domingo, 31 de dezembro de 2006

ESFORCEM-SE POR FAZER DE 2007 UM ANO BOM.

Façam o favor de lutarem e labutarem para que o ano de 2007 seja um bom ano. Para vós e para todos.
Desejo-vos um feliz ANO NOVO.
E despeço-me do ano por aqui com um poema que encontrei neste site da autoria desta menina, Inês Delgado, 13 anos, Lisboa.
Quero escrever versos,
Versos de amor, de ironia,
Quero preencher todos os espaços,
Desta folha vazia.
Quero, ao escrever,
Ser completamente livre,
Lembrar-me do que quis ter,
Mas que nunca tive.
Quero com estas tantas palavras,
Que escrevo sem encontrar fim
Encher além destas folhas brancas,
Os espaços imensos que há em mim.
Lembrar, esquecer
Dormir, acordar,
Desejar morrer,
E depois lamentar.
Senti a presença da solidão,
Ri as lágrimas que não chorei,
Agindo com o coração,
Sempre errei.
Escrevo partes do que sou,
E dedico-tas a ti,
Mas só eu o sei,
Não sairá daqui.
Todas as lágrimas foram enxutas,
Neste pedaço de papel, que agora é um pouco de mim,
As minhas palavras sentidas, doces ou brutas,
Assim como eu chegaram ao fim.

sábado, 30 de dezembro de 2006

NOÇÃO DE ISOLADO

«Na impossibilidade de abraçar, num único golpe, a totalidade do Universo, o observador recorta, destaca, dessa totalidade, um con­junto de seres e factos, abstraindo de todos os outros que com eles estão relacionados.
A um tal conjunto daremos o nome de isolado; um isolado é, portanto, uma secção da realidade, nela recortada arbitrariamente. É claro que o próprio facto de tomar um isolado comporta um erro inicial – afastamento de todo o resto da realidade ambiente – erro que necessariamente se vai reflectir nos resultados do estudo. Mas é do bom-senso do observador recortar o seu isolado de estudo, de modo a compreender nele todos os factores dominantes, isto é, todos aqueles cuja acção de interdependência influi sensivelmente no fenómeno a estudar. De que nem sempre isso se consegue, a história da Ciência e a vida de todos os dias oferecem múltiplos exemplos. Quantas vezes, na observação de um certo fenómeno ou no decurso duma dada acção, surge um facto inesperado. Que quer dizer – inesperado?
Que o isolado não fora convenientemente determinado, que um factor dominante estava ignorado e se revela agora. Será preciso acrescentar que no aparecimento do inesperado reside um dos motivos principais do progresso no conhecimento da realidade, porque, obrigando a uma melhor determinação do isolado, exige um mais cuidadoso exame das condições iniciais?
Muitas vezes, o estudo encaminha-se de modo que há necessidade de tomar um isolado como elemento constitutivo de um outro mais largo.
Por exemplo, após ter tomado como isolado cada um dos órgãos duma árvore e estudado a sua fisiologia particular, constitui-se um isolado superior – árvore e terreno – no qual se estudará a vida fisiológica da árvore. Por sua vez, a árvore pode ser tomada como uma unidade dum novo isolado mais largo – uma floresta, – a flora duma certa região, etc. Quer dizer, para a recomposição dum certo compartimento da Realidade, é necessário constantemente construir cadeias, e a cada elo da cadeia corresponde um nível de isolado
Bento de Jesus Caraça, in "Conceitos Fundamentais da Matemática"

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

COMO CHEGÁMOS A ESTE PONTO


Para dar ênfase ao post anterior recomendo que leiam aqui o artigo “Desleixo ou Incompetência”, de Silva Peneda, no Público de ontem.

E também de ontem no Público, aqui, “De Bom Aluno a Mau Exemplo”, de Paulo Ferreira.

Deste destaco a parte final:


«Portugal, já sabemos, cometeu uma sucessão de erros graves na segunda metade da década de 90. Embriagado pela descida abrupta das taxas de juro, o país consumiu o que não tinha, não produzia nem quis passar a produzir. Como consequência, endividou-se perante a banca e perante o exterior. A política orçamental foi irresponsavelmente laxista e toda a margem de manobra dada pela descida das despesas com a dívida pública e pelo aumento das receitas fiscais foi enterrada em gastos correntes do Estado.Se há um político a crucificar ele não pode ser outro senão António Guterres.Mas a entrega de culpas ao poder político não pode, nem deve, descansar todos os outros espíritos. A responsabilidade deste desastre colectivo é, efectivamente, repartida pelo Estado e pela sociedade civil.Não são os governos que são avessos ao risco, preferindo o aconchego do mercado interno, protegido de concorrência externa. E a degradação económica do país também passa muito por aí. Em plena euforia, muitas empresas deixaram de produzir os chamados bens transaccionáveis - aqueles que podem ser exportados ou que podem sofrer concorrência de produtos semelhantes importados - e refugiaram-se nos serviços ou na construção civil, escapando à pressão de empresas internacionais mas perdendo, ao mesmo tempo, capacidades para competir em mercados globais. Agora que a febre do consumo e da construção passou essas fragilidades ficam à vista.Também não foram apenas os governos que praticaram políticas salariais irrealistas para a evolução da produtividade. Quando há aumentos de ordenados desajustados na função pública prejudica-se o equilíbrio das contas públicas. Mas quando isso acontece no sector privado é a capacidade competitiva das empresas que fica em risco. E quando a eficiência não acompanha as remunerações, há essencialmente um problema de gestão na empresa.Tudo isto é referido nesse pequeno documento, que pretende lembrar aos países que vão aderir ao euro que "os bons tempos não duram sempre". E que, por isso, há que fazer pela vida, deixando de pensar que se pode viver de rendas, venham elas de mercados protegidos ou da folga dada pelo crédito barato.Que o mau exemplo em que nos transformámos sirva para nos confrontar com a vergonha que temos que sentir, sejamos patrões ou empregados, consumidores ou produtores. A oportunidade foi única e não soubemos fazer nada com ela

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

PORTUGAL É SEMPRE PIOR E CONTINUARÁ A PIORAR


Ontem os noticiários alertaram para a existência de um artigo publicado pela União Europeia onde Portugal é apontado como o mau exemplo a não ser seguido pelos novos aderentes à União, e a ser tomado em conta pelos outros o mau exemplo para nele nunca caírem. Podem vê-lo e gravá-lo aqui.
Só me admira uma tão tardia acção. Os erros são políticos. E como venho dizendo, faça-se a comparação com a Espanha. Constata-se bem a mediocridade portuguesa. A única solução para Portugal era se os espanhóis pegassem nisto. Mas como eles são astutos e bons gestores, nunca cairão nessa. Se 2006 foi um ano mau, 2007 ainda vai ser muito pior. E os seguintes ainda serão piores. Portugal vai continuar a empobrecer, os políticos que temos continuarão a dar cabo do país, como têm feito nos últimos trinta anos, e a existência dos portugueses, da grande maioria, será cada vez mais miserável.
E ninguém se revolta. Por isso os portugueses merecem o que lhes está a acontecer.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

SOU ANTI POLITICAMENTE CORRECTO

Embirro com o consenso generalizado sobre as perspectivas que abordam qualquer tema. Só se emitem opiniões que, com segurança, não provoquem a ira dos donos da verdade. E há sectores que sabem muito bem aproveitar-se deste medo, pelo que fazem avançar os seus interesses escudados de ataques, que muitos pensam mas que não dizem.

«Nos nossos tempos do «politicamente correcto», é sempre de bom-tom começar com um conjunto de interditos não escritos que definem as posições que alguém está autorizado a defender

Slavoj ZiZek, in "A Marioneta e o Anão".

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

O FUTURO DA EUROPA TEM FUTURO?

«Muita gente, sobretudo na Grã-Bretanha, apostou no alargamento para diluir a UE, em particular na sua dimensão política. Teríamos então uma mera zona europeia de comércio livre, o grande objectivo britânico dos anos 50. Mas a aposta que então vingou foi a do Tratado de Roma, que em Março comemora 50 anos.
Acontece que - como era inevitável - a crise da integração está também a afectar a liberalização económica na União. Veja-se o renascimento dos nacionalismos económicos, e não apenas em França.
Apesar de chefiado pelo anterior presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, o Governo italiano fez abortar a compra da Autostrade, no sector das auto-estradas, pela espanhola Abertis. E o Governo europeísta de Madrid tenta por todos os meios travar a compra da Endesa pela germânica E.ON. Por sua vez, o Governo de Merkel acaba de publicar uma lei altamente proteccionista da Telecom alemã.
Entretanto, há três semanas, no Congresso do Partido Socialista Europeu, no Porto, Ségolène Royal foi vibrantemente aplaudida (também por Delors?...) quando reclamou contra a independência do Banco Central Europeu, que havia subido o juro. Ou seja, o mercado único europeu, com livre circulação de pessoas, serviços, bens e capitais está ameaçado até na sua expressão mais emblemática, o euro
Sarsfield Cabral, aqui, no DN de 23 do corrente mês.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

SE O NATAL ...

«Se, por negligência, maldade ou ideologia, a referência e os fundamentos confessionais do Natal fossem perdidos, mas continuasse a ser a festa das crianças, dos pobres, dos sem-abrigo, dos velhos, dos que não têm ninguém, dos hospitais, dos abandonados, dos presos, dos esforços para acabar com as guerras, a violência e a marginalidade, o principal não estaria perdido
Frei Bento Domingues, aqui, ontem, no Público.

domingo, 24 de dezembro de 2006

UM SANTO NATAL A TODOS

LADAINHA DOS PÓSTUMOS NATAIS


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

In “OBRA POÉTICA” de David Mourão-Ferreira

sábado, 23 de dezembro de 2006

MODERNIDADE

«Uma possível definição da modernidade é a seguinte: a reli­gião, que já não está completamente integrada na ordem social nem identificada a uma forma particular de vida cultural, adqui­re uma certa autonomia que lhe permite sobreviver enquanto re­ligião idêntica em culturas diferentes. Este estatuto permite-lhe globalizar-se: hoje há cristãos, muçulmanos e budistas em todos os países do mundo. Porém, esta globalização tem um preço: a religião vê-se assim reduzida a um mero epifenómeno secundá­rio em relação ao funcionamento profano da totalidade social. No quadro desta nova ordem mundial, há dois papéis possíveis para ela: terapêutico ou crítico – ou ajuda os indivíduos a fun­cionarem cada vez melhor na ordem existente, ou procura afirmar-se como uma instância crítica e dizer o que está errado nessa ordem como tal, ou seja, enquanto espaço aberto às vozes contestatárias - neste último caso, a religião tende a assumir, como tal, o papel de uma heresia
Slavoj ZiZek, in "A Marioneta e o Anão"

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

O PESADELO DE DEUS

Os demónios apoderaram-se da palavra de Deus. Arrogam-se de falar em nome de Dele. Dominam as instituições religiosas que O honravam, fazendo dessas instituições organismos de culto de poder, de glorificação da riqueza, de proselitismo do mal, enfim, organismos ao serviço do príncipe das trevas.
O desprezo que esses organismos manifestam pela pobreza, pela dignidade humana, pela sobrevivência digna das crianças e das populações em geral, é horripilante.
Por isto, até Deus, que é mesmo Deus, O misericordioso, O omnipresente e omnisciente, deve ter pesadelos. E dos grandes.
Nós, míseros humanos, que não reagimos, tomamos anti depressivos, uns em comprimidos e outros em graduação alcoólica, ou qualquer outra droga similar que cause, momentaneamente, alienação da realidade. E aí o pesadelo de Deus ainda é maior.
E vai haver mais um Natal em que não daremos um presente a Deus, pois não lhe vamos aliviar o pesadelo.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

EX-COMBATENTES SÃO HOJE A CONSCIÊNCIA DA INSTITUIÇÃO MILITAR

Excluindo-se os ex-combatentes, ou seja, a integração nacional, resta, então, um clube privado, os militares, vulgo instituição militar.
Esta instituição, em qualquer país normal e democrático, tem como missão garantir a existência do país e respectivas instituições, bem como velar pela segurança e bem estar das suas populações. E tudo isto em consonância com os ditames do respectivo poder político. E sempre como corolário do esforço integrado de todos os nacionais, pois a responsabilidade dessa missão é de todos os cidadãos, embora a sua execução não seja efectuada por todos.

