nos levem a estar uns com os outros, pois nada há a tratar com quem não quer, não deve nem pode falar sem medo de represálias. É preciso sair longe dessa atmosfera para recobrarmos o direito natural de falar, razonar e contrapor.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

E NEM SEQUER TÍNHAMOS REPARADO.

(...)
A crise económica de 2009 vai seguramente traduzir-se numa gravíssima crise alimentar. É absolutamente aberrante o que se está a passar. Temos gente que tem emprego, mas para quem é matematicamente impossível pagar as contas. Temos uma geração inteira, jovem, a ganhar 400 Euros mensais, por mais qualificações e competências que apresente.» O fosso entre ricos e pobres em Portugal é o maior da União Europeia. O rendimento dos dois milhões de portugueses mais ricos é sete vezes maior do que o dos dois milhões mais pobres. Um terço dos jovens entre os 16 e os 34 anos seriam pobres se dependessem apenas dos seus rendimentos. Não são sintomas da crise. São sinais de subdesenvolvimento.
(...)

O tipo com quem jogávamos à bola em miúdos, um colega da escola, um vizinho do lado. Um ser familiar e mudo, que se tornou invisível, que chegou ao fim da linha. E esse é o momento da bofetada. Alguém que conhecemos passa fome. E nem sequer tínhamos reparado.
No DN de Domingo, 18 de Janeiro de 2009, do artigo «Pobres como nós» no Notícias Magazine

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

DEVE-SE ESPERAR SEMPRE O PIOR


Assim, cheguei [M. THATCHER] às seguintes conclusões:
. O ocidente precisa, no seu conjunto, de reparar urgentemente os danos causados pelos cortes excessivos nos orçamentos de defesa.
. A Europa, em especial, deve aumentar rapidamente tanto a quantidade como a qualidade das suas despesas com a defesa.
. Os Estados Unidos devem assegurar-se de que têm aliados de confiança em todas as regiões.
. Não assumir a presunção de que as crises surgem isoladamente ou, quando muito, aos pares.
. Não dissipar em operações de paz multilaterais os recursos que podem ser mais bem usados nas emergências nacionais.
. Seja o que for que os diplomatas digam, deve-se esperar sempre o pior.
Margaret Thatcher, in "A ARTE DE BEM GOVERNAR - Estratégias para um mundo em mudança"

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

GENERAIS

José Miguel Júdice, hoje, no Público, no artigo "O Cilindro de Comando" referiu-se a eles. Transcrevo um trecho:

Eis senão quando, semanas depois, surgiu outra notícia: Portugal tem hoje mais generais do que no tempo em que o país estava em guerra em três frentes militares em África! Também esta notícia não foi comentada por ninguém. Pelo menos para salvar a honra do convento, comento eu. Não sem dizer que se confirma aqui o princípio de que "os militares combatem sempre a guerra anterior", admito que citada fora do contexto.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Veteranos sem apoios afastam recrutas das FA

É o título de notícia, hoje, no DN. Que expões o assunto assim:

A forma como os veteranos de guerra e deficientes militares são tratados condiciona a imagem das Forças Armadas e afecta o recrutamento de jovens para as fileiras, indica um relatório da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Publicidade negativa sobre o deficiente tratamento dado aos veteranos pode afastar potenciais futuros recrutas" de se alistar nas Forças Armadas.
E não posso deixar de relembrar que é um assunto há muito batido por aqui. O último post foi este aqui .

A DESCONFIANÇA

Adriano Moreira, hoje, no DN:
Ao mesmo tempo, a erosão da confiança dos cidadãos nos responsáveis pelas instituições democráticas vigentes nos países em que a adesão ao modelo é antiga e sem alternativa credível cresce de evidência.
(...)
Que das eleições decorra a autoridade confiável dos escolhidos é uma evidência posta crescentemente em dúvida por várias latitudes, ou que fica dependente de demonstração.
(...)
A abstenção nas urnas perde o significado da indiferença quando os movimentos cívicos atípicos se multiplicam e conseguem audiência, com tendência para ultrapassar as fronteiras nacionais, mas para ali se encontrarem com a desgovernança internacional. Os novos meios de comunicação fornecem apoio às imaginações, desafiam o isolamento dos cidadãos que se afastam dos modelos tradicionais de intervenção, alertam para a necessidade de solidariedades, forçando uma linha entre o desencantamento e o renascimento da esperança.
E, também no DN, Mários Soares disse:
Mas foi também um ano de mudança, porque temos de procurar um novo paradigma, visto que, manifestamente, o que tínhamos não serve. Trouxe corrupção, numa escala nunca vista, falências, desconfiança, desemprego, desigualdades, mais pobreza, e quem sabe se trará ainda revoltas, fruto do descontentamento...

domingo, 4 de janeiro de 2009

QUANDO A ÉTICA, AS LEIS, A FÉ E A JUSTIÇA NÃO FUNCIONAM, AINDA RESTA O DESESPERO E A VIOLÊNCIA.