Posto isto, a exclusão da defesa dos direitos, da consideração devida, do bem estar e da gratidão (nunca reconhecida) aos ex-combatentes, derruba por terra qualquer justificação da existência da instituição militar em Portugal. Que é, aliás, o único país da Europa Ocidental que desconsidera os seus ex-combatentes.
Quando, acima disse que é “sempre como corolário do esforço integrado de todos os nacionais, pois a responsabilidade dessa missão é de todos os cidadãos”, vê-se pela forma como todas as instituições, incluindo especialmente a militar, que em Portugal tal corolário já não se verifica.

Assim, os militares, ao fazerem a defesa de se não pagar os míseros euros aos ex-combatentes, assumiram-se como um clube privado. Em Portugal, tudo o que eu enunciei como missão da instituição militar para um país normal e democrático, não é cumprido. Como tal a instituição militar não tem razão de existir. Transformou-se num clube privado a exigir que os cidadãos contribuintes, simplesmente, os sustentem, mais as suas mordomias, não se preocupando, nem lhe interessando, os cidadãos contribuintes que combateram pelo país , eles que eram verdadeiramente a Instituição Militar na sua génese, o povo na defesa dos interesses do país. Hoje, aos actuais militares, já só lhe interessam os seus vencimentos e mordomias. Só que eu fui criado, e servi, num tempo em que o comandante só comia depois de estar garantido que todos os seus homens tinham comida, e que só dormiam depois de saber garantida a acomodação para todos os seus homens. E que combatiam lado a lado. Infelizmente isso foi-se perdendo. Nos últimos tempos da chamada “guerra colonial”, no mato, em campanha, já só o sargento, quase sempre, é que era do quadro permanente. Os oficiais foram assim perdendo a ligação ao país real e aburguesaram-se demasiado. E depois restaram a falar do 25 de Abril. Que não passou de um levantamento de rancho. Não passou de uma reivindicação profissional por causa de uns que, como eles diziam, não tinham a 4ª classe militar. Foi esse o problema. Uns não tinham, e os outros só tinham a tal 4ª classe militar. Como o tempo foi demonstrando de imediato, isso era muito pouco, e desde então tem faltado muita classe, sobretudo na forma de tratar os ex-combatentes. E ao país falta compensar os ex-combatentes. Por muito que alguma vez venha a fazer, e eu não acredito, nunca compensará devidamente. Mas ao menos, de alguma forma, compensava e ficava o reconhecimento do país.
Temo que isso, infelizmente, venha a acontecer quando só restarem 2 ou 3 vivos, pelo que lhes vão dar, então, tudo e mais alguma coisa a esses 3, porque será, então, baratinho, e haverá a esperança de que morram dias depois.
Quer se goste ou não de Salazar, e eu não sou admirador, tem de se reconhecer o alcance da sua célebre frase: Choraremos os mortos se os vivos os não merecerem. E os vivos não os merecem. Choremos, então, pelos mortos, pelo país agonizante, pela indigência, a vários níveis, dos políticos, e por todos nós que fomos incapazes de impor o respeito que é devido a Portugal e à memória dos portugueses que, ao longo dos séculos, com mais ou menos esforço, com mais ou menos sucesso, nos legaram um país que agora, ao que parece, alguns se esforçam por esbanjar com a apatia de, quase, todos nós.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

PARA SE PERCEBER UMA GEOESTRATÉGIA PARA A UNIÃO

«Em nenhum espaço do Globo as relações da geografia formam, como no Mediterrâneo, uma trama espessa e indissolúvel. É preciso considerar a persistência das condições naturais e a continuidade do esforço humano para compreender as gentes e os lugares
Orlando Ribeiro, in "Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico".

domingo, 17 de dezembro de 2006

E NÃO É UMA QUESTÃO DE SEMÂNTICA

«O facto de esta ameaça incluir no seu conceito estratégico o apelo a valores religiosos não implica que a governabilidade de um corpo político como a União seja compatível com a integração dos cooperantes e aliados também ameaçados. Com a ameaça ou sem ela, é da governabilidade e das fronteiras de inclusão que parece urgente tratar, para que estas referências sejam claras para os eleitorados e para os parlamentos, e para que a semântica da adesão não fique associada a emoções pontuais, inspirando mudanças de propostas exteriores ao processo, condicionadas por dificuldades ocasionais e não por uma elaborada avaliação das tendências duras da conjuntura. »
Adriano Moreira, aqui, no DN, sobre "O Alargamento Europeu".

sábado, 16 de dezembro de 2006

AS NOTÍCIAS NO PAÍS GASTAM-NOS A EXISTÊNCIA

Depois o estado de espírito prefere rosas.


Prefiro rosas, meu amor, à Pátria
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif'rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.

Ricardo Reis

RECORDES

Camilo Lourenço colocou uma questão deveras acutilante. Aqui, no Jornal de Negócios, num artigo que vale a pena ler na totalidade. Fico à espera que alguém elucide, se é que há alguém com coragem para o fazer.

«Há recordes difíceis de explicar: como é que um país leva seis anos para sair (?) do procedimento de défices excessivos, por exemplo

AS INDIGNAÇÕES NO FUTEBOL

«O Portugal real que tanto se indigna com a compra de um árbitro pelo dirigente X, se este for do clube que se odeia, como se apressa encontrar mil desculpas para o desfalque do dirigente Y, se ele for "dos nossos". O Portugal real que, saindo das grandes cidades onde a distância permite avaliar com frieza, tem receios vários e, pior do que isso, muitas vezes deve favores e teme violar hábitos enraizados
Do editorial do Público de hoje.

O FUTEBOL INDIGENTE

«A corrupção no futebol é, além disso, a corrupção mais popular. Não a mais grave, não a mais comum, nem sequer, coitada, a mais prejudicial. Os "negócios" fazem coisas com que nunca sonhou o pior aldrabão do futebol. Mas fazem o que fazem discretamente, sem um nome à vista e em operações tão complicadas que ninguém percebe. O futebol não goza desta penumbra. É público, primitivo e também ele indigente. »
Assim disse o VPV no Público de hoje.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

DE FUTUROS


«Nenhuma coisa se pode prometer à natureza humana mais conforme a seu maior apetite, nem mais superior a toda sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros;
(…)
O homem, filho do tempo, reparte com o mesmo tempo ou o seu saber ou a sua ignorância; do presente sabe pouco, do passado menos e do futuro nada.»



Por causa da "contra-capa", no post anterior, tive necessidade de ir ler, um pouco, da História do Futuro, do Padre António Vieira. Aqueles dois pequenos extractos são do capítulo primeiro.

INDIVIDUALISMO GROSSEIRO

«O mundo do Século XXI afunda-se num individualismo grosseiro. As nações ricas fomentam a guerra entre os povos mais atrasados, ven­dendo-lhes as armas com que estes se matam, para lhes levar as rique­zas naturais que possuem, ao preço das balas e do sangue que elas fa­zem! Populações inteiras do Terceiro Mundo são vítimas de genocídios horrorosos, de limpezas étnicas de uma brutalidade nunca antes vista na história da Humanidade, de fome generalizada que ceifa, antes de outras, as vidas de inocentes que apenas cometeram o pecado de terem nascido naquelas coordenadas. O tráfico de menores para os chamados paraísos do sexo ou, não raro, para pesquisas laboratoriais, como se de ratos se tratasse, ou, pior ainda, para as grandes clínicas dos países ricos, a fim de serem "dadores de órgãos"; a passagem de droga que destrói famílias e mata a nossa juventude; a lavagem de dinheiro sujo, proveniente das explorações mais ignominiosas do ser humano, tudo é feito hoje com a consciência tranquila das autoridades nacionais das instâncias internacionais, dentre elas o próprio Vaticano que reti­ra despudoradamente desses negócios satânicos chorudos rendimentos que vão parar aos cofres do IOR. »

Esta é a contra-capa do livro “Pedro II – O Último Papa” de Alberto da Silva Campinho, que foi juiz e nascido em Barcelos e falecido em Braga. Ainda não li o livro. Adorei a contra-capa.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

VIOLÊNCIA SOBRE CRIANÇAS

«Muitos actos de violência perpetrados contra as crianças continuam escondidos e têm muitas vezes a aprovação da sociedade, segundo o Estudo do Secretário-Geral das Nações Unidas sobre a Violência contra as Crianças apresentado ontem à Assembleia Geral. Pela primeira vez, um único documento apresenta uma visão global sobre os diversos tipos e a escala da violência contra as crianças no mundo. » Assim noticia a UNICEF.
Veja aqui o estudo em castelhano (vulgo espanhol).
Veja o site do estudo e escolha outro idioma, se preferir.
E veja também A SITUAÇÃO MUNDIAL DA INFÂNCIA 2007 aqui.
Ao menos não se assuma sempre como um ignorante social. Leia, informe-se. Deixe de ser indiferente antes que a indiferença o atinja gravemente.

PARADOXALMENTE

Hoje deve-se ler/estudar o artigo de Rui Ramos, aqui no Público.
Só uma amostra:
«Desde que deixámos de ser rurais e pobres à maneira antiga, deixámos também de ter certezas acerca do que somos. Os portugueses vivem bem, por comparação com a maioria da humanidade. Mas não sabem se têm verdadeiramente meios para viver assim, ao mesmo tempo que, um pouco paradoxalmente, se sentem com o direito de ainda viver melhor. Por isso, uma das poucas coisas em que quase todos concordamos é que precisamos de ser mais ricos

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

TLEBS

«Perante a mudança da NGP para a TLEBS, é fundamental sabermos – todos: alunos, pais, cidadãos, professores, linguistas, governantes – se a Terminologia está em condições de servir melhor do que a Nomenclatura de 1967. Em minha opinião, não está de modo nenhum, nas suas partes essenciais, e acarretará consequências pesadamente nefastas para a qualidade do ensino da língua portuguesa (e, presumo, também para a sua eficácia, matéria em que, nunca tendo sido docente de português, apenas me posso orientar pelo bom senso). Acontece, porém, que qualquer postura crítica tem de ser solidamente argumentada, não sendo relevante nem produtivo lançar aqui e acolá afirmações soltas, por vezes mal fundamentadas ou sobre questões pouco significativas. Na verdade, a avaliação de um produto como o que está em causa é uma questão muito complexa, em que têm de se combinar diversos planos de análise, nomeadamente o da qualidade científica das opções nele assumidas, o da sua adequação didáctica e pedagógica, o da viabilidade da sua aplicação por parte dos professores de português, o da sua oportunidade ou necessidade e o da sua interacção com outras disciplinas. Pela minha parte, procurarei neste texto avaliar a TLEBS sobretudo no plano científico, ou seja, como é trivial, no que respeita aos parâmetros clássicos: adequação dos termos e análises ao objecto de estudo e sua simplicidade e clareza, além da consistência, economia e elegância do sistema no seu conjunto. Infelizmente, terei de concluir que, em todos estes parâmetros, a TLEBS enferma de vícios graves, pelo que a minha avaliação não poderia ser mais negativa.»

Assim diz o Professor João Andrade Peres, Linguista, professor catedráticoda Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, num texto que pode, e deve, aqui, ler na íntegra.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

PINOCHET FALECEU! A PERSONAGEM NÃO MORREU


Infelizmente só a pessoa morreu. Tudo o que ela representava se mantêm. Se dúvidas houvesse, bastava constatar a divisão entre os que, no Chile, ficaram contentes e os que ficaram pesarosos. Os regimes totalitários têm sempre sustentação de populações, de grande parte das populações. E não é por mérito deles. É sempre por demérito das democracias. São as democracias que ao falirem nas boas intenções, empurram as populações para caminhos estreitos e ínvios que conduzem a regimes totalitários. O post que coloquei na Sexta-feira, com a frase de Malraux, sintetiza o que acabo de dizer. As democracias, ao ficarem presas e subjugadas nas mãos de crápulas, incrementam elas próprias os regimes totalitários. E, mais uma vez, não me canso de chamar a atenção à frase que serve de mote a este blog.

domingo, 10 de dezembro de 2006

HÁ QUEM SAIBA

Num pequeno e excelente artigo, que José Cutileiro publica no Expresso deste fim-de-semana, está contido o crucial da geoestrátégia europeia da actualidade. Numa certa perspectiva vale tanto, ou mais, que muitos compêndios e teses. Para os aprendizes de feiticeiros que por aí andam não basta lê-lo, mas devem-no estudar para ver se começam, de uma vez por todas, a aprender alguma coisinha e a diminuir a frequência de disparates. Do artigo destaco só o início:

«A Europa perdeu vocação de poder. Em 1945, ar­ruinadas, as suas na­ções ocidentais sob pro­tecção norte-americana e com medo da Rússia Soviética encar­rilaram na economia de merca­do, na democracia parlamentar e na paz entre si. Com defesa assegurada pelos Estados Uni­dos inventaram a União Euro­peia, hoje segunda potência co­mercial do mundo, e enriquece­ram. Entretanto engordaram, deixaram de perceber o que lhes convinha e perderam ga­nas de lutar pelo futuro. Duran­te a Guerra Fria não se deu por isso; assim que ela acabou vie­ram os desastres.»

sábado, 9 de dezembro de 2006

NÃO É SÓ PREOCUPANTE; É PERIGOSISSIMO

No Público, aqui.
«O criacionismo, ou a teoria da concepção inteligente, é um movimento que defende que a vida na Terra começou tal como vem na Bíblia, com Adão e Eva, e que todos descendemos dos animais e humanos que embarcaram na Arca de Noé. É um movimento religioso e fundamentalista, que tenta afastar dos manuais escolares a teoria da evolução de Darwin, e tem grande expressão nos Estados Unidos. Mas começa a ganhar terreno na Europa e está a chegar a Portugal.»
Se calhar quase ninguém se apercebe das implicações geoestratégicas destes movimentos.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

DEMOCRACIA

«Vi as democracias intervirem contra quase tudo, salvo contra os fascismos .»
André Malraux.

Tanto opinador, tanto político, tanto palavroso, tanto aprendiz de feiticeiro e tantos sabem tão pouco de ciência política. A frase de Carl Sagan, que serve de mot a este blog, ainda terá a sua justificação.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

AS BOAS CONTAS NO ESTADO

O artigo de Rui Moreira, aqui no Público, de que destaco o início, vai-me obrigar a lembrar de pôr ainda este mês um post sobre os fechos das rubricas orçamentais nas chafaricas do Estado.


Já se sabe que as obras públicas estão sempre sujeitas ao efeito consecutivo de um multiplicador comum: primeiro, surgem os estudos de consultores competentíssimos, que indicam um orçamento inicial. Na elaboração dos cadernos de encargos, esse orçamento é multiplicado até se chegar à base de licitação. Adjudicada a obra, os "trabalhos adicionais" imprevistos e não orçamentados multiplicam novamente o valor pelo mesmo factor. Quando a factura chega ao conhecimento do público, a culpa não é de políticos nem técnicos, porque há muito que morreu solteira.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

AINDA A FLEXISEGURANÇA

Indispensável ler o artigo da Dra. Teodora Cardoso, aqui no Jornal de Negócios.
Destaco:

É o número e a qualidade destes [ de criação de novos empregos] que distingue um regime laboral que protege o emprego e fomenta o crescimento económico de um que o não faz. Quando os novos postos de trabalho são em maior número e capazes de absorver tanto os trabalhadores jovens como os idosos, os mais e os menos qualificados, estaremos perante uma verdadeira segurança de emprego.
Quando, além disso, a deslocação se dá de empregos que a tecnologia ou a competitividade tornaram obsoletos para outros mais eficientes, teremos criado um ingrediente essencial ao aumento do rendimento e do emprego
.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

POIS ENTÃO, QUE SE EXTINGAM AS FORÇAS ARMADAS

No Domingo, Marcelo Rebelo de Sousa, lá no seu programa, disse que se devia abrir o debate sobre a manutenção ou não das forças armadas em Portugal.
Está aberto. Eu sou pela extinção pura. E passo a explicar.
Disse, aqui, Diogo Vaz Guedes, o seguinte: «Quando lhe falo em Portugal, falo em Ibéria. Portugal já não existe. O mercado é Ibérico e quem não vê isso está enganado.» E ele é um dos homens do Compromisso com Portugal, lembram-se? O Dr. João Salgueiro, aqui há tempos, disse que Portugal é ingovernável.
Mas agora para mim o mais dramático foi o que se disse sobre os ex-combatentes. A mim ofendeu-me. Afirmar que Portugal "não tem recursos para resolver os problemas do futuro e do passado" para justificar o fim de um complemento de pensão, de valor ridículo, aos ex-combatentes foi uma manifestação de desconsideração por eles. Apesar de serem combatentes no passado, não estão mortos. E o futuro de Portugal não passa pelas forças armadas, antes pelo contrário.
Os ex-combatentes da chamada “Guerra do Ultramar” foram obrigados a ir. E as praças ganhavam um pré de miséria. Nada comparado com os chorudos vencimentos que agora ganham para irem para lugares paradisíacos, e não sendo obrigados, pois se estão nas forças armadas, estão-no de forma voluntária. Os ex-combatentes, que combatiam mesmo, se ganhavam alguma medalha, era em cima do caixão, e nunca enchiam o peito de medalhas. Combateram sem condições nenhumas. Eles que contem as histórias reais do que por lá passaram. Eles que tinham de ir 3 ou mais dias pelo mato para fazerem uma envolvente a uma operação, só com rações de combate e a dormir no mato, a que se acrescentava outros tantos dias de regresso. E quando chegavam ainda tinham de ir em coluna buscar água para se lavarem e em condições precárias. E comiam mal, em cozinhas precárias, de prato na mão. Eles que contem. E dormiam em cabanas tipo bairro da lata. Eles que contem. E no regresso, se não iam para funcionários públicos, nem o tempo lhe contavam para a reforma. Agora já foi corrigido, mas parece-me que ainda não a contagem a dobrar nas comissões a 100%. E o que é que o país lhes reconhece? Nada. Deram cabo da saúde, e muitos ficaram com as vidas arruinadas, e o país não lhes reconhece nada. Um deputado que ande a passear-se na Assembleia da República, pode reformar-se com 12 anos de passeio, e já foi com 8. Mas um ex-combatente não tem nenhum direito reconhecido. Os militares do quadro permanente têm hospitais de que se servem e as famílias. Os ex-combatentes não. E as companhias que estavam no mato, com excepção do 1º sargento, já só tinham pessoal do serviço militar obrigatório, do capitão até às praças. E alguns capitães foram obrigados a fazer duas comissões. OBRIGADOS. Eles que contem as histórias do que por lá passaram. E o que é que os ex-combatentes têm hoje. Porque é que os militares do Quadro Permanente nunca disseram nada a favor dos ex-combatentes? E a Liga dos Antigos Combatentes porque se silencia? Porque é dominada por militares? Será? Não há civis na sua estrutura? Ninguém se revolta?
Pois então se o país não tem dinheiro para grandes coisas, que cuide melhor das pessoas e extinga as forças armadas que logo resolve os problemas todos. Também já ninguém percebe qual a sua utilidade actualmente.
Se Portugal fosse um país a sério e estivéssemos a falar de condicionantes geostratégicas do país, então aí eu discorreria de outra maneira. Mas, como diz Diogo Vaz Guedes, Portugal já não existe, então é um desperdício estar a forçar os cidadãos à miséria para sustentar um sector e um estilo de vida ofensivo para quem só recebe 150 euros por ano como complemento de reforma, ou dividindo por 12 meses, 12,5 euros por mês. E estão contra os ex-combatentes por 12,5 euros por mês? O país devia dar-lhes, no mínimo, 500 euros por mês a cada um e dar como idade de reforma os 60 anos, que bem mereciam e não era nada de mais.
Pois então que se extingam as forças armadas. É mais pacífico para todos.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

A QUALIDADE DO ENSINO

António Barreto disse, aqui, no Público de ontem, num artigo para ler na totalidade, isto:
Está assente a convicção de que a qualidade média do ensino em Portugal é má ou medíocre. São muitos os indicadores, nacionais e internacionais, a fundamentar tal percepção. As taxas de insucesso e abandono precoce são altíssimas. As notas médias nacionais dos exames de várias disciplinas são negativas. As que não são negativas são sofríveis. Há centenas de escolas com médias negativas em quase todas as disciplinas. Os conhecimentos dos alunos que terminam um ciclo ou um grau, em quase todas as disciplinas, são muito deficientes. A preparação dos estudantes, tanto técnica e profissional, como cultural e humanística, é insuficiente. Uma enorme percentagem de estudantes que chegam à universidade dá erros de Português, nada sabe de Matemática, conhece mal a História ou a Geografia. O ensino artístico é miserável.

domingo, 3 de dezembro de 2006

FLEXIGURANÇA

Um bom artigo para ler aqui, no Jornal de Negócios, de Isabel Meirelles. Destaco:

A União Europeia tem trazido muitas alterações aos hábitos e tradições portuguesas, para o melhor ou nem por isso, mas sempre a dar um abanão à gostosa inércia de raiz salazarista de que os outros, independentemente de quem quer que sejam, é que têm a responsabilidade de nos proteger e encaminhar ao longo da vida.
(...)
A questão, contudo, que se coloca é se é possível fazer um transplante de um modelo de "flexigurança" de um dador que é incompatível com o paciente, que se arrisca, assim, a morrer. Sabemos todos que a mentalidade e a predisposição laborais de um português não são exactamente iguais à de um dinamarquês, nem sequer aproximadas, nomeadamente em características como o rigor, organização, pontualidade, transparência e tantas outras que para os orgulhosos vikings são genéticas e que para os lusitanos vão levar gerações a adquirir. Em qualquer caso, é certo que há que abanar o sistema instalado, mais que não seja para fazer jus ao aforismo popular de que se não morrer da doença, morre da cura.

sábado, 2 de dezembro de 2006

E OS EX-COMBATENTES? MAIS UMA VEZ, COMO SEMPRE, ALDRABADOS E DESPREZADOS

Pelos políticos. E os militares do dito quadro permanente, como sempre, usaram e esqueceram!
Adorei ver os militares "passearem" a sua inutilidade. Só espero que os ex-combatentes elucidem a família e os amigos para que abram os olhos e percebam bem a qualidade dos (nossos?) políticos e do valor dos militares do quadro permanente. Os ex-combatentes já pagaram um preço muito elevado pela sua cidadania exemplar e que nunca foi reconhecida. Não têm de continuar a pagar para sustentar quem os não merece.
Portugal está a chegar ao fim.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

SOBRE O ESTADO, NO OUTRO HEMISFÉRIO

Do Jorge Gajardo Rojas, sempre com a devida vénia, transcrevo um post.