É o titulo do artigo de Frei Bento Domingues, hoje, no Público. Deveras interessante. E é um texto de geoestratégia.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

SEGUEM OS DIAS AUSTEROS

Eu já não sei se as pessoas acreditam na renovação da esperança com que fazem a passagem do ano. Aquela esperança de que o ano novo vai ser melhor, já não habita nos espíritos quando se faz votos de desejo de um bom ano. E isso não é bom. Avança-se para um plano de desconforto geral. No fundo, «mais cedo ou mais tarde, esta mistura explosiva de ignorância e de poder vai rebentar-nos na cara», como disse Carl Sagan(ver aqui), e que é o mote deste blog. Mas como é que as sociedades ocidentais permitiram que fosse possível que a ignorância açambarca-se o poder? A quem interessava que assim fosse? E o que vai resultar? São questões que só o devir poderá fornecer respostas. Mas ciclicamente os vulcões rebentam. Há sempre explosões. Segundo dizem o Universo começou com uma, e a partir dessa outras continuam a impulsionar a vida do Universo em todos os aspectos.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

HOJE

Há alguém de quem nos esquecemos. Algures. Todos os dias nos esquecemos de alguém. Um dia vão-se esquecer de nós. Aqui ou no outro lado do planeta, vamo-nos esquecendo. Um dia, teremos a factura à frente.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

AQUELE OLHAR


E que importância teve esse mito da Sétima ldade para Portugal? lsso interferiu de alguma forma nos destinos de Portugal?
- A senhora já pensou nisso diante dos painéis de São Vicente? Olhe como está aquela gente! Eu levei lá uma vez o Kane, um amigo meu que foi director da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Dacar no Senegal. Ele veio aí e eu levei-o aos painéis. Expliquei-lhe rapidamente duas ou três coisas que se podem dizer dos painéis, sem erro. Número um, que é a única pintura do mundo em que uma nação tira o retrato. Não há, nunca houve em parte nenhuma, uma nação inteira a tirar e retrato. Todos os da nação, dos pescadores aos guerreiros, aos filósofos, aos juristas, aos mouros, aos judeus, uma quantidade de gente, extraordinário! Segundo, que é uma cerimónia religiosa, que ninguém hoje distingue por mais sábio que seja em coisas religiosas. Terceira coisa, é que há ali figuras históricas, aquilo é do fim do século XV, aquele rei é D. Afonso V, isso sabe-se e já com o infante se discute, se aquele sujeito do chapeirão é o infante D. Henrique ou talvez seja o D. Duarte, não se sabe bem, mas não importa. Dei-lhe duas ou três coisas desse género de explicações. Não entrei em mais pormenor nenhum para não atrapalhar e o homem ficou olhando e, depois, disse-me só uma coisa, a primeira vez que a ouvi a alguém olhando os painéis: «O olhar daqueles homens é espantoso, porque estão a olhar a realidade e o irreal do futuro!» Veja só, veio aquele senegalês, sabe, com uma definição do olhar daquela gente, que é uma coisa espantosa, muito bonita! Então é isso. A nação portuguesa sempre teve essas ideias sabe? Sétimas ldades, Espírito Santo e tal, mas ao mesmo tempo olhando bem as realidades, sabendo bem a sua matematicazinha, a sua náutica, todas essas coisas gue se têm de saber ali no concreto, no real. Podia ser muito interessante que três vezes cinco fossem dezasseis, só que não, são quinze. E, por outro lado, uma capacidade de passearem ao mesmo tempo pelos jardins do irreal e do imaginário, extraordinária!
Antónia Sousa, in "O IMPÉRIO ACABOU. E AGORA?" - Diálogos com Agostinho da Silva

domingo, 21 de dezembro de 2008

ESTIMAM-SE

Meditem nisto, pois só meditando podem analisar:

Os reguladores e os políticos conhecem intimamente os especuladores e os predadores. Não só se conhecem, como se estimam e convivem. Têm mesmo, simultânea ou sucessivamente, interesses comuns. O triângulo formado pelos políticos, os reguladores e os especuladores constitui um percurso pessoal que muitos fazem airosamente nas suas carreiras. Muitos políticos e muitos reguladores consideram que os predadores e os especuladores têm o direito de se entregar às suas actividades, de operar no mercado livre, de ter sucesso e de vencer nos negócios.
António Barreto, hoje, no Público

sábado, 20 de dezembro de 2008

FUNDO DE QUIMERA

A GENTE PORTUGUESA, AMOROSA, contemplativa sonhadora, com esse inesgotável fundo de quimera que lhe ficou da tradição religiosa,do ensino das visões místicas, do maravilhoso dos milagres e da alucinação do inferno, é notàvelmente própria para produzir de entre si engenhos excêntricos, onde a imaginação sobreleve e se imponha ao simples bom-senso, dando a realidade narrativa ao pesadelo, numa harmónica rrespondência com o feitio da alma popular, que, na sua miragem coiectiva do sebastianismo, procurou nos versejadores anónimos o estilo com que convinha fixar a sua fantasmagoria.


BRUNO SAMPAIO, in "A Geração Nova"

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

OBAMA NOMEOU UM GENERAL COM CARISMA PARA OS ASSUNTOS DOS VETERANOS. E POR CÁ?

O silêncio sobre os ex-combatentes. O esquecimento, a incúria, até mesmo a ingratidão. A semana passada morreu o Vasco. Mais um entre muitos que foi desprezado pelo país, esquecido pelo Estado, e sobretudo ignorado pelas Forças Armadas, que bem serviu. O stress de guerra e o álcool não são uma boa combinação.
O sr. Miguel Monjardino, que respeito como o faço a qualquer cidadão, escreveu no Expresso de 28.04.2007 "que a sociedade lusa não valoriza o papel dos seus militares". Presumo que o sr. Miguel Monjardino não serviu nas fileiras antes de 1975 e, como tal, nunca foi um ex-combatente. Eu já por aqui tenho escrito que o facto de não se honrar os que lutaram pelo país e as memórias dos que pereceram, como o fazem noutros países, e agora temos o exemplo da preocupação de Obama, tem consequências. E julgo que o sr. Monjardino não percebeu que nessa sociedade lusa estão os ex-combatentes e suas famílias e amigos, os esquecidos. O sr. Monjardino fala dos militares actuais, os que nunca passaram por nada parecido com que os outros passaram, e só com pré, nada de vencimentos luxuosos da actualidade. E a frase com que encerra o seu artigo tem muita acuidade: "Mais tarde ou mais cedo, o preço a pagar pelo nosso desinteresse e esquecimento será muito elevado". Mas a questão é que isto é aplicado sempre. Não pode ser só aplicado aos que serviram a partir de 1990, e os outros, os esquecidos, que se lixem. Pois é esta postura que tem um preço. Se até já nem o Lar de Veteranos Militares é para os veteranos militares, mas sim só para o QP. Os esquecidos ainda não estão todos mortos e vão lembrando, sempre, o desprezo a que foram votados. E essa lembrança tem custos. Que o sr. Monjardino não teve em conta, porque também olvidou os ex-combatentes.