EL ESTADO PROTECTOR
El estado nos protege y nos exige.Nunca la ecuacion es perfecta.O se le exige que nos proteja y no se quiere que nos exija.En Argentina me queda una sensacion rara.Que espera una sociedad del estado?.Tomemos su caso .El Estado tiene gran ingerencia en la vida de las personas.Fija los precios de los productos.Interviene en las reglas del comercio exterior de los privados.Es el que contrata la mayoria de los creditos en el exterior.El aparataje publico es grande.Solo el teatro Colon tiene mas de 1000 empleados,el gas y el petroleo son estatales,lo mismo muchos otros servicios basicos, com la educacion y la salud.Politicamente hay funcionarios que dependen de servicios no solo nacionales sino provinciales,mas los municipios.Los riegos , no delegar muchas cosas que la sociedad puede hacer por si misma como emprender,como construir desde nuevos edificios hasta como prevenir el futuro economico cuando ya no se trabaje.La educion superior es estatal gratuita,bien por lo primero siempre que el que reciba el servicio actue siendo un buen profesional con sentido social de devolver lo que ha recibido ,seamos realistas devolverlo en parte.Pero un monopolio de Universidades publicas no siempre garantiza calidad si los involucrados(los profesores) se sienten solo burocratas y empleados y los estudiantes seres más o menos responsables de estudiar.Pero si no se pagan nada aun pudiendo hacelo?.Como se la arregla el aparato productivo agricola,si los precios aunque referenciales son sugeridos por el estado?Ventajas del sistema.Una mayor seguridad psicologica,siempre se sabe que el Estado como un padre generoso se hara cargo de nosotros.Pero un estado no puede ver todo,incluyendo las cosas que se deterioran como las carreteras,pasando por la salud mental de sus ciudadanos( y su mejoria)si lo hace el estado debe correr con todos los costos iniciales.Quien realmente paga?,el estado en principio,pero al final pagan todos,si los impuestos son bajos o insuficientes,el estado debe poner plata de sus reservas.Por eso me quedan dudas en un modelo tan especial,amen del poder desproporcionado que adquieren los funcionarios y la dificil parte del control ciudadano sobre la eficiencia de los servicios.Con todo lo bueno de una sociedad muy humana queda la duda si los privados no deben ponerse en carrera con sus propios medios y no esperar que otros corran la carrera de su vida por ellos .La comparacion entre las sociedades chilena y argentina es interesante porque ambos modelos a ultranza necesitan equilibrios.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

A REFLEXÃO DA ESTRATÉGIA NAS MATERNIDADES

Hoje ouvi falar no encerramento da maternidade de Amarante. A questão do encerramento das maternidades em si não me choca. Já por aqui o disse e porquê. Agora o que me decepciona é que em termos de estratégia nacional é um desastre. E, ainda pior, é que o sinal que é dado ao país é desmoralizador. Ausência de estratégia para o país, governação por impulsos e ao sabor dos humores de alguns actores medíocres. E, como no caso de Elvas, ir-se a ESPANHA nascer ainda piora o cenário, porque nos acirra o cotejo com a Espanha e faz-nos ver a péssima qualidade de quem nos governa. Em Espanha ainda só houve três primeiros-ministros constitucionais. Por cá não nos têm faltado aprendizes de feiticeiros que têm levado o país para a igovernabilidade, ou seja, para o fim da viabilidade de Portugal como ESTADO. E ninguém é chamado à responsabilidade. E os portugueses não se revoltam. Já nem se indignam. Já só são apáticos.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

CADA UM DE NÓS TEM O SEU GÓLGOTA

Só que há uns que o têm com a rampa muito mais inclinada do que outros. Hoje coloco aqui uma velharia que escrevi há uns anos para os Amigos e Pais das Crianças Deficientes, e que foi publicada aqui em Ponta Delgada no "Açoriano Oriental", se não me falha a memória. Foi escrito para um momento. Mas a imagem mantém-se

PIETÁ

Numa destas manhãs invernosas, em que o aconchego uterino dos lençóis é um apelo candente, tive uma visão distante de um sonho sublime. Eu vi uma Mãe com o seu filho de 5 anos carregado nos braços. Eu vi uma Mãe como suporte único de seu filho deficiente de uma paralisia cerebral. Eu tive a visão de Cristo nos braços de sua Mãe após ter sido apeado da cruz. Eu vi uma mãe grávida transportando no seu regaço grávido de nova vida seu filho deficiente. Numa brumosa manhã a vi, algures nos Arrifes, a caminho de uma escola normal onde seu filho é depositado e desamparado por uma hora diária. Numa brumosa manhã uma Mãe nos Arrifes sobe o Seu Calvário a caminho do monte Gólgata que será aquela singela escola normal. Não foi um sonho. Eu vi uma Pietá. Não a beleza marmórea de Miguel Angelo encerrada entre outros tesouros no Vaticano. Mas a Pietá real, a sofredora, com o seu Cristo nos braços, também ele vitima de erros de avaliação com objectivos pouco claros de popularidade política, tal como Jesus o foi de Pilatos há 1967 anos atrás. Também hoje, como há quase dois mil anos, há algures um político que igualmente lava as mãos do problema. Ele não tem filhos deficientes. Ele não quer saber da Pietá viva.
Mas eu vi uma mãe que carregava com Amor o seu filho sofredor. Eu não tinha braços para carregar o seu fardo. Eu não tinha lágrimas para chorar a sua dor. Eu não tenho imolação para arcar com os seus sofrimentos. Ninguém tem. Você, leitor, que tem filhos sãos e escorreitos, talvez ainda não tenha sentido a intensidade do drama pela simples razão de que os “média” se inibem de o informar. Talvez nunca tenha tido a visão que eu tive. Mas leitor, se não podemos arcar com o fardo, podemos suavizar o Calvário. Está nas nossas mãos sermos solidários e não nos acobardarmos, evitando que um qualquer sócio de partido político, empoleirado num gabinete para onde foi alcandorado por estranhos enigmas, destrua um ambiente físico com infra estruturas adequadas a suavizar o sofrimento de vítimas inocentes bem como o dos seus entes queridos. Numa manhã de bruma eu vi uma mãe que arrostava a sua gravidez carregando nos seus frágeis braços o seu filho para uma escola normal, transformada em Calvário pela insensibilidade de um decreto que não especificou os interesses que lhe eram subjacentes. Numa manhã de bruma eu chorei pela minha impotência, dominado pela raiva que sentia por nós todos que ainda votamos em abstracções, que são os partidos que nomeiam homens insensíveis e sem noção alguma de “res publica”. Nessa manhã de bruma eu vi Cristo nos Arrifes desprezado por políticos que ninguém escolheu, transportado por sua Mãe que o amparava com carinho das lanças que lhe cravaram no seu indefeso corpo enquanto lavavam as mãos da responsabilidade da sua inerência. Eu vi Cristo pregado pelas mãos de um secretário regional por não equacionar condignamente uma verdadeira política regional no âmbito de Educação Especial, e pela apatia de todos nós. Que Deus nos perdoe a nós todos (secretário inclusivo) pela maneira como tratamos o seu Filho. Tentemos todos reparar o erro em conjunto e harmonia tendo em vista o exemplo de Cristo. Bem hajam as pessoas de bem
.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

A ASSUMPÇÃO DA ESTAÇÃO

Reparei que aqui, em Lisboa, as pessoas assumem as estações pela data do calendário de forma absoluta. Não está frio. Neste momento até está calor. Mas quase todas as pessoas andam vestidas com agasalhos da época. Alguns até daqueles almofadados. E andam dentro dos centros comerciais aquecidos com eles vestidos. Isto dirá alguma coisa das caracteristicas dos portugueses? Sujeitam-se a ditames com muita facilidade. Não raciocinam nem se sentem.
E tenho muita pena das criancinhas atafulhadas de agasalhos. Que, lógicamente, andam sempre constipadas e engripadas. Já nem aguentam uma simples corrente de ar.

sábado, 25 de novembro de 2006

MAS O MEDO EXISTE, DE FACTO.

Elísio Estanque, hoje, aqui no Público. Destaco este trecho:
«José Gil definiu o país pelo Medo de Existir. Mas o medo existe, de facto. Medo do possível despedimento ou do estatuto de "excedentário", do tratamento desfavorável, da desconsideração, da pequena "vingança". As pessoas sentem uma grande falta de segurança e estabilidade. Isto, associado aos baixos níveis salariais, favorece a inibição, o retraimento e a crispação. Num clima geral onde quem triunfa é em geral o "yes man", espera-se que todos nos comportemos como tal. Continuamos a debater-nos com necessidades primárias por cumprir. E a segurança é uma delas. Por isso também no mundo empresarial prolifera uma mentalidade que é avessa à mudança, à iniciativa individual, à inovação tecnológica e à inovação social e organizacional. As lideranças são em geral medíocres e por isso favorecem a mediocridade e o carreirismo, cego e seguidista, quer nas contratações, quer nas avaliações e promoções de quadros e subordinados. O peso dos micropoderes nas instituições burocráticas e nas empresas continua a alimentar situações de opressão que asfixiam a dignidade individual, a autonomia e a criatividade. Como trabalhador e como cidadão, o sujeito individual é suprimido ou esconde-se na esfera privada, inibindo por sua vez a emergência de novos sujeitos colectivos. Porque sem liberdade e iniciativa individual não é possível construir empresas competitivas, comunidades cosmopolitas e uma "esfera pública" dinâmica e exigente

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

O PAÍS TEM NECESSIDADE DE SUSTENTAR MILITARES, QUE SERVEM PARA NADA?

Claro que não. E o passeio do descontentamento não passou do passeio da própria inutilidade. Mas para não ser só eu a dizê-lo, leiam, aqui, o excelente artigo do José Miguel Júdice, no Público. Também podem ler o Vasco Pulido Valente que dá no alvo. Mas do Júdice destaco aqui alguns trechos:

« ... Mas sabe o amável leitor que paga impostos que, em 2004, Portugal dedicou 2,3 por cento do PIB a despesas militares? E não acha estranho que a República da Coreia, estando onde está, só gastasse 2,4 por cento? E alguém o informou de que a Irlanda - apesar da ameaça de situações de crise real na fronteira norte - só dedicou às tropas 0,7 por cento? E imaginava que países como a Itália, os nórdicos, a Bélgica e a Holanda estão todos eles claramente abaixo de Portugal? E que o pequeno e pobre país que todos sabemos que é a Alemanha aplicou apenas 1,4 por cento do PIB a custos de Defesa? Ou que a Espanha, apesar do terrorismo basco, se ficou pelos 1,1 por cento, ou seja, menos de metade do que se gastou (ou delapidou) neste país tranquilo e pacífico à beira mar plantado?
(...)
O caso das Forças Armadas é, a este título, paradigmático. Não faz qualquer sentido o que se gasta com Defesa e Forças Armadas. É indispensável fechar e vender quartéis, reduzir investimentos, mandar para o quadro de supranumerários muitos excedentários, reformar ou negociar a saída da função pública de oficiais, sargentos e praças, estabelecer como objectivo para Portugal aquilo que serve para a Irlanda: reduzir, e muito rapidamente, de 2,3 por cento para 0,7 por cento do PIB o nosso Orçamento da Defesa.
Durante muito tempo se falou, e eu fui um deles, da libertação da sociedade civil como uma condição do progresso económico e social. Chegou a hora de termos a coragem e a lucidez de defender que, com as mesmas motivações, temos de nos libertar da sociedade militar, aproveitando para outras funções - no Estado e fora dele - as pessoas que se tornaram redundantes ou desnecessárias. A menos que se ache que temos de nos armar para nos defendermos de uma invasão espanhola. »

PORTUGAL É UM PROBLEMA GENÉTICO. HÁ GENES QUE NÃO FUNCIONAM BEM (1)

Este é um dos que não funcionam. E não é funcionar mal, pois não funciona mesmo nada. Não se prestam contas nenhumas. Há só teatralização dessa função.
«Prestar contas não é apenas mostrar as despesas e as receitas, assim como a respectiva honestidade ou falta dela. É também mostrar o que se faz e o que se não faz. Se se fez bem ou mal. Se se fez tudo o que deveria ser feito ou não. Se os resultados são os previstos ou perversos. Se, da acção de um organismo público, resulta melhoria para a população e o país, ou se, pelo contrário, nada de bom acontece ou as situações pioram. Prestar contas equivale a ser avaliado em todos os aspectos da acção e da gestão. Tem de se mostrar o que se gastou, onde, como, porquê e quanto.»
António Barreto, aqui, no Público de Domingo passado.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

ABANDONO ESCOLAR


Ontem o Perez Metelo, numa das suas crónicas que ouço com atenção, referiu-se ao grave problema do abandono escolar. E dos seus reflexos negativos na economia. A crónica seguiu por aí.
Mas eu quero introduzir um outro parâmetro. A semana passada, em conversa com uma jovem que não fez o 9ºano, fui inquirindo-a sobre o tema e tentando levá-la a pensar na melhoria da sua situação laboral se prosseguisse os estudos. A resposta dela, que foi pronta, era que não valia a pena prosseguir estudos, porque com ela trabalhavam na empresa de limpeza duas jovens com a universidade, a ganhar o mesmo que ela e nas mesmas condições.
E agora se ela tem razão? Num país onde a Esperança não existe. Onde se emigra novamente com fluxo idêntico aos dos anos 60. Onde os portugueses se sujeitam a ir trabalhar em regime de quase escravatura para os cínicos holandeses, que gostam de dar uma imagem de tolerância e de defesa de valores dos direitos humanos. Onde vão os jovens arranjar emprego?
O Expresso, no Sábado passado, na Única, apresentava um artigo sobre os jovens que fazem doutoramento e pós doutoramento, mas que nunca têm emprego. Altamente qualificados, mas o país não os quer. Há sempre a solução da emigração. Que país é este que apresenta todos os dias os piores indicadores nos mais variados sectores e que despreza os mais qualificados? Porque é que o Perez Metelo não referiu este problema? Porque é que os empresários não gostam de trabalhadores com habilitações, e só preferem os iletrados para pagarem pouco? Que, aliás, é a única estratégia do empresário português. Inovação e desenvolvimento não faz parte dos seus objectivos. Só os negócios dependentes de subsídios do Estado é que lhes interessam, pois as suas estratégias estão focadas na teta do Estado.
Para quê estudar? Só se for para emigrar. E o melhor mesmo, é fugir de Portugal.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

MEGAFONE SOLIDÁRIO

Ouvi ainda há pouco, num noticiário de uma rádio, uma jornalista a dizer, numa reportagem sobre o protesto dos estudantes de Belas Artes, o seguinte: «estão agora acompanhados de um megafone; vejo também ali uma panela e uma colher.»
O megafone, como qualquer bom megafone, é solidário e, como tal, foi-lhes fazer companhia. E o que me dizem do momento alto protagonizado pela panela e pela colher?
Portugal é isto. Este é o nível da informação, em geral, em Portugal. Será que ainda não perceberam porque é que nós estamos como estamos? Querem mais explicações?

terça-feira, 21 de novembro de 2006

REACÇÃO


Passei 3 dias sem colocar nenhum post. Esperava alguma reacção ao post anterior. O tema era polémico. A existência de um cadastro político dos deputados, e não só, era um tema que eu julgava que não era consensual. E não me iludo, pois não o é. O que é consensual é a apatia geral. As pessoas já não reagem. Já só esperam que o céu lhes caia em cima.
Pois não perdem pela demora. Vai cair. E vai ser duro para todos, pois cego não é o que não vê, mas o que não quer ver. E os portugueses estão a não querer ver. E nem o D. Sebastião vão ver.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

TRANSPARÊNCIA POLÍTICA

Há uns tempos recebi um mail do Brasil. Que me levava até um site onde se colabora na transparência da vida pública no Brasil. Nele se pode ver o cadastro politico de cada deputado e o que fazem, e como, pela coisa pública. E se também se fizesse o mesmo em Portugal?
Transcrevo parte do mail e o site. Vão até lá e constatem se não nos faz falta algo igual.
«Corrupção zero é uma coisa que já penso faz tempo. Mas não sabia ao certo qdo nem como falar sobre isso. Chegou a hora. Vou fazer do meu jeito. Mas não registrei esse nome, ele não me pertence. Todos deveriam entrar nisso, falar disso, cobrar isso. Como? Eu não sei. Eu vou fazer uma coleção de camisas corrupção zero, é pouco mas é o que eu sei fazer. Vou também tentar convencer o máximo de pessoas ao meu redor. E vou tentar votar o mais certo possível. Pra isso eu conto com um site que mostra bem quem é quem – http://perfil.transparencia.org.br/ Vale a pena entrar. Mostra cada processo que essas excelências estão enfrentando. Mostra qto gastam e como gastam suas verbas. Mostra qtas sessões frequentam. Pode ajudar. Fico aguardando que as diversas entidades que entraram em contato comigo se organizem e marquem uma grande manifestação contra a corrupcão. Irei a todas. É minha obrigação como cidadão. E levo meu filho pra ensinar a ele a ser um também.Queria muito agradecer às inúmeras manifestações de apoio. Se o meu assalto e essa consequente exposição indesejada tiver servido pra alguma coisa, por menor que seja, já tá valendo. Tá todo mundo disposto a entrar com uma cota de sacrifício pro Brasil entrar no eixo. Eu tô. E já entrei.fred»

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

PORTUGAL REFÉM DOS POLÍTICOS


Hoje ouvi no Jornal da Tarde da RTP 1, a jornalista Rosa Veloso dizer, já no fim de uma reportagem sobre o doutoramento do General ramalho Eanes, o seguinte:
«Acima de tudo Ramalho Eanes deixa um grande desafio aos portugueses: que não se deixem ficar reféns nem dos políticos, nem dos partidos

Pois senhor Eanes, saiba que muitos portugueses pensam o mesmo.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

ASPIRAR, ASPIRA-SE

«Em 1910, Portugal era um país pobre, sem riquezas naturais, com um mercado reduzido, situado na periferia da Europa, com uma população largamente analfabeta e com uma elite que aspirava a viver de acordo com os padrões de vida da Europa

Filomena Mónica, in “A Queda da Monarquia – Portugal na Viragem do Século”


Em 2006 continua quase na mesma, com a diferença que há uma parte da população que julga que o país é rico e que pode sustentar vencimentos e reformas chorudas à custa dos impostos que os sempre pobres pagam.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

ANEXO, ANEXA OU SITIADA?

«Alguns fenómenos recentes, como as células terroristas, ou os tumultos que têm sacudido as noites nos bairros periféricos das principais cidades francesas, parecem, finalmente, começar a acordar as elites. A cada novo incidente, a forma habitual de os partidos políticos resolverem o assunto com os dirigentes das comunidades imigrantes, garantindo-lhes autonomia em matéria de religião e de costumes a troco de votos em tempo de eleições, revela-se mais obsoleta. Os imigrantes e a sua descendência tornaram-se, entretanto, uma componente irreversível da população europeia. Mas a Europa ainda está na ilusão de que se trata de um anexo, construído para uma emergência
Diogo Pires Aurélio, aqui no DN

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

SE ATÉ CAMÕES O DISSE……….

Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais do que pera mandar, os Portugueses.

Lusíadas, Canto X, 152.

Eu tenho vindo a dizer isto, por mim ou através de citações de outros. E ele, Camões, que já estava a sentir e a viver o início da decadência portuguesa, percebeu o que restava para Portugal: ser mandado. E como sempre iria ser, já então se admirava o lá fora.
Lord Palmerston, 300 anos depois dirá: «Aproxima-se o momento em que seremos obrigados a desferir outro golpe na China. Esses governos semicivilizados como os da China, Portugal e América Espanhola precisam todos de uma limpeza cada oito ou dez anos, para os manter em ordem. Os seus cérebros são demasiado ocos para conservarem uma impressão por um período mais longo e de nada serve avisá-los. Pouco se importam com palavras e não só precisam de ver o pau mas também de o sentir nas costas para obedecerem.»

Não sei se repararam, que na Europa só Portugal. Camões precedeu em temor o que Palmerston consagrou, e que nós continuamos sentindo. Está no nosso âmago?

domingo, 12 de novembro de 2006

SÍNTESE DO PROBLEMA

«Perigosamente reduzido a um partido alicerçado na Administração Pública, com sólidas bases ancoradas nos sistemas educativo, de saúde e autárquico, o partido e o governo vêem-se agora obrigados a reduzir efectivos, despedir, congelar recrutamentos, diminuir vencimentos, baixar as pensões e cortar nos privilégios colaterais. Mais uma vez, desfaz o que fez. Se persistir, até ao fim do mandato, nas políticas que tem anunciado, terá de ir muito mais longe e prestará, talvez, insignes serviços às finanças públicas. Mas deixará destroçada a sua clientela, os seus militantes, as suas bases e o seu eleitorado. Pelo contrário, se, como é hábito, não for tão longe quanto é necessário e enveredar pela demagogia prévia ao segundo mandato, tornará inúteis os sacrifícios actuais e voltará a deixar em crise o Estado social. Ou, mais simplesmente, o Estado
António Barreto, hoje aqui, no Público

sábado, 11 de novembro de 2006

SE NÃO FORMOS CASTIGADOS PELA IGNORÂNCIA NA ESCOLA, SÊ-LO-EMOS NA VIDA ADULTA

"Se não formos castigados pela ignorância na escola, sê-lo-emos na vida adulta."
Esta frase, de um comentário feito num blog pelo meu amigo Pedro “Noise”, complementa aquela outra: “Ensinar mal custa tanto como ensinar bem, só que sai mais caro”.
Podia divagar por aí abaixo. Apetecia-me bater em muita gente. Mas já me cansa bater tanto nos mesmos temas. Hoje deixo as duas frases para meditação. Meditem. Meditem. Não alcançarão o Nirvana, mas entenderão bem porque é que o país está assim, encalhado num fosso.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

VAGUEIAM TRISTES, MELANCÓLICOS E INDOLENTES

Os portugueses estão apáticos. Dois partidos, alternadamente, fizeram um somatório de asneiras que pôs o país no estado catastrófico em que se encontra. Dois partidos, alternadamente, prometeram resolver os problemas, aldrabando sempre os eleitores. O que é um facto que está no âmago dos partidos portugueses, aldrabar. E como são constituídos pelo que de pior existe na sociedade portuguesa, que são os aldrabões, outro resultado era impossível. Tarde ou nunca. Parece-me que já é muito tarde. E nunca é a solução dos problemas de Portugal.
Por isso os portugueses andam amargurados, tristes e acabrunhados. Hoje ouvi aqui em S. Miguel, um trabalhador que vai ser despedido, ao pedir 1 mês e meio de indemnização em vez de um, falar em esmola. Para a entidade patronal dar esse meio mês como esmola. Já não são capazes de reivindicar. Não reagem. Não protestam. Não exigem responsabilidades a quem colocou o país neste estado. Aceitam tudo com indolência e acabrunhados. Os portugueses só querem esmolar. Se lhes derem qualquer coisinha acomodam-se. Sempre se acomodaram. Depois queixam-se, ou melhor, nem se queixam, lamuriam. Se se queixarem, queixem-se deles próprios. Quem amocha, aguenta. E merece tudo o que lhe dão.
Ai, se ao menos se revoltassem uma vez na vida …….