domingo, 14 de dezembro de 2008

A CIÊNCIA EM PORTUGAL

Eu já perdi qualquer esperança neste país. No post anterior citei uma frase sobre o empréstimo dos filhos. Em Portugal não se pediu esse empréstimo. Tiraram-lhes, simplesmente.
Por isso peço que meditem na frase mote deste blog, que está abaixo to titulo do blog. Mas meditem nela todos os dias.
Hoje deixo um artigo para avaliarem:
A Ciência em Portugal
Miguel Mota
Publicado no “Linhas de Elvas” em 11-12-2007
Não há muito tempo, quando entrevistado por um jornal, um cientista português teve esta frase: “Queria ser professor universitário, porque era a única maneira de fazer ciência em Portugal”. Esta frase revela bem um dos clamorosos erros da política de ciência em Portugal nas últimas décadas: a destruição de toda a investigação que seja feita em instituições fora das universidades.
Os portugueses, com excepção das pessoas que trabalham em laboratórios do estado em diferentes ministérios, talvez não se tenham apercebido da fantástica destruição de boa ciência levada a cabo pelos governos das últimas décadas. Embora neste país muita gente não perceba o alto valor da ciência como cultura - como se mostra com os títulos de "Cultura e Ciência", considerando para a primeira a pintura, a literatura, o cinema e outras actividades, até a culinária - essa destruição não causou ao país apenas uma grande perda cultural mas também económica. Basta dar como exemplo o que tem sido feito aos dois primeiros desses grandes laboratórios, a Estação Agronómica Nacional, criada em 1936, e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, nascido dez anos depois e dela decalcado, duas instituições que muito projectaram o nome de Portugal no mundo, além de lhe darem grandes valores económicos. Impondo-lhes limitações de toda a espécie e culminando com o actual governo a realizar verdadeiras destruições, conseguiram reduzir enormemente a sua anteriormente boa produção científica.
Nem todos os ministros souberam ou quiseram resistir da mesma forma a essa destruição. Os que até muito a ajudaram foram os da Agricultura, todos eles incapazes de perceberem a verdade elementar de que sem o seu Ministério ter uma bem desenvolvida e de alto nível investigação agronómica nenhum país pode ter boa agricultura, daí resultando a situação vergonhosa que se encontra bem patente em qualquer supermercado, com a enormidade de produtos agrícolas importados que aqui devíamos produzir de melhor qualidade e mais baratos.
O problema é tanto mais errado porque, para além do valor cultural da ciência produzida - bem evidente nas citações dos trabalhos portugueses nas revistas científicas e livros texto de divulgação internacional - a investigação agronómica é um dos mais rendosos investimentos que qualquer governo inteligente pode fazer. Com os escassos elementos existentes - porque não se tem querido efectuar os estudos que já propus(1) - há muito mostrei como a investigação agronómica rende juros verdadeiramente astronómicos(2) . Quando propus a constituição dum Gabinete de Estudos Económicos na Estação de Melhoramento de Plantas apenas dispunha dum caso bem quantificado: a solução duma "doença" das vinhas do Douro, a maromba, resultado da investigação feita na Estação Agronómica, então ainda em Sacavém e que dava à lavoura duriense um valor anual que, ao tempo, era duas vezes todo o orçamento da Estação Agronómica. E, note-se, a solução desse problema continuou a dar ao país um valor semelhante (actualizado) todos os anos. Citei, ao tempo, os evidentes aumentos de produção de cereais das variedades lançadas pela Estação de Melhoramento de Plantas, cujo valor estimado era sempre várias vezes o que toda a Estação gastava ao estado. Ainda não havia, nessa altura um caso que cito com frequência, porque toda a gente conhece, embora a maioria lhe desconheça a origem: essa excelente uva branca de mesa 'D. Maria', "fabricada" na Estação Agronómica, em Oeiras, pelo meu infelizmente já falecido colega Eng.º José Leão Ferreira de Almeida, que a baptizou com o nome de sua mãe. O que essa variedade dá a mais, ao país, em relação às variedades que suplantou é certamente mais do que o que o estado investe na Estação Agronómica. Quantos mais casos como o da uva 'D. Maria' deixaram de contribuir para o PIB de Portugal é algo que os portugueses devem "agradecer" aos vários ministros da Agricultura e também aos da Ciência, desde que estes passaram a interferir no sector. E a destruição parece continuar até ao total desaparecimento dessa valiosa investigação e, mais uma vez, lembro a vergonhosa legislação dos finais de 2007, um verdadeiro crime de lesa ciência e de lesa economia. A única explicação que se encontra é que alguns medíocres das universidades (também lá há bons e muito bons), não sendo capazes de suportar a concorrência de melhores cientistas, têm conseguido que governos que não se importam de manter o país em baixo nível e na cauda da Europa, procedam a tais acções.
(1) Mota, M - "Da conveniência dum Gabinete de Estudos Económicos na Estação de Melhoramento de Plantas", Linhas de Elvas de 25 de Agosto de 2000.
(2) ---------- - Investigação Agronómica e Extensão Agrícola, as bases fundamentais do Desenvolvimento Rural, Vida Rural de Julho de 1999.
http://agriciencia.blogspot.com/

domingo, 7 de dezembro de 2008

O AUTÊNTICO CONSERVADOR

«O autêntico conservador é alguém que sabe que o mundo não é uma herança dos seus pais, mas um empréstimo dos seus filhos.»
J.J. Audubon (1800)

«O assalto dos merceeiros e desmiolados a tudo o que desprezam ou desconhecem, a substituição das velhas elites por gentinha insignificante vai provocar, cedo ou tarde, uma vaga de violência que permitirá a reedição do erro que foi o comunismo; ou pior, talvez de um neo-comunismo quase sem Marx, mas com muito Hitler à mistura.»
Do blog "COMBUSTÕES", ontem.
A que junto o lema, e tema, deste blog desde o primeiro post (ver abaixo do título).

sábado, 6 de dezembro de 2008

A INDIGNAÇÃO DOS CROATAS

Gostei de ver a indignação dos cidadãos croatas. Em manifestação veiculada pela internet. Mas sobretudo gostei do que disseram sobre os políticos. A coisa está-se a compor.