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

NEM TODOS SABEM, NEM TODOS.

«Para ensinar há uma formalidade a cumprir – Saber.» Eça de Queiroz

Ele há tanta gente por aí sem cumprir esta formalidade.

Hoje, se fosse vivo, faria anos Carl Sagan, autor da frase que serve de mote a este blog. Ele era um homem de SABER. A sua sabedoria ainda nos permite, e permitirá, tomar conhecimento do saber ou de como o alcançar. Ainda de “Um Mundo Infestado de Demónios” transcrevo mais um trecho.

«Os antigos Jónios foram os primeiros de que temos conhecimento a afirmarem sistematicamente que são as leis e as forças da natureza, e não os deuses, as responsáveis, pela ordem e mesmo pela existência do mundo. Nas palavras de Lucrécio, «A natureza, liberta do jugo dos seus senhores altivos, faz todas as coisas espontaneamente, por si só, sem a interferência dos deuses». Porém, excepto na primeira semana dos cursos de Introdução à Filosofia, os nomes e as ideias dos primeiros jónios quase nunca são mencionados na nossa sociedade. Aqueles que põem de parte os deu­ses tendem a ser esquecidos. Não ansiamos por preservar a memória desses cépticos, e muito menos as suas ideias. Os heróis que tentam explicar o mundo em termos de matéria e de energia podem ter surgido muitas vezes em muitas civilizações, só para serem esquecidos pelos sacerdotes e filósofos que tinham a seu cargo a sabedoria convencio­nal, tal como a abordagem jónica se perdeu quase por completo depois da época de Platão e Aristóteles. Com muitas civilizações e tentativas deste tipo, é possível que só em raras ocasiões a ideia ganhe raízes.
As plantas e os animais foram postos ao serviço do homem e a civilização só teve início há 10000 ou 12000 anos. A abordagem jónica tem 2500 anos. E foi quase eliminada por completo. Podemos ver passos em direcção à ciência na China e na Índia antigas, bem como noutros lugares, embora vacilantes, incompletos e produzindo menos frutos. Mas imagine-se que os Jónios nunca tinham existido e que a ciência e a matemática gregas não se tinham desenvolvido. Seria possível que a ciência não tivesse aparecido na história da espécie humana? Ou, dada a grande quantidade de civilizações e o emaranhado de alternativas históricas, não é provável que a combinação exacta de factores se tivesse verificado noutro sítio qualquer, mais cedo ou mais tarde – nas ilhas da Indonésia, por exemplo, ou nas Caraíbas, nas imediações de uma civilização meso-americana não alcançada pelos con­quistadores, ou em colónias escandinavas nas margens do mar Negro?Julgo que o impedimento ao pensamento científico não é a dificul­dade do tema. Até nas civilizações oprimidas se verificam proezas intelectuais complexas. Os xamãs, os mágicos e os teólogos são alta­mente dotados nas suas artes imbricadas e secretas. Não, o impedi­mento é político e hierárquico. Nas civilizações onde não existem desafios desconhecidos, externos nem internos, onde não é necessária uma alteração fundamental, as ideias novas não precisam de ser enco­rajadas. Na realidade, as heresias podem ser declaradas perigosas, o pensamento pode tomar-se rígido; e podem ser aplicadas sanções con­tra as ideias proibidas – tudo isto sem provocar grandes danos, Mas, em circunstâncias ambientais, biológicas ou políticas que sofreram, alterações e que se encontram em mutação, a simples cópia dos antigos usos já não funciona. Nessa altura há um prémio à espera daqueles que, em vez de se limitarem a seguir a tradição, ou de tentarem impor as suas preferências sobre o universo físico ou social, estão abertos ao que o universo ensina.
Cada sociedade tem de decidir onde se encontra a segurança no continuum entre abertura e rigidez

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

SEM ESPERANÇA

Duas pessoas que prezo, professoras, fizeram comentários em blogs sobre a falta de empenho dos seus alunos para com práticas ambientais. Que ao serem confrontados com a informação das consequências futuras das más práticas ambientais, terão respondido que tal já não era para eles.Chocados? Eu não. Só reflectem a falta de esperança. Eles são adolescentes que sempre foram criados num país já em crise profunda, em que os pais já subsistem no desespero, transmitindo-lhes uma ambiência de desesperança. Eles não têm futuro. Eles não têm esperança. A resposta deles exprime isso

terça-feira, 7 de novembro de 2006

NUNCA ALCANÇAREMOS EMENDA

«Em tais condições, diminuída nas fontes produtivas e administrada com desleixo, não podia a exploração do acervo, terra e trabalho humano, em que consistia a indústria régia, manter-se em estado próspero. As receitas cedo deixaram de cobrir as despesas, e foi necessário inventar novos meios de produção. Até à expulsão final dos mouros, o despojo das guerras de conquista, preen­chia a diferença. Faltando este, o recurso imediato e mais favorável, de que se lançou mão, foi o das altera­ções da moeda. Desde o reinado de Afonso III, talvez de antes, trocar a que andava em circulação por outra de menos valor intrínseco, cunhada para o fim, tornou-se fonte de receita ordinária. Para evitar os transtornos e perdas que da extorsão derivavam, conveio-se em Cortes renunciar o monarca à prática, mediante um tributo.Mas o acordo pouco tempo se observou. E foi com des­prezo dele, como se nunca o tivera havido, que D. Fer­nando e D. João I lograram financiar as suas guerras.
Outro manancial de receitas facultavam os pedidos, tributo suplementar eventual, exigido aos povos, quando a necessidade ocorria, e os empréstimos forçados; mas nenhumas das contribuições poderia ser produtiva senão a largos intervalos. Ambas tinham sido imposições locais, dos senhores, em suas terras; constituídas, por fim, em direito exclusivo da coroa, que vedou àqueles, com penas, extorquirem por esse meio quaisquer somas aos povos.De carácter permanente foi o tributo das sisas, imposto de que também o monarca esbulhou em pro­veito da realeza os concelhos.
»
J. Lúcio de Azevedo, in " Épocas de Portugal Económico"

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

EM ORDEM

Não sei. Não sei se está tudo em ordem. Ou na ordem. Também não sei onde está o caos. Eu simplesmente não sei. Assim como não sei se este universo é de único verso. Só conhecemos neste verso um planeta que habitamos. Este universo é, para a nossa sabedoria, um caos ordenado. A sua ordem ultrapassa todas as leis científicas do planeta, ou os habitantes do planeta não ultrapassam a sua capacidade limitada de conhecer. Mas neste verso do universo deste planeta há harmonia. Tudo se coordena em harmonia. Como uma sinfonia perfeita. No princípio era o verbo. No fim a apoteose da execução harmónica.
Neste planeta a caminho de um caos momentâneo, há demasiada verborreia que impede a audição harmónica. A desafinação das cordas tenderá a vibrar num tom telúrico. Após a afinação, então, estará no horizonte a ordem que possibilitará tentar-se tocar harmonia.

domingo, 5 de novembro de 2006

VAGUEAVA

Vagueava por S. Catarina. Sem abrigo das transversais de Santa Catarina ou de outras paragens mais para o lado da Ribeira. Passeava entre casais com os filhos. Sábado de compras. De castanhas assadas. Também já foi casado. Mas sobreveio o divórcio destrutivo. A seguir o desemprego, sem que ele tenha contribuído para a falência da empresa. Deixou de estar, deixou de ter, deixou de ser. Aos quarenta e sete anos a sociedade, o país diagnosticou-lhe velhice. Então é que perdeu mesmo a dignidade, pois essa doença incapacitante para o trabalho, destrói o que resta de auto-estima. Deambula pelo Porto. Já nem sequer tem pachorra para tentar deambular por Lisboa. Alguns que se cruzam com ele fazem por não o reconhecer. Outros não o reconhecem mesmo, tal a transformação que as vicissitudes da vida lhe impuseram. Também já todos lhe são indiferentes. Até a família. Deambula quase abstracto. Nos andares lá de cima estarão muitas pessoas. Todas solitárias. Muitas relacionando-se com as telas dos seus PCs, comentando no tom do politicamente correcto tudo e todos. Vigiando a manutenção dos seus interesses, mas incapazes de um gesto solidário com quem deambula pela cidade sem ter onde se abrigar. Só os voluntários lhes levam algo, incluindo o carinho de uma palavra. Também ele já morou num andar e tinha um PC. Também comentou sem solidariedade nenhuma. Deixou de ter, deixou de ser, deixou de estar. Deixaram-no.

sábado, 4 de novembro de 2006

OS OUTROS

São todos aqueles que nos aborrecem ou nos enternecem. Mas se calhar são-nos indiferentes. A nossa sociedade hoje é egoísta. Hoje vivemos quase todos virados para o nosso umbigo. E somos críticos. Demasiado críticos para os pecados que cometemos. O que faz desta sociedade um conjunto hipócrita. Exigem, mas em nada contribuem. As pessoas tornaram-se demasiado egoístas ao ponto de darem demasiada importância a ninharias que julgam contribuírem para o seu status e valorização social. E desprezam o que é importante para elas e para os outros. Já não são solidárias. Nem para o próximo nem para o distante. Se politicamente correcto, contribuem só com dinheiro, que julgam que compra tudo, incluindo as sua próprias consciências. Nunca contribuem com carinho nem ternura, nem com um gesto de solidariedade. Nem para os seus próximos. Mas criticam, até os seus próximos. E sobretudo desprezam. Sobretudo desprezam.
Até um dia. Aquele em que irão começar a pagar a factura. Porque esse dia vai começar mais cedo do que a voragem do seu exibicionismo social lhes permite apreender. O ângulo do umbigo é demasiado estreito.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

JÁ ANDO IRRITADO COM ESTA DISCUSSÃO DO ABORTO

Desde logo porque se fala em despenalização e não em descriminalização. Tiram a pena e mantêm o crime. Ridículo. Patético.
Mas quero já dizer que eu, por concepção da moral e princípios de ética, sou contra o aborto, mas sou totalmente a favor de que as pessoas, se assim o entenderem, o façam em plena liberdade.
A Igreja Católica que defende, e bem, por razões doutrinais, a existência da vida e, por isso, é anti-aborto, age mal quando tenta impedir pela força a prática do aborto. A Igreja deveria limitar-se ao seu papel de elucidar sobre o bem e o mal. E depois cada um agiria em consciência. Mas não consegue fugir à sua vocação fundamentalista de obrigar as pessoas a não pecar à força. E desde sempre. Por isso é que para salvar a alma de pecadores lhes destruía o corpo nas fogueiras das inquisições, com ou sem ofício de santo tribunal. Age mal a Igreja e dá sinais errados aos seus seguidores, e aos não seguidores, sobre a bondade no e do Evangelho.
Depois também a hipocrisia de muitas pessoas que não tendo filhos, não tendo intenção de contribuir para os ter, porque é de sua natureza serem avessos a isso, fazem campanha contra o aborto, o que não ajuda nada a clarificar a questão.
Também a hipocrisia geral de quem não toma atitude nenhuma de cidadania, piora a situação. À mistura com uma série de dramas sociais, de vária índole, que vagueiam pelo país.
Finalmente não entendo tanto alvoroço, porque o problema resolve-se bem em Espanha, e ainda por cima É MAIS BARATO do que em Portugal. Deveria ser possível fazer o aborto em Portugal, em sã liberdade e em perfeitas condições, mas seria ou vai ser sempre muito mais caro do que em Espanha. Os actos médicos em Espanha são mais baratos do que em Portugal, apesar de lá se ganhar melhor e a economia ser muitíssimo melhor do que a portuguesa. Vá-se lá a saber porquê.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

SUPÉRFLUO

«Todo o mal provém não da privação, mas do supérfluo.» Fernando Namora

INDIA

«A Índia é um país difícil de caracterizar e os Indianos não são de defi­nição fácil, sobretudo numa altura em que se assiste a uma transição que os transporta das sombras da História para o esplendor de um mundo no limiar da globalização. Este livro é uma tentativa de dar a perceber quem realmente somos, no contexto do nosso passado e enquadrados no futuro. É uma tarefa difícil e arriscada. A Índia é um país demasiado grande e diversificado para permitir classificações generalistas, por motivos de con­veniência. Todas as generalizações encerram excepções notáveis. Todas as semelhanças encerram diferenças significativas.

(…)

Actualmente, a Índia parece estar no limiar de uma descolagem, mas as razões para tal extravasam a euforia da actual vaga de «bem-estar».,
Ao analisar-se um povo que esteve, durante milénios, no centro da História, não é possível traçar um cenário definitivo. Nem tudo pode ser bom, tal como nem tudo pode ser mau. O desafio consiste em fazer uma espécie de ba­lanço, que tenha como base os pontos fortes basilares de um povo, e em defen­der a tese de que, apesar das evidentes fraquezas, os pontos fortes irão prevalecer. A cultura, a história e a estrutura da sociedade desempenham um papel fundamental neste balanço, bem como a inerente resistência do povo, as suas ambições e asPirações. Há ainda que contar com o nosso inex­plicável talento para vencer dificuldades, embora muitas vezeS de forma atabalhoada, com a nossa capacidade de transformar fraquezas em for­ças e, evidentemente também, com uma sempre necessária dose de sorte.

(…)

O objectivo deste livro é tentar fazer uma análise nova e comple­tamente diferente do que significa ser indiano. Tal análise assume, nos dias de hoje, particular relevância, não apenas para a Índia, mas para o mundo no seu conjunto. No século XXI, um em cada seis seres humanos será indiano. É muito provável que a Índia venha a tornar-se a segunda maior sociedade de consumo do mundo, com uma classe média constituída por mais de 500 milhões de pessoas e dotada de poder de compra. A economia indiana é já a quarta maior do mundo, em termos de paridade do poder de compra. Situa­-se no grupo dos dez países com maior produto interno bruto. Sendo -a maior democracia do mundo, é também uma potência nuclear, estando convicta do seu direito de se tornar membro per­manente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Além disso, há mudanças significativas a decorrer rapidamente em todo o subcontinente. Dispondo de mais licenciados do que toda a população da França, a Índia está a reconquistar o reconheci­mento mundial das suas competências na área das tecnologias de informação. Prevê-se que a exportação de software proporci9pe uma facturação de mais de 5 O milhares de milhões de dólares ame­ricanos no espaço de poucos anos. A diáspora indiana é, a seguir à chinesa, a segunda maior do mundo. A comunidade indiana emi­grada nos EUA surge como a mais rica de todas e as comunidades de indianos, noutros países, são cada vez maiores, mais importantes e abastados, como sucede no Reino Unido e nos estados do golfo Pérsico. Quer o resto do mundo queira ou não, ser-lhe-á difícil não ter de interagir com indianos, de muitas formas, no novo milénio.»
Pavan K. Varma, in "A Índia no Século XXI"

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

E AINDA MAIS SOBRE O PORTUGAL-ESPANHA

Não posso deixar de incluir neste blog um artigo saído ontem, aqui, no Público. Para reflexão.

«E a Espanha aqui tão perto
sem fronteiras

1.Fernando Neves, o embaixador português que exerceu até Julho passado as responsabilidades de secretário de Estado dos Assuntos Europeus e que, há quase 30 anos, levou a Bruxelas a carta formal com o pedido de adesão de Portugal à então CEE, recordou uma velha história das negociações dos dois países ibéricos que reflecte bem o modo como cada um deles se vê a si próprio e aos outros. Pouco depois dos pedidos formais, uma delegação da Comissão Europeia veio a Madrid e a Lisboa para elaborar o chamado "fresco" da situação dos dois países - primeiro passo para determinar a estratégia negocial. Quando aterrou em Lisboa, vinda de Madrid, a primeira coisa que um dos seus membros disse aos portugueses foi o seguinte: "Acabámos de chegar da primeira sessão das negociações das Comunidades Europeias com a Espanha." Fernando Neves contou esta história em Cáceres, na semana passada, durante uma conferência organizada pela Junta da Extremadura com o lema A Casa Comum Europeia, 20 anos que mudaram Espanha e Portugal. Pouco depois, o seu parceiro de debate, o embaixador Javier Elorza, certamente um dos diplomatas espanhóis com mais experiência europeia, confirmaria, provavelmente sem querer, a moral desta história. Sem sequer pestanejar, Elorza, que esteve em Bruxelas à frente da representação espanhola durante muitos anos, explicou como foram os dois países ibéricos (foi simpático, mas estava certamente a pensar na Espanha) que ofereceram à Europa uma política externa. O mais interessante é que isto nem sequer soa a arrogância, parece apenas reflectir uma ilimitada autoconfiança de um país que, ao libertar-se do franquismo e ao integrar-se na Europa e na NATO, não mais deixou de se sentir determinado, seguro e confiante.
2. A economia corre-lhe bem. Bem demais, quase me atreveria a dizer, depois de ouvir, na mesma conferência de Cáceres, José Luís Malo de Molina, director-geral do Gabinete de Estudos do Banco de Espanha, explicar as razões do longo ciclo de expansão económica da Espanha, que soma e segue. Com um excedente orçamental e uma dívida a rondar os 40 por cento, muito abaixo da média europeia, a economia espanhola está a crescer duas vezes mais do que a média da zona euro, graças sobretudo ao investimento. A redução acentuada do desemprego (que foi muito alto nos anos 90, graças aos ajustamentos estruturais da economia) andou a par com um crescimento muito forte da população, devido sobretudo à imigração (a Espanha passou de 40 milhões para 44 milhões de habitantes entre 1999 e 2005), que representa hoje cerca de 10 por cento da população activa. Como sublinhou o economista do Banco de Espanha, a emigração ajudou a criar emprego e ajudou a aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho, reduzindo acentuadamente a taxa de desemprego. O reverso da medalha é um crescimento moderado da produtividade, que exigirá agora novas prioridades políticas. Há sempre um reverso da medalha, mas há medalhas melhores que outras, e a grande conclusão que se pode tirar da exposição de Malo de Molina, mas também da de Felipe González que, com Mário Soares, abriu os trabalhos da conferência, é muito simples: a Espanha soube lucrar enormemente com o euro porque se preparou para ele flexibilizando a sua economia. Colocado perante uma pergunta sobre as razões do sucesso económico prolongado de Espanha, Malo de Molina apontou razões das quais todos nós já suspeitávamos. A continuidade das políticas económicas dos governos González, Aznar e Zapatero e, sobretudo, a continuidade das reformas. "O que foi fundamental foram as transformações das estruturas económicas de Espanha para se adaptar. Em Portugal foi mais lento", diria também Felipe.Foi isso precisamente que nos faltou, prepararmo-nos para o euro. "Portugal não interiorizou as exigências da moeda única. Nem o Estado, nem os sindicatos, nem as empresas", como disse Francisco Sarsfield Cabral, a quem coube a ingrata tarefa de contrapor a situação económica portuguesa à espanhola. E o problema é que continua a ser muito difícil fazer mudanças em Portugal. O debate é pobre, o Estado é omnipresente e paternalista, a sociedade civil fraca.
3. A conferência foi organizada no âmbito da Ágora, uma iniciativa anual da Junta da Extremadura que só por si reflecte o dinamismo de uma região espanhola que é das menos ricas mas que percebe que tem tudo a ganhar abolindo a fronteira que a separa de Portugal. A ideia era justamente comparar os caminhos percorridos pelos dois países - divergências e convergências - e ver se entre ambos havia interesses comuns suficientes e uma visão suficientemente partilhada para poderem pesar positivamente numa Europa hoje mergulhada numa profunda crise de destino.Em muitas coisas, os dois países convergem. Para começar, nalgumas das suas prioridades externas e na vontade de levar a Europa a agir de forma mais convincente e unida no Mediterrâneo ou na América Latina. Ambos têm o mesmo interesse vital em manter-se no "centro" da construção europeia, seja qual for o domínio da integração, da economia à defesa. Ambos procuraram (com a excepção, em parte, de Aznar) alinhar as suas políticas europeias pelo eixo franco-alemão, pelo menos enquanto funcionou como o motor da Europa, ou pela Alemanha, que funciona agora e cada vez mais como o pólo da integração. Mário Soares juntou a este património europeu comum a convergência das políticas internas, graças à identificação ideológica entre os dois primeiros-ministros socialistas, Sócrates e Zapatero, para defender em Bruxelas uma união política assente na coesão do seu modelo social. Há muito de comum entre os dois países ibéricos na forma como vêem a Europa, que radica precisamente na sua experiência feliz de integração europeia. Como sublinhou Álvaro de Vasconcelos, também em Cáceres, ao contrário do que se passa em muitos outros países, não estamos a sofrer dos males da xenofobia e do nacionalismo, não tememos os alargamentos, não somos contra a Turquia, acreditamos na força dos valores europeus. Mas esta crise europeia, como muitos participantes também sublinharam, de Felipe a Carlos Gaspar ou a Gil Robles, não é uma crise como as outras. Nem é, muito menos, apenas uma crise constitucional. A Constituição era boa, disse Felipe, mas não resolveria os problemas de fundo. Que estão mais na "agenda de Lisboa", ou melhor, no relativo fracasso de um bom diagnóstico e de uma boa estratégia, do que nas soluções institucionais.António Vitorino colocaria as coisas do mesmo modo. O problema maior é que não há um acordo sobre o que deve ser a Europa no século XXI. Há duas visões da identidade europeia - uma com Turquia e outra sem Turquia. Há duas visões da Europa sobre a sua relação com o mundo globalizado - uma que a vê como um projecto que nos protege dos ventos da globalização e que transpõe para a União Europeia o velho proteccionismo nacional. Outra que só vê um novo sentido para a Europa se nos permitir agir globalmente, económica e politicamente, com todas as consequências que isso tem nas políticas internas. Europa fortaleza ou Europa aberta? Eis o dilema europeu. Vitorino deixou também um bom conselho: "A melhor maneira de se ser optimista hoje, na Europa, é começar por ser pessimista."

terça-feira, 31 de outubro de 2006

UM PAÍS MENOS ALEGRE

No "SOL", de 14.10.2006, por josé António Saraiva

«A atracção pela morte é um dos sinais da decadência. Portugal deveria estar, neste momento, a discutir o quê? Seguramente, o modo de combater o envelhecimento da população. Um país velho é um país mais doente. Um país mais pessimista. Um país menos alegre. Um país menos produtivo. Um país menos viável - porque aquilo que paga as pensões dos idosos sãoos impostos dos que trabalham. Era esta, portanto, uma das questões que Portugal deveria estar adebater. E a tentar resolver. Como? Obviamente, promovendo os nascimentos
Isto é estratégico. Mas como eu venho dizendo, em Portugal nenhum governante tem uma visão de estratégia, nem sequer uma ideiazinha do que isso é.
E o meu amigo Pedro "N" diria que isso é um problema porque há muita mal amada. No que eu também concordo. Se ele fosse ouvido com mais atenção, poupava-se muito dinheiro e muita frustração.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

EXCEPÇÕES

Já repararam na percentagem de sinais de trânsito, de proibição, que têm acoplado uma tabuleta com excepções à proibição que ostentam? E se julgam que isto não tem nada a var com o país, enganam-se. Tem tudo. Um país onde nada se cumpre e nada é para cumprir.

domingo, 29 de outubro de 2006

PROPONHO UM EXERCÍCIO TEÓRICO


Vamos supor uma estrada a que atribuo um valor de cem mil contos, apenas para poder atribuir, proporcionalmente, valores a outras operações relacionadas. E tudo num quadro sem inflações, para não ter de entrar com grandes cálculos financeiros e económicos de que não sou mestre.
Posto isto passemos ao exercício.
Uma estrada de custo de cem mil contos. Necessitaria de uma manutenção anual de dois mil contos e, em cada dez anos, uma manutenção extraordinária de vinte mil contos. O que daria que, se não houvesse aumento de tráfego rodoviário que justificasse uma expansão, a estrada se mantivesse sempre operacional nas devidas condições.
Mas a realidade em Portugal daria outras contas. Primeiro não custaria cem mil contos,mas sim uns 130 mil contos, porque há as comissões a que as construtoras estão sujeitas pela benesse da adjudicação, que já subiu de 3% para 5%, e por isso se defendem na “derrapagem” dos custos, onde incluem as moras nos pagamentos das tranches.
Depois nunca se orçamenta e se gasta dinheiro nas pequenas manutenções. Há que aplicar noutros foclores, porque para o “povo”. Logo a estrada começaria a deteriorar-se em progressão geométrica, o que levaria a que no sexto ano de vida tivesse de ter uma intervenção de manutenção de 50 mil contos. Se tivesse tido uma manutenção normal o custo no décimo ano seria de 40 mil contos. Mas há que contar também com os prejuízos que todas as viaturas que por lá circulariam iam sofrendo por utilizar a estrada. E também contar com o prejuízo sofrido pelo que ficaria por fazer, porque como não orçamentavam nada para a manutenção, quando fosse inevitável fazê-lo, iriam tirar dinheiro que estava orçamentado para outra função qualquer, prejudicando esses objectivos.
Tudo isto resultaria numa conjugação de prejuízos que, normalmente, não vejo contabilizados.
Isto não passa de um mero exercício teórico, mas com certeza reflecte como em Portugal se gere mal a res publica, ou seja, a coisa pública.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

PAGADOR UTILIZADOR. HÁ DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS?

Rui Moreira escreve hoje um artigo no Público, aqui, onde me suscitou a questão do pagador utilizador. Ele terminou assim:

Fica a ideia que a decisão foi tomada porque promete um encaixe potencial de milhões para os cofres do Estado. Ora, se há um problema orçamental que limita o investimento público, é lícito perguntar por que é que este mesmo Governo insiste em obras faraónicas que não são sequer consensuais. Pior, fica-se com a ideia, numa altura em que as nossas contas públicas não as aconselham, que essas obras induzem esta política precipitada, que escapou a uma análise de custo e benefício global. É pena, porque a questão das Scut é séria e escuda-se no princípio tão em voga do utilizador-pagador que deveria suscitar, por uma vez, uma discussão profunda sobre as funções do Estado.

Ora eu ponho outra questão. A do pagador utilizador. Se os bem pensantes dos governos falam amiúde em utilizador pagador, eu, pensando bem, invoco o conceito de pagador utilizador. Se eu pago impostos para o Estado é para ser utilizador de serviços que o Estado me devia prestar. Se quem utiliza deve pagar, logo quem paga deve utilizar. Só que os melros dos governos entendem que devem ser utilizadores dos nossos dinheiros, mas que não nos devem prestar serviços, porque querem utilizar esses dinheiros em mordomias e prebendas, sem serem obrigados a prestar serviços. Entendem que o dinheiro dos impostos é para pagar ordenados e outras coisas lá à malta que vive do Estado e que o cidadão se quiser os serviços porque já pagou, o deve pagar novamente no acto da prestação do serviço. Dois pesos e duas medidas. Ai este país.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

PARA REFLECTIR PROFUNDAMENTE

António Barreto, no artigo " SEM FIM À VISTA",que escreveu para o Público, aqui, encerrou assim:

O Ministério da Educação e os sindicatos de professores são os maiores obstáculos e os mais temíveis inimigos da educação. Coligam-se de vez em quando e daí vem prejuízo para os estudantes e seus pais. Guerreiam-se a maior parte do tempo e daí resultam danos para os estudantes e seus pais. Enquanto estes adversários não destroçarem, não conheceremos progresso educativo e cultural.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

REPENSAR. REPENSAR

De uma amiga, no Brasil, recebi, por email, esta carta. E fiquei inquieto. Com a prestação das duas gerações que me precederam, com a minha e com as duas seguintes. Ainda estou a reflectir.

DIGA NÃO A REELEIÇÃO


CARTA PARA O CHICO BUARQUE
28.10, 0h - sugestão para repetir neste dia
por José Danon, no Estadão

Chico, você foi, é e será sempre meu herói. Pelo que você foi, pelo que você é e pelo que creio que continuará sendo. Por isso mesmo, ao ver você declarar que vai votar no Lula "por falta de opção", tomei a liberdade de lhe apresentar o que, na opinião do seu mais devoto e incondicional admirador, pode ser uma opção.

Eu também votei no Lula contra o Collor. Tanto pelo que epresentava o Lula como pelo que representava o Collor. Eu também acreditava no Lula. E até aprendi várias coisas com ele, como citar ditos da mãe. Minha mãe costumava lembrar a piada do bêbado que contava como se tinha machucado tanto.
Cambaleante, ele explicava: "Eu vi dois touros e duas árvores, os que eram e os que não eram. Corri e subi na árvore que não era, aí veio o touro que era e me pegou." Acho que nós votamos no Lula que não era, aí veio o Lula que era e nos pegou.

Chico, meu mestre, acho que nós, na nossa idade, fizemos a nossa parte. Se a fizemos bem feita ou mal feita, já é uma outra história. Quando a fizemos, acreditávamos que era a correta. Mas desconfio que nossa geração não foi tão bem-sucedida, afinal. Menos em função dos valores que temos defendido e mais em razão dos resultados que temos obtido. Creio que hoje nossa principal função será a de disseminar a mensagem adequada aos jovens que vão gerenciar o mundo a partir de agora. Eles que façam mais e melhor do que fizemos, principalmente porque o que deixamos para eles não foi grande coisa.
Deixamos um governo que tem o cinismo de olimpicamente perdoar os
companheiros que erraram" quando a corrupção é descoberta.

Desculpe, senhor, acho que não entendi. Como é, mesmo? Erraram? Ora, Chico.
O erro é uma falha acidental, involuntária, uma tentativa frustrada ou malsucedida de acertar. Podemos dizer que errou o Parreira na estratégia de jogo, que erramos nós ao votarmos no Lula, mas não que tenham errado os zésdirceus, os marcosvalérios, os genoinos, dudas, gushikens, waldomiros, delúbios, paloccis, okamottos, adalbertos das cuecas, lulinhas, beneditasdasilva, burattis, professoresluizinhos, silvinhos, joãopaulocunhas berzoinis, hamiltonlacerdas, lorenzettis, bargas, expeditovelosos, vedoins,
freuds e mais uma centena de exemplares dessa espécie tão abundante, desafortunadamente tão preservada do risco de extinção por seu tratador.
Esses não erraram. Cometeram crimes. Não são desatentos ou equivocados. São criminosos. Não merecem carinho e consolo, merecem cadeia.

Obviamente, não perguntarei se você se lembra da ditadura militar. Mas perguntarei se você não tem uma sensação de déjà vu nos rompantes de nosso presidente, na prepotência dos companheiros, na irritação com a imprensa quando a notícia não é a favor. Não é exagero, pergunte ao Larry Rother do New York Times, que, a propósito, não havia publicado nenhuma mentira. Nem mesmo o Bush, com sua peculiar e texana soberba, tem ousado ameaçar jornalistas por publicarem o que quer que seja. Pergunte ao Michael Moore. E
olhe que, no caso do Bush, fazem mais que simples e despretensiosas alusões aos seus hábitos ou preferências alcoólicas no happy hour do expediente.

Mas devo concordar plenamente com o Lula ao menos numa questão em especial:
quando acusa a elite de ameaçá-lo, ele tem razão. Explica o Aurélio Buarque de Hollanda que elite, do francês élite, significa "o que há de melhor em uma sociedade, minoria prestigiada, constituída pelos indivíduos mais aptos"
Poxa! Na mosca. Ele sabe que seus inimigos são as pessoas do povo mais informadas, com capacidade de análise, com condições de avaliar a eficiência e honestidade de suas ações. E não seria a primeira vez que essa mesma elite faz esse serviço. Essa elite lutou pela independência do Brasil, pela República, pelo fim da ditadura, pelas diretas-já, pela defenestração do Collor e até mesmo para tirar o Lula das grades da ditadura em 1980, onde
passou 31 dias. Mas ela é a inimiga de hoje. E eu acho que é justamente aí que nós entramos.

Nós, que neste país tivemos o privilégio de aprender a ler, de comer diariamente, de ter pais dispostos a se sacrificar para que pudéssemos ser capazes de pensar com independência, como é próprio das elites - o que, a propósito, não considero uma ofensa -, não deveríamos deixar como herança para os mais jovens presentes de grego como Lula, Chávez, Evo Morales, Fidel - herói do Lula, que fuzila os insatisfeitos que tentam desesperadamente escapar de sua "democracia". Nossa herança deveria ser a experiência que acumulamos como justo castigo por admitirmos passivamente ser governados pelo Lula, pelo Chávez, pelo Evo e pelo Fidel, juntamente com a sabedoria de poder fazer dessa experiência um antídoto para esse globalizado veneno.
Nossa melhor herança será o sinal que deixaremos para quem vem depois, um claro sinal de que permanentemente apoiaremos a ética e a honestidade e repudiaremos o contrário disto. Da mesma forma que elegemos o bom, destronamos o ruim, mesmo que o bom e o ruim sejam representados pela mesma pessoa em tempos distintos.

Assim como o maior mal que a inflação causa é o da supressão da referência dos parâmetros do valor material das coisas, o maior mal que a impunidade causa é o da perda de referência dos parâmetros de justiça social. Aceitar passivamente a livre ação do desonesto é ser cúmplice do bandido, condenando a vítima a pagar pelo malfeito. Temos opção. A opção é destronar o ruim. Se o oposto será bom, veremos depois. Se o oposto tampouco servir, também o destronaremos. A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotar-se na memória de nossas novas gerações.

Aí, sim, Chico, acho que cada paralelepípedo da velha cidade, no dia 29 de
outubro, vai se arrepiar.

Seu admirador número 1,

Zé Danon


José Danon é economista e consultor de empresas